6 de mar. de 2023

Na época das galochas

 



 

 Presenciei um fato, que me trouxe à memória um acessório, a galocha, que era usada sobre os calçados em dias de chuva. Principalmente as crianças, que gostavam de passar por dentro das poças, molhando assim, seu calçado.

Nem todos gostavam de usá-las. Era de borracha de cor preta. Não sei se havia, na época, outras cores. Ficavam bem, mesmo, com o uso de ternos.

Porém, havia o transtorno de onde guardá-las após chegar a um casamento, aniversário ou reunião, pois eram usadas com roupas sociais também.

Meu tio veio de outra cidade para o casamento de sua sobrinha e afilhada, sempre muito elegante, veio em época de muita chuva. É claro trouxe suas galochas, não entendi o porquê de trazer dois pares.

Todos estavam ocupados na preparação da festa do casamento. A igreja estava belíssima, era uma capela simples, porém ficou requintada com a bela ornamentação.

A hora do casamento chegou, a família e convidados à espera da noiva, na igreja.

Meu tio conduziria minha prima ao altar. Ela já estava aguardando dentro do carro, em frente à igreja. A chuva havia aumentado.

A hora passava e nada do meu tio aparecer. Não havia celular na época.

Meu primo foi até a casa para ver o que havia acontecido. Pasmem, ele estava calçando as galochas e desfilando em frente ao espelho para ver qual era mais ajeitada com o terno. Para mim, eram iguais, mas para ele não. Ele não queria que a galocha fosse notada, por isso tinha que ser semelhante ao seu sapato. Tudo certo, galocha escolhida, foram enfim, para a igreja.

As portas foram fechadas para a noiva chegar, meu tio se posicionou ao lado dela, a música começou. As portas foram abertas, e o casal surgiu, confesso que foi emocionante. Após alguns passos sobre o lindo tapete branco, meu tio ficou nervoso e pediu para parar. Ele havia esquecido de tirar as galochas. Foi hilário ver aquela cena. A maioria dos presentes não conseguiu segurar o riso.

Ele meio confuso apoiou-se em um banco e com cuidado tirou as galochas, outro problema, onde guardá-las?

Um senhor que estava rindo da situação disse a ele:

- Passe para mim, eu cuido delas para você.

O casamento prosseguiu tranquilamente.

Na sequência todos foram ao salão, ao lado da igreja, o qual estava lindo com flores do campo.

Os convidados estavam procurando seus lugares. E meu tio, (risos) procurando as suas galochas. O homem que as guardou não estava ali.

Meu pai estava ficando nervoso com o assunto. Falou ao meu tio:

-Pare de perturbar por causa de um par de galocha, se precisar eu lhe compro uma dúzia, mas agora aproveite o casamento de sua sobrinha.

Senti que ele havia se acalmado, mas ainda deixava transparecer sua ansiedade e aborrecimento.

A valsa dos noivos desativou um pouco a ansiedade dele. Todos queriam dançar com a noiva, o padrinho teve a sua vez, é claro. Neste tempo de dança contou à sobrinha o desaparecimento de suas galochas. Ela nem conseguiu ouvir toda a história, pois a música e o som da conversa estavam demasiadamente altos.

Hora de cortar o bolo, que foi feito pela comunidade, as fatias foram sendo distribuídas a todos.

Em toda festa ou reunião de amigos acontece algo inusitado, e neste casamento não podia faltar um fato para marcar a data.

O tio pediu um pedaço bem grande, pois gostava de doce.

Alguém secretamente, arrumou um prato enorme e lhe foi servido uma fatia de bolo dentro de suas galochas. Espanto!

Ele ficou sem graça e não entendeu a brincadeira (de mau gosto). A raiva fez seu rosto ficar muito vermelho. Muitos pararam de dançar para ver o que estava acontecendo. O riso correu solto, pura alegria.

Claro que ele não entendeu o motivo da graça, mas sim viu como humor negro.

A festa de casamento chegou ao final. Meu tio levantou-se bruscamente sob o olhar de todos, pegou as galochas e caminhou a passos largos, lá fora ergueu a mão com as galochas, e com muita força as atirou no rio. Havia bolo nelas e, por isso, ele ficou todo respingado de massa. Olhou-se e antes que começassem a rir dele, começou com uma bela gargalhada.

Ele ainda é vivo, e em cada festa de família o caso é contado. Ele com muita idade não esquece nenhum detalhe. E sempre complementa:

- Jamais usei galochas depois daquele dia fatídico.

4 de fev. de 2023

Lembranças com sabor de café

 


 

 

 

Passavam das 17h. Naquele dia, o frio estava mais intenso do que nos outros dias.

Olhei pela janela da cozinha, algumas folhas secas chocavam-se com as outras, poucos se arriscavam a sair de suas casas para jogar o lixo nas grandes latas colocadas nas calçadas.

Ajeitei um pouco mais o casaco contra o meu corpo, era hora de um café: pensei. Um café quente para mim sempre foi sinônimo de colo e aconchego.

Há um tempo, havia comprado uma pequena caneca esmaltada, de cor vermelha, com um pequeno coador branco fixado a um suporte, dava apenas para uma xícara de café, porém, para mim já era o suficiente. O gosto pelo café passado na hora, era muito particular era como uma bênção na hora exata. A sensação era maravilhosa, pois em instantes, a casa estava tomada por aquele aroma. Simplesmente incrível como uma pequena caneca e um pouco de pó de café podiam rescender pela casa toda.

Sentei-me na cadeira de frente para a janela da cozinha, entre um gole e outro, o aroma me levou para longe e por um momento, em um piscar de olhos, pude ver a minha querida mãe novamente, sentada ali comigo.

Foi dela que adquiri o gosto pelo café passado na hora.

Nossas conversas eram regadas a café e pão quentinho, com manteiga que derretia por todo o pão.

Ficávamos horas conversando, claro que a caneca e o coador eram maiores e de outro material.

Ela com frequência trazia sua cesta com novelos de lã, e sempre perguntava qual a minha cor preferida.

- Para que dessa vez, o que vai tricotar, mãe?

- Vou fazer um gorro, os dias têm sido mais frios, e não quero você reclamando de sinusite, (risos).

Eu apenas revirava os olhos feito criança e bebericava mais um pouco de café, no canto da boca um discreto sorriso, sentia a sensação de que era muito bom ser cuidada, mesmo com a idade que eu já estava.

Entre um ponto e outro, ela sempre olhava para a rua, para ver se o ônibus escolar já estava por perto, meu filho, seu neto, já estava na terceira série do ensino médio, o que significava que sua partida para outra cidade estava próxima. Ele iria estudar fora e teríamos que romper o cordão umbilical, o que com certeza, seria um pouco delicado.

- Mas como está demorando o ônibus! Já são quase seis horas, o que a gente faz?

Ela esperava pelo neto, ansiosamente.

Eu apenas sorria, enchia mais um pouco a caneca dela com café e continuava a ver seus pontos precisos, as agulhas se entrelaçavam rapidamente, dando forma a um novo gorro rosa, com detalhes em verde, já que eu não havia decidido a tempo que cor eu queria.

Eram tardes agradáveis, sinto falta do cheiro do café daquela época, que com certeza, possuía o sabor e aroma muito melhores, pois vinham com o aconchego de mãe.

O calor que trazia o fogão à lenha para a casa, o aconchego à mesa, as conversas com a minha mãe, são quase impossíveis de descrever. Sempre havia assunto, mesmo ela saindo pouco, sendo mais reclusa, ela sabia de tudo e mais um pouco, era incrível isso!

Talvez pelos anos em que ela trabalhou à frente do armazém da família, é... talvez fosse isso.

Olho para a minha pequena caneca, o café já está no fim.

Penso em fazer outro e continuar a divagar pelos anos em que eu conseguia ter a minha companheira comigo, minha querida companheira de café e prosa.

Hoje, o som dos ponteiros do relógio me ensurdece um pouco, ecoa não apenas pela casa, mas em meu coração.

O ônibus já não para aqui em frente de casa, os vizinhos já são outros e as árvores estão secando.

Mas, apesar de tudo o que o tempo vem me tirando, algo ele jamais irá conseguir, o aroma daquele café que eu tomava na companhia de minha mãe.

Levantei e coloquei mais água para ferver, pois seria bom continuar com as lembranças, que o café me trazia.

17 de jan. de 2023

Fogos de artifício

 



 

 

Em uma noite, daquelas típicas de inverno, em que se comemora a festa de São João com fogos e fogueira, havia muita gente na rua, outras nas janelas de suas casas, era uma época em que se soltavam balões. As crianças, ficavam ao longe sob os olhares dos pais, as luzes brilhavam no céu, estouros eram ouvidos a longa distância.

Uma menininha de um ano, fora colocada em sua cadeirinha, junto à janela para poder também, ver o brilho dos fogos e saber o porquê do barulho nas redondezas.

O tempo foi passando, a alegria era uma só, e a pequena criança sem muito entender, parecia querer ir lá fora, e junto festejar, juntava as mãozinhas e aplaudia no ar.

Em um dado momento, a mãe da pequena percebeu um grande clarão, que se fez em sua frente, não entendeu de imediato, e aos poucos tudo foi ficando escuro e o bebê iniciou um choro fortíssimo, a mãe, nada via para justificar tamanha dor nos gritos. Sentiu cheiro de algo queimado, percebeu que a criança apertava desesperada a roupinha contra o pescoço, foi então, que ela notou que um buscapé (peça de fogo de artifício que corre pelo chão, zigue zagueando, e termina em um estampido) estava grudado no pescoço da sua filhinha. Foi um tremendo susto. Nada acalmava a criança que foi levada às pressas, ao hospital. Era um tempo com menos recursos. E, assim começou a luta da pequena que sofria tanto quanto seus pais. O que agravou muito foi ter colado a roupa em uma grande área queimada, a qual ficou grudada na pele dela e, em um local coberto de nervos e dobras. Cada ida ao hospital era como enfrentar a dor da morte. E, assim foi por muito tempo, cada curativo, tudo era arrancado novamente, e continuava em carne viva. Com palavras não se pode registrar a dor da família. O processo de cura foi longo, a alimentação da menina, ficou comprometida, pois ela ainda mamava no peito e não conseguia forças para sugar o leite, a dor a fazia chorar e desistir de pedir o seu "mamá". Após longo período, a vida foi voltando ao normal, mas muito lentamente aí, veio outra preocupação da mãe, a enorme cicatriz que ficaria, e com o crescimento da menina, a marca iria esticar também e, estragaria seu lindo rostinho. Foi um tempo de muito medo, medo de perder a filha, medo das cicatrizes físicas e emocionais. O tempo passou, a cicatriz, por milagre, diminuiu de tamanho, é visível, mas não saiu do lugar, não quis esticar-se na pele da pequena, junto com o crescimento dela. A mãe sempre lhe contou como foi difícil passar esta fase repleta de medos, de choro, de contínuas orações, pedindo a Deus ajuda para aumentar-lhe a fé e a esperança. Sentia-se culpada pelo acontecimento e pelo sofrimento que quase a fez perder sua primeira filhinha.

Os fogos de artifícios não deveriam existir, pois sabemos que eles continuam machucando, mutilando, trazendo sofrimento a muitas pessoas. Hoje, estou aqui refletindo como foi difícil a vida do casal, sem poder curtir o comecinho de vida da primeira filha, penso que todos perderam um bom pedaço de vida, aquele que nos faz voltar alegres para casa, e encontrar nosso bebê batendo palminhas, fazendo festa para nós. Sinto saudades da minha mãe, porque sei o quanto sofreu para me curar, hoje a cicatriz está bem visível, e meu coração cheio de amor e saudades de uma família guerreira, pai e mãe amorosos e sempre presentes.

Observação: A mudança da terceira pessoa para a primeira, no final do texto, foi intencional.

 

 



23 de dez. de 2022

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!


 

Que neste Natal e, em todos os dias do próximo ano, possamos fazer de Jesus nosso melhor amigo, pois Ele é o maior motivo desta e da nossa existência.

Que possamos embrulhar em nossos braços as pessoas queridas, as pessoas simples, as pessoas pobres, as pessoas que precisam da cura, as pessoas que precisam de um abraço, as que precisam do perdão, as que precisam ter mais fé, enfim todas as pessoas, que necessitam de amparo, que são com certeza, os melhores presentes, que poderemos ofertar.

 Vamos diminuir o barulho, caminhar mais devagar, prestar atenção nas pessoas que estão ao nosso lado, abaixar a cabeça e colocar a humildade pra funcionar. Somos grandes, quando somos pequenos.

Em todos os momentos difíceis Ele nos diz:

-Estarei contigo todos os dias até à consumação dos séculos. Não temas, porque eu estou contigo!

Desejo a todos os meus amigos do Naco de Prosa um Santo e Feliz Natal!

23 de nov. de 2022

Tempo acelerado, literatura reduzida




Na semana que passou aconteceu um fato extremamente curioso, que me levou a várias interrogações. Pedi a uma amiga que lesse o que eu estava lendo. Ela olhou para mim e com uma fisionomia estranha me disse:- Sério, você quer que eu leia tudo isso, agora, e no papel? 

Pensei que fosse pura brincadeira, pois o texto muito interessante, na minha opinião, era de uma lauda, o que significa umas trinta linhas. Por ser assunto de muito interesse e também conhecido por ela, a leitura lhe traria maiores esclarecimentos ao seu projeto, que estava em andamento. Ela percebeu meu desapontamento e explicou-me que estava com pouco tempo para realizar muitas tarefas. Ela sempre foi uma pessoa ativa na leitura, mas com hábitos digitais mais dominantes, percebi que ela não lia como antes, livros físicos, textos e jornais.

Completou dizendo que perdia menos tempo lendo na internet, e afirmou: o tempo está voando cada vez mais, e completou: aprendi e gostei muito de ler textos condensados. Lembrando que texto condensado é o que foi resumido ao essencial (do conjunto de fatos ou ideias de uma obra). Passei um bom tempo analisando o comportamento e resposta que ela me havia dado. Será que o tempo está mais acelerado ou nossa rotina faz com que a informação recebida já familiar, seja processada mais rapidamente, o que não nos deixa perceber que o tempo passou.

Continuei analisando o fato ocorrido e lembrei-me de que tempos atrás foi me solicitado um conto minimalista. Considerados microcontos: é um texto com início, meio e fim, específico e direto ao ponto, tem como limite inferior 37 letras e 50 palavras de limite superior. Um conto minimalista quando menos é mais. Menos tempo para ler e mais tempo para interpretar? Confesso que tive dificuldade em colocar minhas ideias com tão poucas palavras. 

A literatura minimalista não é novidade, pois já aparecia nas famosas fábulas de Esopo, porém foi a partir da metade do século XX que ganhou força, interesse e visibilidade. Com o avanço da tecnologia de comunicação e o advento das redes sociais, a rapidez do nosso tempo parece pedir justamente a brevidade e velocidade da microliteratura. Será que devido ao tempo, que parece voar vamos usar mais o lema minimalista? 

Menos coisas, mais espaço, menos distrações, mais tempo, menos compromissos, mais disponibilidade, menos projetos, mais produtividade, menos consumo, mais criação, menos bugigangas, mais coisas realmente importantes. Porém, continuamos ouvindo, o tempo está voando, até os cientistas confirmaram uma sensação peculiar dos últimos tempos: o mundo está mais acelerado. 

E não é figura de linguagem. No mês passado, a Terra completou a rotação mais rápida até hoje registrada, encerrando a contagem de 24 horas com 1,59 milissegundos a menos. Li uma matéria, extremamente interessante, que explica que não temos mais um dia de 24 horas e sim de 16 horas. Não vamos nos ater aqui sobre um ligeiro desvio no eixo de rotação do planeta, mas sim sobre a sensação de que ‘o tempo está voando’. “O tempo é uma ilusão. A única razão para o tempo existir é para que tudo não aconteça de uma vez”. Em 2020, as rotações foram completadas mais rapidamente em 28 ocasiões. Será que enquanto o tempo literalmente voa, os textos, poemas, contos, crônicas, notícias e outras formas de literatura tendem a ser de tamanho reduzido?


25 de out. de 2022

A honestidade que ainda surpreende

O combustível para o crescimento das vendas online, com certeza, foi a pandemia. No Brasil, porém, esse aumento foi além, e lidera o ranking de crescimento das vendas online, com 22,2% no ano de 2022. Além disso, estima-se um crescimento das compras online de 20,73% ao ano, entre 2022 e 2025”.

Dois fatores cruciais influenciaram o forte crescimento das vendas online no Brasil.

O primeiro deles foi a pandemia, uma vez que, com as lojas físicas fechadas, diversos brasileiros passaram a realizar sua primeira compra online. Ao encontrar facilidade na compra, métodos de pagamento instantâneos e entregas rápidas (diversas lojas com entregas em 1 dia útil), muitos deles se tornaram consumidores recorrentes.

A facilidade que temos hoje em relação às compras, era inimaginável há uns 10 anos. Ainda mais em nossas cidades, em que chuvas e frio não nos encorajam a sair para ver vitrines e as melhores ofertas.

Confesso que no começo, tinha “pé atrás” com a tecnologia e suas facilidades, foi uma conquista morosa, mas que teve um final feliz.

Entre uma compra e outra, eis que recebo uma mensagem do vendedor pedindo desculpas e perguntando se ele poderia finalizar a minha compra como entregue, pois no meio do caminho houve um problema, e iria atrasar, e sem este aval de recebido, o produto iria voltar e iria demorar ainda mais para eu receber.

Confesso que fiquei em dúvida, são tantos golpes nos dias de hoje, mas arrisquei, afinal, se eu tivesse algum problema, eu tinha as conversas gravadas e o Procon para me amparar. Sendo assim, respondi que poderia encerrar a venda sim, e que eu aguardaria o produto.

Porém, minhas dúvidas de que eu receberia a mercadoria aumentaram, porém no dia seguinte, logo nas primeiras horas, a campainha tocou, e lá estava ele, o entregador com o meu pacote.

Agradeci aliviada, confesso.

Após conferir o produto, fui até minhas mensagens arquivadas e agradeci ao vendedor pela honestidade e comprometimento comigo.

Aí comecei a pensar em algo que antes, não havia me dado conta: eu agradeci por uma pessoa ter sido honesta.

Algo que deveria ser corriqueiro, que não precisaria de agradecimentos, virou algo raro: a honestidade desceu da prateleira, e raramente é encontrada.

Vezes ou outra nos deparamos com histórias como: fulano encontrou dinheiro em um saco dentro do lixo e devolveu ao dono, ou sicrano encontrou o cachorrinho desaparecido e não aceitou a recompensa, ou beltrano viu cair do bolso do cidadão algum dinheiro e foi atrás para devolver.

É tão raro que vira manchete de primeira página.

Fico pensando em que caminho nos perdemos?

Não quero entrar em questões religiosas, apenas me pergunto onde está a empatia? Porque para mim, é claro que se houver empatia, há honestidade, não faça com o outro o que você não quer que façam com você.

Claro que eu mandando aquela mensagem de que estava tudo bem, e agradecendo, trouxe alívio para o vendedor também, mas a obrigação dele era ser honesto, não pela venda em si, e para manter sua reputação, mas por ele ser humano, assim como eu, e também passar por situações similares ao longo da vida.

Comprar online é rápido, fácil e muito prático. Uma das primeiras vantagens ao escolher comprar pela internet, é justamente a da comodidade.

Basta vencermos o medo e a insegurança e fazermos boas compras.


imagem Google


31 de ago. de 2022

Jô Soares

 Aqui tem feito dias de céu azul e, às vezes, cinza.  Lembro que justo neste dia, o céu estava azul, a temperatura agradável, ainda estava deitada, quando fui checar as notícias no celular. O dedo foi deslizando na tela, quando parou em uma notícia, a qual eu realmente não queria para começar o meu dia. Não que fosse meu parente, ou pessoa mais próxima, mas nos apegamos, sentimos carinho e admiração, nós respeitamos. E naquela manhã, ler sobre a morte de José Eugênio Soares, fez o céu ficar, de repente, cinza. Jô era desses artistas completos, como costumam chamar por aí, apresentador, ator, comediante, diretor, produtor, dramaturgo e artista plástico. Poliglota, falava português, francês, espanhol, inglês e italiano. Atuou e dirigiu quinze ou mais espetáculos. Apresentou-se em palcos, telas e, era engajado à literatura, unindo o humor ao jornalismo. Entrevistou mais de quinze mil personalidades brasileiras e internacionais. Criou personagens e bordões, que marcaram a TV brasileira. Suas críticas com pitadas de humor, eram encontradas em suas personagens no programa como: “Viva o Gordo”.

Além das telinhas, telonas, palcos, pudemos acompanhar o brilhantismo de Jô em páginas de livros, escreveu nove livros que se transformaram em best sellers, como foi o caso de o Xangô de Baker Street. Em 2016, entrou para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, seu patrono era Teófilo Dias.

Jô foi o precursor de talk show no Brasil, entre artistas consagrados e novatos, ele conseguia extrair o melhor dos seus convidados.

Enquanto eu lia a notícia, uma história de um tempo bom foi passando em minha cabeça, tempo esse em que podíamos um pouco além, em que críticas eram aceitas para que se melhorasse tal situação, e não para ofender ou rebaixar a alguém.

Lembro da família reunida, lembro do relógio marcando meia-noite, e eu segurando o sono para assistir ao último bloco do programa.

Lembro do bordão, lembro de Jô brincando com a banda ou com o seu fiel escudeiro e garçom.

São tantas lembranças, momentos de como a vida é feita.

Lembro também de críticas a ele, seja por uma personagem, ou pela vida real em relação ao seu filho, também falecido.

Muitas vezes, as pessoas confundem a realidade com a ficção, e muitas outras não sabem da história a fundo e apenas criticam pelo sabor de criticar.

Jô é digno de aplausos, desses raros artistas que dão chance a outros que estão começando ou já esquecidos, de pessoas anônimas, mas de grande importância para o Brasil.

Deixa um legado admirável, sua história não será esquecida, e quiçá, eu ainda possa ver nascer um artista tão completo quanto ele.

“O Jô só pensava em uma coisa: repartir o pão da alegria”.

“Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria, e até há uma frase, que ele adorava, de um ator inglês, Edmund Gwenn que dizia o seguinte: ‘morrer é fácil, humor que é difícil’. Ele disse essa frase no leito de morte. E ele, agora nos últimos dias no hospital, voltou a repetir essa frase: ‘viver não é problemático, difícil é fazer humor'.

Em um ano em que o Brasil perde tanta gente importante, Jô Soares fará muita falta, como amigo, como artista, como ser humano.

E mais uma luz se apagou nos palcos da vida.

 


ImagemGoogle


2 de ago. de 2022

Estamos na Jornada do herói


 


“A aventura usual do herói começa com alguém de quem algo foi tirado, ou que sente que falta algo na experiência normal disponível ou permitida aos membros da sociedade. A pessoa, então, embarca em uma série de aventuras além do comum, seja para recuperar o que foi perdido ou para descobrir algum elixir que dá vida. Geralmente é um ciclo, uma vinda e uma volta.”

Joseph Campbell autor do clássico “O Herói de Mil Faces”, no qual ele conceituou a chamada do herói nos mitos, lendas, romances, fábulas e filmes modernos. Como estudioso norte-americano de mitologia e religião comparada ele decodificou os códigos de todas as civilizações desde que o mundo é mundo e tenham registro. Percebe-se que todo herói se origina de uma pessoa comum, sem muitos talentos, sem pretensões, apanha da vida e, às vezes sofre com discriminações. Não havia o conhecimento que temos hoje, então os antigos utilizavam histórias fantásticas com acontecimentos reais para dar um pouco de sentido à aventura da vida. Envolviam Deus, semideuses, criaturas sobrenaturais, heróis com grandes feitos.

Joseph Campbell após décadas de estudo chegou à conclusão de que a mesma estrutura era encontrada na história da humanidade como a história de Maomé, Buda, Jesus, Moisés, Albert Einstein, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi e muitos outros. Falam sobre a ascensão de homens comuns a heróis. Esta estrutura é inflexível e infinita e, está presente também em sua vida, em minha vida, em nossa vida.  Seguem alguns títulos de filmes onde podemos perceber melhor a existência da estrutura de Campbell:

 O Mágico de Oz -(Dorothy). (Alice)- Alice no País das Maravilhas. De Volta para o Futuro- (Marty Mcfly). O Senhor dos Anéis- (Frodo). Harry Potter -Hermiane Granger. Matrix-Keanu Reeves. Toy Story-Buzz Lightyear. São alguns exemplos com histórias famosas que seguem sempre a mesma estrutura.

O herói sempre precisa de um mentor para lhe dar um empurrão, um conselho, mostrar-lhe o que fazer. O mentor é sempre uma figura especial como um livro, uma mensagem, um filme, um professor, um amigo, um padre, um médico e, aparece quando é necessário. Alguma coisa acontece e há o chamado para resolver alguma situação, porém o herói não sente que é capaz de fazer algo pelo bem maior. No entanto, quanto mais se recusa, mais a vida bate. Então, aparece o mentor que tem a função de despertar alguém para o chamado. Todos somos heróis e temos um chamado, porém somos heróis vivendo uma vida medíocre por não saber que somos heróis e, que podemos fazer muito pelo bem maior, sendo assim sofremos, no entanto com a dor aprendemos, pois o sofrimento nos educa. A jornada do herói se conecta com cada pessoa de maneira consciente ou inconsciente, provoca muitas emoções, pois mesmo sendo ficção possui elementos humanos. De repente, temos um personagem com uma vida comum, e surge um grande desafio, situação difícil, assustadora. O chamado por exemplo pode ser por diversas coisas, fatos ou pessoas.

 Neste caso, para exemplificar, a situação é de doença, e, é necessário fazer a escolha, sair da zona de conforto, o que se torna imensamente difícil.

Há a decisão: sair ou permanecer.

Há o medo, que é paralisante, e a insegurança maior: Não sou capaz.

A decisão deve ser tomada sem demora, pois, tudo tem seu preço e tempo. Mas o medo do desconhecido traz a insegurança, e tudo fica parado no tempo.

 Aí, surge o mentor, para ajudar, aconselhar, dar o empurrão inicial, e o desafio é aceito. É cruzado o limiar do conhecido e o desconhecido e, inicia-se a viagem para a chegada ao final.  Nem há necessidade de muito conhecimento nesta fase, pois não será útil aqui. Unem-se o chamado ao destino e às pessoas certas, as quais com a experiência que têm aparecerão neste momento, que é a hora certa. A jornada não será solitária. Então surge o herói, que percebe que toda a força está dentro dele. Basta mergulhar em si, e o poder vem à tona.

 Porém, haverá muitas situações em que tentarão enfraquecer o herói, quando isso acontece ele deve sempre subir à superfície, e assim voltar à vida, que não será mais a mesma. A volta será de uma pessoa mudada, transformada com os conhecimentos adquiridos durante a jornada.

O retorno será com um elixir, uma cura, um prêmio, um dom, ou outras coisas.

Vivemos e viveremos várias “jornadas do herói” em nossas vidas. E sempre haverá muitos amigos (mentores).

“A jornada do herói” não deixa de ser um método comprovado para se contar boas, belas e interessantes histórias.

9 de jul. de 2022

07 de julho, Dia Mundial do Chocolate

O mundo de chocolate 

Maravilha seria um mundo de chocolate 
montanhas, riachos, nadar no mar 
de chocolate meio amargo, meio doce, 
meio preto, meio branco, 
nuvens areadas e o sol bem longe 
para nada derreter. 
E quando as nuvens apontassem para a chuva 
hora de correr e comprar os saudosos guarda-chuvinhas 
de chocolate. 
Que maravilha seria o mundo de chocolate! 
caminhar entre bombons e brigadeiros. 
E ao findar o dia sentar na varanda para 
espiar o sol se escondendo 
dando lugar à lua 
que triste implora: 
não quero ser de queijo, 
quero ser de chocolate!





23 de jun. de 2022

Pinhão a semente da Araucária

Nos arredores da cidade de União da Vitória, a qual fica no estado do Paraná, há muita araucária. No outono e inverno a semente do pinheiro é colhida, o gostoso pinhão. As famílias fazem passeios pelos campos para juntar os pinhões que insistem em cair, a pinha se desfaz e tudo vem ao chão. Em uma tarde de um dia muito frio, daqueles em que a geada custa a ir embora, um grupo de quatro crianças, amigos que moravam na mesma rua, estudavam na mesma escola e tinham idades aproximadas, dez e onze anos, foram juntar pinhões. Guilherme estava sempre com sua irmãzinha do lado, ela era a menor com nove anos, ele era responsável por ela, principalmente quando se afastavam de casa. Porém Lorena, como era chamada, era muito espevitada, vivia pondo-se em perigo ao entrar em grutas, dizia que ia pesquisar. Tinha sempre uma pastinha com uma caderneta, lápis, régua e caneta. Porém, sempre atrapalhava os planos dos meninos, que ficavam irritados com Guilherme por ter trazido “a mala” como a chamavam. No entanto, ela fingia que não ouvia os xingamentos. O objetivo das crianças era apanhar muito pinhão e vender em pequenas quantidades. Fizeram uma reunião e decidiram quem faria as atividades. Primeiramente, todos colheriam o máximo de pinhão, que ficaria em um monte, após tudo colhido e escolhido, Guilherme e o amigo separariam as quantidades com peso aproximado, claro que a irmãzinha ficaria com eles. Os pacotes vazios foram sendo guardados há tempos, depois de cada compra que as mães faziam. Deixaram tudo organizado, colocaram o preço em cada pacote. Após isso resolveram fazer uma pequena fogueira para sapecar pinhões, era costume em todas as famílias, assim cada um foi juntar sapé, (galhos secos dos pinheiros) para o fogo. Tudo pronto, o fogo com pequenas labaredas recebeu punhados de pinhões, muitos estouravam ao contato com o fogo, a alegria das crianças era vibrante. Alguns minutos depois todos comiam os gostosos frutos do pinheiro. De repente, Guilherme percebeu que Lorena não estava por perto, saiu gritando por ela, e nada. Pediu aos amigos que o ajudassem a procurá-la. O sol ia se pondo e nada da pirralha aparecer, Guilherme a princípio pensou que ela estivesse brincando de se esconder, mas quando o vento gelado começou, ele sabia que o caso era grave. Correu em busca da ajuda dos pais, muito assustados pediram ajuda aos vizinhos. Todos correram para ajudar a encontrar a pequena. O frio aumentava, todos estavam vasculhando com muito cuidado todos os lugares possíveis. Gritavam o nome dela, o cachorrinho de estimação dela também entendeu a situação e começou a correr farejando aqui e ali. As lanternas já estavam sendo acesas, pois a noite chegara, tudo era um breu, a escuridão era quebrada pelas estrelas em um céu límpido. Percorreram muito chão, passaram-se muitas horas. Guilherme sentiu as lágrimas rolarem pelo seu rosto. O medo de perder a irmã já o deixava horrorizado. Todos se perguntavam: onde ela poderia ter ido? A busca foi muito intensa, as lanternas acesas já davam um clima de horror. A maioria dos vizinhos usava uma madeira, tipo estaca para ir tocando o terreno. Parecia cena de filme. O tempo corria, mas nada de encontrar Lorena. A mãe dela não conseguiu prosseguir ficou sentada à espera de notícias. O pai estava muito nervoso suava como estivesse em uma sauna. Todos já estavam com medo do resultado da busca. Totó, o cachorrinho se afastou muito e logo começou a latir, aguçando os ouvidos de todos. Correram para ver de onde vinham os latidos e ao lado dele, sob uma enorme pedra escura, bem protegida do vento, Lorena dormia profundamente. Foi uma festa, gritos de: achamos! achamos! foram ouvidos de longe. A menina acordou assustada, pois estava alheia aos acontecimentos. Seu pai a pegou no colo, abraçou-a e disse: -Por que veio tão longe sem avisar? Ela já desperta e consciente do acontecido respondeu: -Papai eu faço pesquisas, preciso andar muito para encontrar material. Todos agradeceram a Deus. O frio estava congelante. Cada um tomou o caminho de casa para uma noite tranquila.

Na época das galochas

      Presenciei um fato, que me trouxe à memória um acessório, a galocha, que era usada sobre os calçados em dias de chuva. Principalme...