17 de jan. de 2023

Fogos de artifício

 



 

 

Em uma noite, daquelas típicas de inverno, em que se comemora a festa de São João com fogos e fogueira, havia muita gente na rua, outras nas janelas de suas casas, era uma época em que se soltavam balões. As crianças, ficavam ao longe sob os olhares dos pais, as luzes brilhavam no céu, estouros eram ouvidos a longa distância.

Uma menininha de um ano, fora colocada em sua cadeirinha, junto à janela para poder também, ver o brilho dos fogos e saber o porquê do barulho nas redondezas.

O tempo foi passando, a alegria era uma só, e a pequena criança sem muito entender, parecia querer ir lá fora, e junto festejar, juntava as mãozinhas e aplaudia no ar.

Em um dado momento, a mãe da pequena percebeu um grande clarão, que se fez em sua frente, não entendeu de imediato, e aos poucos tudo foi ficando escuro e o bebê iniciou um choro fortíssimo, a mãe, nada via para justificar tamanha dor nos gritos. Sentiu cheiro de algo queimado, percebeu que a criança apertava desesperada a roupinha contra o pescoço, foi então, que ela notou que um buscapé (peça de fogo de artifício que corre pelo chão, zigue zagueando, e termina em um estampido) estava grudado no pescoço da sua filhinha. Foi um tremendo susto. Nada acalmava a criança que foi levada às pressas, ao hospital. Era um tempo com menos recursos. E, assim começou a luta da pequena que sofria tanto quanto seus pais. O que agravou muito foi ter colado a roupa em uma grande área queimada, a qual ficou grudada na pele dela e, em um local coberto de nervos e dobras. Cada ida ao hospital era como enfrentar a dor da morte. E, assim foi por muito tempo, cada curativo, tudo era arrancado novamente, e continuava em carne viva. Com palavras não se pode registrar a dor da família. O processo de cura foi longo, a alimentação da menina, ficou comprometida, pois ela ainda mamava no peito e não conseguia forças para sugar o leite, a dor a fazia chorar e desistir de pedir o seu "mamá". Após longo período, a vida foi voltando ao normal, mas muito lentamente aí, veio outra preocupação da mãe, a enorme cicatriz que ficaria, e com o crescimento da menina, a marca iria esticar também e, estragaria seu lindo rostinho. Foi um tempo de muito medo, medo de perder a filha, medo das cicatrizes físicas e emocionais. O tempo passou, a cicatriz, por milagre, diminuiu de tamanho, é visível, mas não saiu do lugar, não quis esticar-se na pele da pequena, junto com o crescimento dela. A mãe sempre lhe contou como foi difícil passar esta fase repleta de medos, de choro, de contínuas orações, pedindo a Deus ajuda para aumentar-lhe a fé e a esperança. Sentia-se culpada pelo acontecimento e pelo sofrimento que quase a fez perder sua primeira filhinha.

Os fogos de artifícios não deveriam existir, pois sabemos que eles continuam machucando, mutilando, trazendo sofrimento a muitas pessoas. Hoje, estou aqui refletindo como foi difícil a vida do casal, sem poder curtir o comecinho de vida da primeira filha, penso que todos perderam um bom pedaço de vida, aquele que nos faz voltar alegres para casa, e encontrar nosso bebê batendo palminhas, fazendo festa para nós. Sinto saudades da minha mãe, porque sei o quanto sofreu para me curar, hoje a cicatriz está bem visível, e meu coração cheio de amor e saudades de uma família guerreira, pai e mãe amorosos e sempre presentes.

Observação: A mudança da terceira pessoa para a primeira, no final do texto, foi intencional.

 

 



3 comentários:

  1. Olá, querida amiga!
    Que história!
    A intencionalidade da troca da pessoa da narração emocionou.
    Um fato real que muitos não vêem e a cada ano os casos aumentam.
    Por sorte, no ano novo agora, se pensa nos autistas, idosos, crianças, animais...
    Que nenhuma mãe passe o que você aqui nos contou!
    Nenhuma criancinha merece ficar sem o seu mamá.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  2. Puxa, que impressionante conto/relato esse! Imagino a tua dor e a de teus pais e família toda naquele momento e nos tempos que se seguiram.. Hoje a cicatriz restou,. mas ainda bem tudo superado.
    Agradecer ao Alto!
    beijos,tudo de bom, chica

    ResponderExcluir
  3. Uma história emocionante e muito bem contada sobre algo inquietante que lhe aconteceu, minha Amiga. Foi um gosto lê-la.
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

    ResponderExcluir

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...