Dias atrás, uma velha amiga me convidou
para ajudá-la a comprar sapatos, adoro isso, ficamos por longo tempo discutindo
sobre modelos, preços e onde iríamos comprar. A lista de lojas que vendem
calçados é longa, pois juntamos as lojas das duas cidades, o que para nós não
altera em nada, pois elas são cidades irmãs.
Percebi, que minha mente estava sendo
invadida por lembranças, memórias de minha infância, quando eu ia com minha mãe
fazer compras.
Tenho saudades de tantas coisas, saudade
do que ficou de bom em minha memória. Será que faz bem sentir saudades? Penso
que sim, pois nos leva a lembranças e momentos que foram bons.
Alguém já dizia, “Mesmo que as pessoas
mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre,
mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas
recordações.”
E
aí, perguntei para a minha amiga:
-Lembra da Casa Damasco?
Ela ficou um tempo pensando e me
respondeu:
-Não lembro, pode me contar?
E minha mente voou e foi buscar belas
lembranças. Em Porto União, ao lado de onde era o Hospital Nazaré Farah, hoje
há um estacionamento, ficava a famosa Casa Damasco, lembro de ir com minha mãe,
comprar sapatos, naquela época, só ganhávamos calçados novos no Natal. Minha
memória olfativa entrou em cena, e minhas recordações da infância me fizeram
retornar ao local da loja de sapatos, ao lado de minha mãe, o cheiro do couro,
está vivo em mim, e é bom, pois a emanação da fragrância do couro, trouxe as reminiscências do tempo em que tudo era bom, o chão era de madeira, e na
porta um grande degrau de madeira também. Era bom olhar as caixas nas quais
vinham os sapatos, uma marca que consigo lembrar com nitidez, porque minha mãe a
tudo respondia, talvez pela associação que ela fazia, a marca era Navio, na
frente da loja havia uma vitrine pequena, e para protegê-la uma grade de ferro,
mas na minha lembrança ainda é como uma cerquinha, muito linda. Ah, e naquela época,
já existia o famoso caderninho para marcar e pagar depois, mas esse era um
caderno grande, comprido, anotava todas as compras do freguês, penso que havia
muita confiança para vender fiado, porque atualmente com tantos cuidados e
facilidades não se consegue cobrar de todos.
Também havia outra loja, se minha memória não me engana, poderia
afirmar que havia passagem de uma para a outra loja, ela ficava onde hoje é o
Lord Cabeleireiro, se fosse hoje, seria chamada de Loja de Departamento, que é um tipo de comércio que apresenta nos seus
locais de venda uma larga variedade de produtos eletrônicos de grande consumo,
tais como vestuário, mobiliário, decoração, produtos cosméticos, brinquedos, tecidos,
linhas, agulhas, fios, roupas, que fazia parte da mesma loja, mas com sua
diversidade de produtos.
A dona Nazaré, carinhosamente, chamada
de dona Naza, estava sempre a postos, de avental, quem não lembra dela? Vinha
sorridente atender, e ninguém saia sem levar alguma coisa, e não havia como
sair sem nada, sendo tão bem recebido com um sorriso e acolhimento gostoso. Seu
Miguel Farah é claro, sempre junto.
Falando em seu Miguel, ele começou consertando
sapatos, época em que a maioria das pessoas consertava tudo, porque hoje até os
calçados são descartáveis. Como era um homem vanguardista tinha suas
habilidades, e então começou a confeccionar os calçados, ele cortava usando o
molde e dona Naza os costurava, trabalho artesanal, porém árduo, mas feito com
muito amor.
Então de consertos de sapato passou a
confecção. Houve uma grande feira de calçados, em 1928,”Exposição Agroindustrial”,
na qual seu Miguel participou com sua coleção, e o resultado foi vitória para a
sua produção seguida de reconhecimento com um diploma de loja industrial. Quem
ouviu o ditado popular: “Deus ajuda quem cedo madruga?”
Com certeza, porque madrugando há mais
tempo para se organizar no trabalho, para aumentar sua produtividade, e assim
era com seu Miguel e dona Nazaré, cedinho já estavam no batente.
Roberto Fraga dizia que:
“Viajar no tempo é reviver
reminiscências que ficaram no pensamento. Um momento único em que damos asas a
imaginação ao percorremos um distante evento no exato momento de sua criação. O
prazer inolvidável que nos acompanhará pela vida afora e proporcionará o prazer
de um instante de felicidade que permanecerá pela eternidade.”
Ah! Quanta saudade, e ela é isto mesmo,
lembrar e relembrar dos bons tempos por nós vividos, vale a pena ter as nossas
memórias rebuscadas, às vezes, pois nos levam a sentir o imenso prazer
novamente.
Voltei ao presente e fomos comprar um
sapato.
Foto: Google |
Mesmo em férias vim te ler pois gosto de teus escritos.Adorei as lembranças e como as temos...Fazem bem! Mexe com a memória, um bom exercício...bjs praianos,chica
ResponderExcluirFabuloso texto, este!!
ResponderExcluirBeijo e uma boa semana.
Sabe Marli,também lembrei agora que quando criança mamãe costumava comprar os nossos sapatos(meu e de minha irmã)em uma loja famosa que ficava no centro da cidade de São Paulo.
ResponderExcluirEra uma diversão quando saíamos para fazer compras.
Belas lembranças.
Adorei ler.
Bjs e uma ótima semana.
Carmen Lúcia.
As recordações da infância não nos largam nunca...
ResponderExcluirUm texto maravilhoso.
Um beijo.
Tem coisas que ficam gravadas como filmes na memória.
ResponderExcluirTem coisa melhor do que memória olfativa?
bjokas =)
Que delícia de conto.
ResponderExcluirFala como quem diz um verso, canta
um hino com sua história.
Vou seguir você, meu anjo. Siga a
mim também, se quiser.
Beijos,
.
Amiga Marli, um relato muito interessante. Gostei! Amiga, vim agradecer sua visita que amo e o comentário que deixou. Obrigada de coração! Tenha uma semana feliz, com muita saúde e paz, junto aos seus familiares e amigos. Beijos no coração.
ResponderExcluirLourdes Duarte
Ah, como são boas nossas saudades, saudades sempre são boas, é como se quiséssemos resgatar um tempo que se foi. Lembranças podem ser bem-vindas ou não. Também de vez em quando sinto cheiros do passado. Quando minha mãe faleceu, o cheiro do apartamento dela estava dentro do meu, esquisito isso, nunca havia acontecido.
ResponderExcluirTambém lembro dessas compras da infância, dá saudade, sim! Um aperto. Teu texto está tão lindo, amiga, li muita ternura aqui hoje! E isso faz bem pra gente.
Grande beijo, falamos!
Voltei à sua página para
ResponderExcluirrevê-la e reler o diário
de sua vida. Sim, porque
o seu conto não passa de
uma viagem no tempo e
isso me deixa encantado
pela forma da escrita e da
narração.
Um beijo,
silvioafonso
.
Cara amiga Marli, eis um belo texto descritivo sobre este belo período da existência, nossa juventude. Tuas memórias incentivou alguma coisa em mim e também retrocedia a algumas de minhas lembranças antigas, como ao caderno de anotações das vendas fiadas no armazém da minha da minha família, o qual era administrado por minha mãe. Lembro que um irmão dela (meu tio)
ResponderExcluirtambém tinha armazém mas não gostava de vender fiado. No armazém do meu tio, ao lado do alvará fixado à parede havia uma moldura com duas criaturas, uma gorda, rosada, bem vestida e outra esquelética, esfarrapada, e ao pé da moldura duas mensagens; junto à figura robusta: "Vendo a vista" e acompanhando a silhueta miserável: "vendo fiado".
Um abração. Tenhas um lindo fim de semana.
Feliz de quem pauta a vida adulta com vida tida na infância. Lindo texto. Gostei. Parabéns! Abraços. Laerte.
ResponderExcluirBoa tarde querida Marli! Só sentimos saudade de pessoas e acontecimentos que nos marcaram e foram importantes para nós. Claro que sentir saudade de momentos inesquecíveis de momentos em qualquer fase da vida, são lembranças guardadas com carinho no coração. Lembrar da sua mãe é um presente. Lindo sua narrativa, parabéns amiga. Grata pela visita, volte sempre. Bjus
ResponderExcluirOlá, Marli.
ResponderExcluirGostei muito de tua crônica, "Lembranças...". Essa procura de sapatos, vendo vários modelos, lembrou-me de certos dias que acompanhei a Taís, em várias lojas, à procura dos sapatos que queria comprar. Lembranças importantes, tanto da sua amiga como das cidades de Porto União e União da Vitória. Como aconteceu com as Lojas Damasco, muitas outras lojas tradicionais fecharam nos últimos anos, no nosso país. E, pelo andar da carroça, muitas outras logo fecharão.
Um ótimo domingo.
Grande abraço.
Pedro.
Olá querida Marli
ResponderExcluirQue crônica empolgante permeada de recordações afáveis que trouxe ao coração a alegria de reviver momentos ímpares da infância com requinte de detalhes evocada pela necessidade premente de comprar sapatos
Beijos e uma linda semana
É apanágio dos artistas resgatarem lembranças e as trasbordarem de luzes, beijos
ResponderExcluirBom dia. Independentemente das suas publicações que li atentamente e que mais tarde comentarei com mais detalhe, informo que fiz-me seguidor do seu muito bonito e criativo blogue, e linkei o linke na lista dos blogues a visitar. Gostaria que, se possível, houvesse reciprocidade.
ResponderExcluir.
O meu blogue
.
https://brincandocomaspalavrass.blogspot.pt/
.
Abraço e ...
Feliz inicio de semana
.
Oi Marli! Ao ler o teu belo e bem coordenado texto, lembrei-me de uma baboseira que escrevi e diz o seguinte: “Quando a pessoa sente saudades de algo, é porque em algum momento da vida já foi feliz. Pior é aquele que não tem o porquê, ou por quem sentir saudades.”
ResponderExcluirAbraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
Marli
ResponderExcluirSentir saudades, sem ser saudosista, de natureza é salutar. Lendo a tua bela crónica, até recordei, duas ocasiões, ambas antes dos meus dez anos, uma em que fui com a minha mãe, outra em que fui com o meu, ambas com história. Por isso e porque sou bastante emotivo, senti enorme prazer na sua leitura.
Beijos
Olá, querida Teresinha!
ResponderExcluirGrata por sua visita e cordiais palavras.
Um texto mto bem escrito e mega natural. Quem não lembra dessas boas e velhas recordações, da juventude, sobretudo e da cumplicidade, que havia entre amigas e amigos? Havia casas especializadas em tudo e muito afamadas.
Era tão bom ir às compras com amigas, que dão seus pareceres, observamos e "criticamos" tudinho e depois vamos tomar nosso lanchinho, carregadinhas de sacos.
Seu post me fez lembrar dos tempos da faculdade. Amei!
Beijos e boa semana.
Olá, durante a vida existem acontecimentos que nos marcam para serem recordados, como diz o povo com toda a razão, (recordar é viver,) suas recordações levaram os seus sentimentos o que faz parte da sua vida, assim como, o Miguel e a dona Nazar, também a Casa Damasco, certamente outras boas recordações vai recordar.
ResponderExcluirContinuação de boa semana,
AG
As lembranças são como as cerejas, basta puxar uma e surgem logos mais umas quantas...
ResponderExcluirUm belo texto, parabéns.
Bom resto de semana, amiga Marli.
Abraço.
Recordar é viver!
ResponderExcluirBeijo
Maravilha, Texto gosto de ler. Alguma coisa combinas mais do que mulheres e sapatos? rs rs. Tirando a brincvadeira, recordar é tudo de bom. Beijos e parabéns.
ResponderExcluiramiga, acho super saudável lembrar do passado, dos bons momentos da vida!
ResponderExcluirFazer comprar também é muito saudável rsrsrsrsr
Bjos no coração,querida1
http://www.elianedelacerda.com
.
ExcluirMarli, querida,
a saga continua, tá?
Segunda-feira darei
continuidade aos contos
da vida privada. Contos
que elas não teriam coragem
de comentar e eles muito
menos.
Venha conferir e tomará comigo
um gelado refresco de pitanga
com bolinhos de chuva. Degustação
para finos lábios.
Um beijo,
silvioafonso
.
Nada como viajar no tempo, não é, Marly? Principalmente quando nos faz lembrar de momentos particularmente agradáveis. Belo post, amiga; boa semana!
ResponderExcluir