27 de jul. de 2019

A Influência da Leitura

Foto do Google


      O sol ainda não havia surgido e a pequena Laura já estava em pé, morava no bairro e estudava no centro da cidade, não havia meios de transporte para levá-la, sabia do seu compromisso e levantava cedo, preparava o seu café, pegava seu material escolar, tudo pronto na noite anterior, era muito responsável, os pais não precisavam cuidar do seu horário. Ela corria esperar as coleguinhas que passavam para irem juntas, eram em cinco, iam pela linha do trem até perto da escola. Naquela época a Maria Fumaça ainda era a senhora dos trilhos.
    As meninas não tinham medo de tempo feio, nem a chuva fazia com que elas perdessem a vontade de estudar, iam com suas galochas sobre a conga, pois não havia tênis ainda, capas de chuva e assim chegavam sem quaisquer resquícios da chuva.
 A biblioteca da escola era excelente, havia muitas coleções, muitos volumes.Laura se destacava nas leituras, pois em pouco tempo havia lido a maioria dos livros da Coleção Vaga-Lume.
    Um dos primeiros da coleção foi "Éramos Seis", da autora Maria José Dupré,a bibliotecária admirava a constância com que a menina relia essa obra, ela conseguia ler quase que um por semana, era uma leitora admirável. Quando ela leu a obra” Sozinha no Mundo”, do autor Marcos Rey,ficou extasiada, a cada intervalo de aula ela vinha comentar o que tinha lido sobre a menina Pimpa, personagem da história, e que estava desprotegida sem a mãe.
   O reboliço cultural aconteceu quando ela estava lendo “O Escaravelho do Diabo”, da autora Lúcia Machado de Almeida, quis pesquisar em vários livros para ter a certeza de que um simples besouro,inseto que ela gostava, estava envolvido em uma trama tão sórdida. Laura era assim mesmo, cheia de sonhos e a leitura a fazia viver em outros mundos.
   Em casa, a menina tinha muitas tarefas para fazer, e ainda auxiliava a mãe no serviço da casa, fazia tudo com muito cuidado, e a mãe a ensinava tudo que era necessário para ela saber se defender na vida. À noite, Laura tinha um bom tempo para ler, porém havia horário para dormir, pois sabia que levantar cedo era difícil, e quando o inverno chegava, na região sul, o frio era sempre rigoroso. Tinha bons agasalhos, mesmo assim, o ar gelado transpassava a roupa,e ao caminhar sentia o gelo quebrando sob seus pés, mas tudo era vencido com alegria. As cinco meninas estavam sempre dispostas e caminhavam muito.
    Na escola, era muito estudiosa,estava sempre em dia com as tarefas e suas notas eram excelentes.
Escrevia muito bem, criava belas estórias, burilava as palavras de uma maneira tão especial que as transformava em poesia. Havia uma professora que a chamava de “minha tracinha de livros”, penso que não existe o diminutivo desse inseto, traça, mas ficou mais carinhoso, pois ela comia livros.
O último livro que Laura leu enquanto estudava naquela escola foi, “O Mistério da Ilha Perdida”, ela chegou a organizar um teatro com o grupo de amigas. Foi um sucesso, o tempo de estudante dela foi como uma história sem fim.
 Seguiu os estudos e fez cursos para trabalhar em bibliotecas.
      Hoje, Laura trabalha como bibliotecária e escreve livros.

10 de jul. de 2019

Recordações que nos fazem chorar




     Na tarde de ontem uma senhora, a qual já é minha freguesa de roupas, que doo a ela e aos filhos, veio saber se eu tinha mais alguma peça, pois ela, às vezes consegue vender algumas para juntar um dinheirinho a mais.
 A filha adolescente veio junto, uma menina muito bonita que se bem cuidada seria uma princesa. Ela me contou que no final de semana haveria uma festa no salão do colégio para uma confraternização da turma, porque os alunos iriam para outros colégios e outros ficariam sem estudar.
Percebi que ela estava querendo me dizer mais com a sua história, e por isso lhe perguntei:-
     -E você está animada com a festa?
Ela ergueu seus lindo olhos cor de mel, e me respondeu:
    - Eu gostaria muito de ir, mas nem sapatos eu tenho, pois a mãe só compra tênis, que serve para a escola e outros lugares, mas para uma festa não. As meninas estão se preparando há muito tempo, por isso, nem penso mais no assunto.
   Olhei para a mãe dela, que estava de cabeça baixa, estava com vergonha do que a filha me contou. Acabei ficando sem graça e lhe disse que iria tentar ajudar, pedi a ela que passasse em minha casa no dia seguinte.
    Fiz o impossível para conseguir algumas roupas e sapatos, como não tenho filhos adolescentes, procurei uma amiga que tem duas meninas da mesma idade dela. Minha amiga ouviu a história e se comoveu, assim como eu. Acabei trazendo muitas roupas para a garota.
   Na hora marcada ela chegou em minha casa. Mostrei um lindo sapato, ela vibrou de alegria, aí fomos vendo as roupas. Tudo ficou maravilhoso, então pedi a ela, que no dia da festa viesse pronta para darmos um jeito no cabelo. Assim, no dia da festa ela veio com a mãe, estava mais linda do que eu havia suposto que ficaria. O cabelo um pouco preso para aparecer os brincos. Olhei a imagem dela refletida no espelho e minha mente viajou para uns anos antes, dizem que devemos controlar nossas emoções, mas nem sempre conseguimos, as lágrimas rolaram intensamente sobre o meu rosto, chorei e soluçando pedi desculpas e um tempo para me recompor. Ela me perguntou o porquê do meu choro tão sentido?
E, já mais calma e sem chorar contei a história, que naquele momento voltara em minha memória.
Eu fazia o curso de magistério e a formatura era organizada durante os anos em que fazíamos o curso, havia uma mensalidade para os gastos do dia da formatura, mas nestes gastos não entravam vestido, sapato, acessórios e arrumação de cabelo. A formatura era muito bem planejada, pois é um curso do qual saímos com diploma e já podemos lecionar, depois de quatro anos somos professoras, o curso superior vem após, mas muitas já estão trabalhando em escolas.
  No dia marcado, haveria missa e, em seguida a colação de grau, quando o pai acompanhava a sua filha. E lembro como se fosse hoje, uma colega chorando na porta da igreja, quando ela chegou com o pai, estávamos nos organizando para entrar na igreja em fila, e cada uma acompanhada pelo pai ou pela mãe. Quando ela viu que todas estavam bem arrumadas, e todas calçando sapatos pretos, ela soluçava, as nossas professoras foram tentar ajudar, mas não houve jeito, e nem dava mais tempo para nada, ela e o pai estavam de chinelos de dedo. Estavam bem arrumados, mas não tinham sapatos, quem sabe se ela tivesse nos falado ou confiado em alguma colega, tudo estaria arranjado, mas infelizmente o final foi triste, ela não quis entrar. Recebeu o seu diploma em outro dia, na Escola.
Este fato abalou a todos que ali estavam, jamais esqueci deste dia.
   Quem sabe se ela confiasse e aceitasse que outra pessoa arrumasse o sapato para ela, tudo ficaria bem. Sei que ela se formou e estava lecionando, mas nunca mais a vi. Ainda me dói na alma o que senti naquele dia da minha formatura. Éramos em duas grandes turmas e todas ficaram sabendo do ocorrido e tudo seria diferente se ela tivesse um par de sapatos, foi lamentável.

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...