Presenciei um fato, que me trouxe à memória um
acessório, a galocha, que era usada sobre os calçados em dias de chuva.
Principalmente as crianças, que gostavam de passar por dentro das poças,
molhando assim, seu calçado.
Nem todos
gostavam de usá-las. Era de borracha de cor preta. Não sei se havia, na época,
outras cores. Ficavam bem, mesmo, com o uso de ternos.
Porém, havia
o transtorno de onde guardá-las após chegar a um casamento, aniversário ou
reunião, pois eram usadas com roupas sociais também.
Meu tio veio
de outra cidade para o casamento de sua sobrinha e afilhada, sempre muito elegante,
veio em época de muita chuva. É claro trouxe suas galochas, não entendi o
porquê de trazer dois pares.
Todos
estavam ocupados na preparação da festa do casamento. A igreja estava
belíssima, era uma capela simples, porém ficou requintada com a bela
ornamentação.
A hora do
casamento chegou, a família e convidados à espera da noiva, na igreja.
Meu tio
conduziria minha prima ao altar. Ela já estava aguardando dentro do carro, em
frente à igreja. A chuva havia aumentado.
A hora
passava e nada do meu tio aparecer. Não havia celular na época.
Meu primo
foi até a casa para ver o que havia acontecido. Pasmem, ele estava calçando as
galochas e desfilando em frente ao espelho para ver qual era mais ajeitada com
o terno. Para mim, eram iguais, mas para ele não. Ele não queria que a galocha
fosse notada, por isso tinha que ser semelhante ao seu sapato. Tudo certo,
galocha escolhida, foram enfim, para a igreja.
As portas
foram fechadas para a noiva chegar, meu tio se posicionou ao lado dela, a
música começou. As portas foram abertas, e o casal surgiu, confesso que foi
emocionante. Após alguns passos sobre o lindo tapete branco, meu tio ficou
nervoso e pediu para parar. Ele havia esquecido de tirar as galochas. Foi
hilário ver aquela cena. A maioria dos presentes não conseguiu segurar o riso.
Ele meio
confuso apoiou-se em um banco e com cuidado tirou as galochas, outro problema,
onde guardá-las?
Um senhor
que estava rindo da situação disse a ele:
- Passe para
mim, eu cuido delas para você.
O casamento
prosseguiu tranquilamente.
Na sequência
todos foram ao salão, ao lado da igreja, o qual estava lindo com flores do
campo.
Os
convidados estavam procurando seus lugares. E meu tio, (risos) procurando as
suas galochas. O homem que as guardou não estava ali.
Meu pai
estava ficando nervoso com o assunto. Falou ao meu tio:
-Pare de
perturbar por causa de um par de galocha, se precisar eu lhe compro uma dúzia,
mas agora aproveite o casamento de sua sobrinha.
Senti que
ele havia se acalmado, mas ainda deixava transparecer sua ansiedade e
aborrecimento.
A valsa dos
noivos desativou um pouco a ansiedade dele. Todos queriam dançar com a noiva, o
padrinho teve a sua vez, é claro. Neste tempo de dança contou à sobrinha o
desaparecimento de suas galochas. Ela nem conseguiu ouvir toda a história, pois
a música e o som da conversa estavam demasiadamente altos.
Hora de
cortar o bolo, que foi feito pela comunidade, as fatias foram sendo
distribuídas a todos.
Em toda
festa ou reunião de amigos acontece algo inusitado, e neste casamento não podia
faltar um fato para marcar a data.
O tio pediu
um pedaço bem grande, pois gostava de doce.
Alguém
secretamente, arrumou um prato enorme e lhe foi servido uma fatia de bolo
dentro de suas galochas. Espanto!
Ele ficou
sem graça e não entendeu a brincadeira (de mau gosto). A raiva fez seu rosto ficar
muito vermelho. Muitos pararam de dançar para ver o que estava acontecendo. O
riso correu solto, pura alegria.
Claro que
ele não entendeu o motivo da graça, mas sim viu como humor negro.
A festa de
casamento chegou ao final. Meu tio levantou-se bruscamente sob o olhar de todos,
pegou as galochas e caminhou a passos largos, lá fora ergueu a mão com as
galochas, e com muita força as atirou no rio. Havia bolo nelas e, por isso, ele
ficou todo respingado de massa. Olhou-se e antes que começassem a rir dele,
começou com uma bela gargalhada.
Ele ainda é
vivo, e em cada festa de família o caso é contado. Ele com muita idade não
esquece nenhum detalhe. E sempre complementa:
- Jamais
usei galochas depois daquele dia fatídico.
Uma história tão bem contada que me pareceu estar a ver um filme. E com humor. Gostei imenso. Os meus filhos adoravam as galochas para chapinharem na água da chuva.
ResponderExcluirTudo de bom.
Muita saúde.
Um beijo.
Oi, Marli,
ResponderExcluirA estória é mesmo engraçada. As galochas, pensando bem, são providenciais, nos dias chuvosos. Pena que não temos o costume de construir compartimentos, nas edificações, para guardar os objetos dessa natureza, como ocorre no exterior, em que as edificações sempre têm o tal vestíbulo, logo na entrada. Lá esses cômodos são muito necessários, por causa, principalmente, das grandes diferenças de temperaturas entre o interior aquecido das construções, e o exterior gelado, rsrs.
Beijo