17 de jun. de 2017

Em tempo de São João

Cresci vendo a fogueira ser montada, ser acesa e queimada, espetáculo que se repete todos os anos com a festa do Padroeiro do bairro São Pedro. Neste ano, será a 82ª. fogueira a ser acesa. Aproximadamente na década de 60, meu pai tinha um caminhão Chevrolet e o Sílvio Melo, filho do seu Romualdo, possuía outro. Os dois dirigiam até o Trabuco, onde meus avós tinham um sítio, havia uma equipe de voluntários que ia junto, para lá cortarem a lenha para a fogueira, eles saiam de casa bem cedinho, levavam comida e passavam o dia no mato trabalhando, tudo acontecia nos finais de semana. Meu avô, Estácio, fez a doação de lenha por muitos anos.Aos domingo, as crianças podiam assistir de longe o trabalho, que era extremamente árduo, porém, recompensador. Meu pai tinha um armazém e ainda trabalhava como marceneiro, sua profissão, entalhava móveis com muita perfeição o que o fez, por vinte e três anos. Na época da fogueira, ele às vezes, não podia estar junto com a equipe, pois precisava ajudar a minha mãe, no armazém, então ele mandava a comida para todos que estavam trabalhando para erguer a fogueira. As varas de eucaliptos eram compradas, mas não eram varas eram troncos enormes, como deviam ser para sustentar tão grande " Colosso". Em certa ocasião, um senhor doou as varas, eram muitas e grossas também, como o tempo estava muito chuvoso as varas ficaram por alguns dias à beira da estrada, no meio do barro. Em um sábado de muito frio e com geada, conseguiram emprestar o trator do Seu Madureira (gerente do banco INCO), foi colocado um reboque engatado no trator, as varas (muito grossas) estavam cobertas de gelo, o trabalho durou muitas horas e quando tudo estava pronto, o dono do trator chegou e recolheu-o, porque ele só admitia que o seu motorista usasse a máquina. É claro que tudo foi desfeito, e meu tio ( Ihor Andrukiu) me contou que a fome era desesperadora, tiveram que arrumar um caminhão e carregar tudo de novo. Já era noite, pois no inverno, o sol vai dormir mais cedo, e todos da equipe sabiam que ainda tinham que descarregar no pátio da igreja, dizem que São Pedro é muito bom, pois quando chegaram, o motorista fez uma manobra rápida, mas no lugar certo, sem ninguém mais sobre o caminhão, aí, arrebentaram-se sozinhas todas as cordas e, num segundo todas as varas estavam no chão. Contaram que todos aplaudiram agradecendo a São Pedro.
A equipe era composta por seu Osni Meyer, Seu Friedrich, Sílvio Melo, Ihor-Ivo Andrukiu, Seu Valdemar( conhecido como Piratuba), Levanir Fagundes, Pedro Celestino,Adelmo Menegasso , Carlos Drosdoski, Seu Ângelo Shwab, e meu querido pai. Tentei não esquecer nomes.
A fogueira começava a ser erguida e quando já estava em uma altura que não dava para alcançar, era passado uma roldana e assim puxada a madeira para cima, ela era toda reforçada com muitos arames, hoje são cabos de aço. O guindaste do batalhão sempre dava uma ajuda, certa vez foi colocado no guindaste uma vara enorme, foi fechado o gancho e começou a subir, a vara era tão alta que se tombasse pegaria muitas casas. De repente, todos perceberam que o gancho abriu, a vara ficou suspensa, o soldado que manobrava não mexeu em nada, ficou paralisado e todos pediram a São Pedro aos brados para que os ajudassem, e quando a vara começou a balançar o gancho se fechou sozinho, agradeceram de joelhos, eu acredito em milagres, mas este eu não presenciei, porém houve muitas testemunhas, até o soldado que manobrava o guindaste ficou sem fala.
Nessa época, a fogueira ganhava altura e chegou a 60 metros, dizem que passou um pouco, foi notícia no Jornal Nacional e no Fantástico.
Ah! Agora vem a peça chave, como acender a fogueira tão alta, o seu Schwab (meu pai sempre dizia que ele sabia fazer de tudo), hoje seria o Magayver, ele criou uma peça com dois fios elétricos que ia até o topo da fogueira, colocava uma resistência rodeada de místico (não é pólvora, seria como o pó do palito de fósforo) e estopa embebida em gasolina, embaixo uma mesa com um interruptor, que era acionado pelo convidado a acender a fogueira, assim ela era acesa.
Nesta foto, Seu Ângelo Shwab, é o que está usando boné, puxava as varas de bracatinga a cavalo, da propriedade do senhor Rafael Sosnowski , próxima à igreja do bairro, as quais eram emendadas para chegar à altura desejada. Todo o trabalho era feito com muita alegria e, em equipe.
As lembranças trazem saudades, hoje por medida de segurança ela fica entre 38 e 40 metros.

Era uma grande equipe e fazia sucesso, como nos dizia Murillo Cintra de Oliveira:-" O segredo de um grande sucesso está no trabalho de uma grande equipe".


11 comentários:

  1. Puxa, quantas lindas recordações essa data te traz. Muito legal e ainda sabes todos os nomes e detalhes todos! Vale muito! beijos, tudo de bom, ótimo São João! chica

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  2. Maravilhoso texto que, adorei ler.

    Bom Domingo
    beijos

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  3. Bom recordar os tempos idos, assim, com a saudade que se pode intuir da forma como a narrativa está feita. Muito interessante.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  4. OI MARLI!
    AI, ME DEU SAUDADES. TAMBÉM VIVI ESTA ALEGRIA, FOGUEIRA, INTERAÇÃO COM A VIZINHANÇA E O "DIA", ERA UM SONHO PARA A GENTE, TANTO É QUE LEMBRAMOS ATÉ HOJE NÉ AMIGA?
    MUITO BOM TEU POST.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  5. Impressionantes, Marli, a fogueira e o texto! E achei legal saber que aí no sul também se comemora o S. Pedro; eu achava que era uma festa restrita ao Nordeste. Boa semana, amiga!

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  6. MARLI, que texto maravilhoso e confesso , jamais imaginei que pudesse haver uma fogueira de festas juninas, sequer com a metade deste imenso tamanho.
    Incrível.
    Nesta fogueira dava para colocar e com folga todos os ladrões da lava-jato, começando pelo presidente Temer, segundo denuncia da Procuradoria Geral da União.
    Um abração carioca.

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  7. Olá, seu texto é fascinante, a ela junta a tradição da fogueira, pelas festas populares, horas de bom convívio com a vizinhança.
    Continuação de semana feliz,
    AG

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  8. Marli
    Fui protagonista de saltar fogueiras, em rapaz, atravessando altas labaredas, com grande animação, mas essas fogueiras essas fogueiras em nada se pareciam as que descreves. O combustível, era sempre erva seca, nos terrenos. Basta dizer que os santos populares, batem aqui no Verão. Em Lisboa, na geração de agora, há festas mas as fogueiras, ainda que bem pequenas, já morreram.
    Beijos

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  9. Saudades!!

    Acho tão legal essa época fogueiras.
    Algo mágico e alegre acontece.

    bjokas com carinho =)

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  10. Boa tarde amiga! Amei sua postagem, como sempre cuidadosamente elaborada.Deu saudade desse tempo que podíamos fazer uma fogueira e ficar com a família ao redor assando milho e com muitas brincadeiras. Um final de semana de muita paz e uma nova semana feliz e abençoada com muitas esperanças de dias melhores.
    Abraços da amiga Lourdes Duarte.

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