A expressão “orfandade digital” sempre me
causou estranheza e espanto, porque é algo que existe,mas está longe da vida
de muitas pessoas, que não possuem mais crianças em casa, mas sabemos que ela
existe. A negligência parental é o ato de omissão dos pais quando se descuidam
da segurança de seus filhos diante do ambiente cibernético, esquecendo-se do
risco que correm com os efeitos nocivos da mesma.Pais ausentes ortogam às
mídias o poder de cuidar e divertir seus filhos.Iniciei este assunto devido a este
acontecimento,eu estava fazendo uma pequena caminhada, percebi à frente um senhor
que caminhava devagar, notei que a causa da lentidão era o celular,ele estava
focado na telinha,nada seria espantoso se o que presenciei não fosse real,a
uns passos atrás dele caminhava um garotinho, que não parecia ter mais que três
anos, puxava por um barbante,um carrinho. Diminui meu passo e comecei a
observar a cena, incrível,mas o senhor,que parecia ser o avô,sequer olhava
para trás para verificar o pequeno.
Consciente ou inconscientemente comecei a
cuidar da criança,ao mesmo tempo indignada com a atitude do homem. Um pouco
distante seguia os movimentos do pequeno,que a cada passo parava para arrumar
sua preciosa carga de pequenas pedras na carroceria do seu carrinho. Percebi que o suposto avô se distanciava e o
pequeno ao querer alcançá-lo perdia as pedras da sua caçamba, porque ao correr
ela tombava assim, ele ficava sentadinho no asfalto arrumando tudo novamente.
Eu já nem estava caminhando, mas seguindo ao lado do garotinho.
Aproximei-me
do menino e perguntei:
- Você quer
ajuda para juntar suas pedrinhas?
Ele
rapidamente ergueu a cabeça e respondeu:
-Quero sim,
pois meu avô foi embora, está longe.
Eu já havia
percebido que o avô esquecera de que estava com o netinho. Minha indignação
cresceu a tal ponto que não conseguiria mensurá-la.Ajudei-o a arrumar tudo e percebi que se ele
fosse caminhar puxando o carrinho, jamais iria se aproximar do avô.
Fiz a ele
uma proposta:
-Levo seu
carrinho em minhas mãos, assim poderemos caminhar mais rápido e alcançá-lo.
Ele aceitou
e,assim fizemos. Fiquei um tempo apenas pensando,onde estava a
responsabilidade daquele avô?
Patrícia
Peck Pinheiro, fala em seu artigo:
“Os pais têm
responsabilidade civil de vigiar os filhos”, designadamente quando “a internet é a rua da sociedade
atual”, implicando reconhecer que quanto maior a interatividade da web e o
acesso às novas tecnologias, “maior a necessidade de educação”.
Neste caso
há uma inversão a criança sem internet, estava correndo risco.
Voltando ao
pequeno, percebi que ele estava cansado e sem condições de continuar a
caminhada atrás do desalmado avô. A distância entre nós era razoável, mas para
o menino era gigantesca.
Resolvi que
precisava carregá-lo, olhei para ele e disse-lhe:
-Quer um
colinho?
Ele abriu os
bracinhos e sem pestanejar deixou-se erguer nos meus braços, pedi a ele para
jogarmos fora a carga de pedras para que ele carregasse o seu caminhão. Tudo
certo, seguimos a caminhada.
A conversa
foi trivial, me contou sobre o cachorrinho, contou que sempre o avô o levava
para passear, eu logo fiquei imaginando os passeios dele com seu avô. Disse-me
que seu nome era Caquinho, logo percebi que era o seu apelido, mostrou-me com
os dedinhos que tinha quatro aninhos, e assim fomos levando nossa conversa.
A minha
surpresa foi muito grande quando distingui ao longe a silhueta do avô voltando,
passos tão rápidos que parecia estar correndo. Percebi que ele não identificou
seu neto nos meus braços, ele procurava por ele ao longe, ainda bem que
estávamos na pista própria para caminhada o que salvou o menino de algum
acidente.
Eu parei e
fiquei esperando, bem próximo de nós, ele reconheceu o garoto.
Chamou por
ele com a voz embargada, a inocência da criança não o deixou reclamar de nada,
mas contou com alegria tudo que passamos juntos.
Eu estava
preparada para despejar meus impropérios contra aquele cavalheiro.
No entanto,
percebi que não mais havia necessidade, pois ele se agarrou ao netinho, e chorando
pediu desculpas a ele e a mim.
Frase
islâmica:
“O homem
apega-se ao transitório e negligencia o eterno”.