9 de fev. de 2019

A caixa de sapatos




     Existem tantas coisas que nos deixam perplexos, fatos que são grandemente comentados, às vezes lhes damos valor alto sem ao menos mensurar o seu significado para alguém.
   Há situações que nos tornam muito ricos e felizes, mesmo sem ter o dinheiro nos sentimos poderosos, assim como dizia Immanuel Kant:
“Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter.”
     Em um tempo repleto de atribulações, catástrofes, acidentes, corrupção, e outros acontecimentos, que nos levam a esquecer de que há algo melhor acontecendo ao nosso redor.
     Em um dia nublado, com temperatura baixa, observei um senhor que estava de bicicleta, no bagageiro de trás havia uma caixa de sapatos, pelo tamanho era de adulto, percebi que o homem, a todo instante olhava para trás para ver se tudo estava bem. Passei a prestar mais atenção nos detalhes, a caixa estava amarrada com elástico, tudo bem atado para que ela não se movesse.
Observei o carinho e cuidado que era dispensado à caixa, o amor era inegável, e o que eu via me deixava feliz, pois com certeza, o que estava na caixa era de muito valor.
Minha mente começou a imaginar muitas coisas, juntamente com a curiosidade, tentei manter minha caminhada para não ultrapassá-lo, pois estava decidida a saber o que havia de tanto valor ali.
  Eu parecia estar sendo exigente comigo mesma, me condicionando ao tempo daquele senhor desconhecido, que até lembrei-me de Clarice Lispector quando disse:- “Amo e adoro tudo o que é simples, tanto que às vezes pareço exigente!”
Não percebia o tempo passar, pois ele estava pedalando muito devagar, e, eu caminhando lentamente, a caixa havia me dado muita inspiração, ela com certeza estava transportando valioso tesouro, algo impagável com dinheiro, tanto carinho, atenção, amor, cuidados, o que seria?
Constatei que eu estava me sentindo feliz, por fazer parte daquele desconhecido acontecimento. Ficou ali, provado que a felicidade é uma condição que independe de dinheiro, eu estava valorizando muito aquele fato, e valorizar e preservar suas conquistas é outro modo de ser feliz. A caminhada e pedaladas continuavam e, a cada instante diminuíam mais, eu sentia que estava sendo indiscreta, que a minha bisbilhotice poderia me causar problema, pois o senhor já havia notado minha curiosidade, o que não o fez cessar com os cuidados com o conteúdo da caixa. Ele continuava muito feliz, dava para ver em suas atitudes. Eu estava pertinho da caixa, mas ainda assim, não conseguia identificar o que era. Uma caminhada e algo tão simples transformaram minha maneira de agir, de pensar, pois até sorri ao me perceber assim. Os momentos foram valiosos para mim, o padre Fábio de Melo falou algo semelhante ao meu pensamento:-
   “Há momentos em que a luz miúda nos revela muito mais que mil holofotes. Chega de vida complicada. Eu preciso é de simplicidade.”
E a simplicidade estava na minha frente, literalmente, me trazendo um momento muito feliz.
A felicidade havia me contagiado, me permiti ser feliz no instante que percebi as demonstrações de carinho do homem para com a caixa,  ou melhor, para com o conteúdo da caixa.
 Pela distância percorrida, deduzi que aquela caminhada ia ser imensa, por isso decidi perguntar o que havia na caixa.
Sabia que não seria mal interpretada, pois o semblante dele era de calma e cuidado.
- Senhor, posso saber o que leva de tão precioso nesta caixa?
Aproximei-me e percebi que a caixa estava cheia de furos para que o ar entrasse. O senhor me olhou e sorriu largamente.
Claro que pode, só não vou abrir, mas pode olhar pelos furos maiores, é um filhote de cachorrinho, acabei de ganhar, vou dar de presente ao meu filho. Ele está doente e este pequeno cãozinho o fará feliz.
Reforcei a ideia de que para ser feliz é preciso espalhar felicidade. Percebi a felicidade nos pequenos detalhes e atitudes do senhor, que pedalava lentamente a sua bicicleta dispensando grande cuidado com um pequeno cachorro, que levava  em uma caixa de sapatos, naqueles detalhes simples, pequenos, mas de um valor incalculável percebi que estava feliz.

16 comentários:

  1. Que lindo conto relato e concordo que não precisamos nada de rebuscamentos pra felicidade entrar. Uma caixa, um cachorrinho, um carinho...LINDO! Adorei! bjs, chica

    ResponderExcluir
  2. Que lindo, que emoção, desde o primeiro momento que comecei a ler, percebi que tinha mesmo algo assim, que maravilha que é isso, poder prestar atenção nas coisas, pessoas, tudo a nossa volta, tens essa capacidade, eu também faço isso, até ao ler fiquei sorrindo, eis eu aqui também nessa linda jornada de não perder detalhes e coisas boas e simples da vida!
    Querida amiga, ganhei meu dia te lendo, tens uma sensibilidade ímpar, apesar que eu já sabia disso, confirmei aqui!
    Abraços bem apertados!

    ResponderExcluir
  3. Uma linda história de amor aos animais!
    Amei ler amiga.
    Bjs-Carmen Lúcia.

    ResponderExcluir
  4. Não está só bem escrito o seu texto, mas contém uma imensa ternura…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
  5. Que bela surpresa deve ter tido o menino, quando seu pai chegou a casa!
    Que fofura, o presente!
    Gostei do texto!
    Bjo

    ResponderExcluir
  6. Bom dia, cara Marli!
    Que fofa situação. Terno texto. Realmente... o pouco, com Deus é muito.
    Ei, moça!
    Olha eu aqui de novo! Sei que ando meio sumida mas tem um motivo: estou correndo atrás de conseguir juntar os vinténs pra operar meu carcinoma de tireóide.
    Tem nova postagem lá em meu cantinho. Ficarei feliz com sua visita e comentário, sempre tão gentis.
    Sei que já estamos em Fevereiro mas como é minha primeira postagem de 2019, desejo que este ano seja supimpa pra você, pra mim, pra todos nós.
    Te espero por lá, ok?
    Abração pra você! :)

    ResponderExcluir
  7. Belo texto. A felicidade está em pequenos momentos.
    Bom restante de semana!

    Jovem Jornalista
    Fanpage
    Instagram

    O blog está em HIATUS DE VERÃO até o dia 23 de fevereiro, mas tem post novo. Comentarei nos blog amigos nesse período.

    Até mais, Emerson Garcia

    ResponderExcluir
  8. Conseguimos compreender melhor o que é simples, então suspiramos a felicidade e retribuímos o nosso melhor também. beijos

    ResponderExcluir
  9. OI MARLI!
    A FELICIDADE É ASSIM, SE MANIFESTA NAS MENORES COISAS E ATÉ NO QUE NEM NOS TOCA DIRETAMENTE MAS, É ALGO GRANDIOSO E IRRADIADA PELO AMOR POR ISSO, ATINGE MUITA GENTE.
    LINDO TEU TEXTO.
    ABRÇS
    https://zilanicelia.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  10. Marli por uma lado deduzi da tua curiosidade,factor de engrandecimento intelectual, por outro lado, como julgo que a nossa maior riqueza é possuir o que o que nos traz felicidade e não riqueza material, esta acaba sempre por escravizar. Portanto como sempre as tuas crónicas são tendentes a definir um pensamento que anima, por ser ser bem coerente.
    Beijos

    ResponderExcluir
  11. Olá, Teresinha!

    Que texto tão terno, tocante e carinhoso, para além de mto bem escrito! Parabéns!

    De facto, a felicidade, o segredo para ser feliz está na simplicidade, mas muitos julgam o contrário. E assim é, pke alguns daqueles k têm mto dinheiro acabam se suicidando, pke já experimentaram de tudo e pagaram tudo e todos, mas a felicidade, raramente, existiu.

    Esse homem, que transportava, zelosamente, a caixa de sapatos na bicicleta, levava ali um pedacinho de grande felicidade para seu filho, k estava doente. Em seu rosto se via alegria e como você, mtas pessoas devem ter observado a face do bom homem. É tão simples ser feliz e fazer alguém feliz!

    Grata por sua visita e tão inteligente comentário.

    Beijos e boa semana.

    ResponderExcluir
  12. Lindo o que nos conta!..Texto formado com muita simplicidade, mas pleno de ternura.Gostei muito.
    Um abraço.
    Élys

    ResponderExcluir
  13. Querida Marli, como o cotidiano nos presenteia com observações que se transformam em textos belíssimos! Teu texto tão terno, tão curioso que faz bem ao coração de quem lê!
    Aplausos, amiga, gostei muito!
    Grande beijo, como já é tarde, amanhã voltarei e lerei o último!

    ResponderExcluir

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...