17 de nov. de 2010

PUDIM- sem medo de ser feliz-

Tenho, particularmente, muito apreço pelos textos de Marta Medeiros. Este,acabo de receber,e não tem como não dividir com vocês!!!Recebi de minha amiga Maria de Lourdes Carbone,que hoje,mora em Blumenau.
Quem sabe um dia eu consiga perder o juízo..não todo...só um pouquinho...devo lembrar que Jorge Luiz Borges também tem um texto belíssimo que fala sobre......"se pudesse voltar no tempo...tomaria banhos de chuva...andaria descalço...tomaria menos aspirina......"" e assim vai.
Beijos grannndesssss...








PUDIM


<><>
                                                Por Marta Medeiros


Não há nada que me deixe mais frustrada
do que pedir Pudim de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar
e aí ver o garçom colocar na minha frente
um pedacinho minúscula do meu pudim preferido.
Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante,
menor a porção da sobremesa.
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência,
comprar um pudim bem cremoso
e saborear em casa com direito a repetir quantas
vezes a gente quiser,
sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções,
de prazeres meia-boca,
de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual,
mas tem que fingir que é difícil
(a imensa maioria das mulheres
continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado,
mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo,
mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD,
esparramada no sofá,
mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar',
tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero,
politicamente correta
e existencialmente sem-graça,
enquanto a gente vai ficando melancolicamente
sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'.
Deixar de lado a régua,
o compasso,
a bússola,
a balança
e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente
e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.
Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou
e disse uma frase mais ou menos assim:
'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem,
podemos (devemos?) desejar
vários pedaços de pudim,
bombons de muitos sabores,
vários beijos bem dados,
a água batendo sem pressa no corpo,
o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga:
um pudim inteiro
um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order',
uma caixa de trufas bem macias
e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente.
OK?
Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . .

16 de nov. de 2010

O nosso querido Poetinha,como era chamado pelos amigos

i  

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...



15 de nov. de 2010

Augusto dos Anjos

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

13 de nov. de 2010

Golpe no estômago...

Nesta semana fomos surpreendidos com a notícia da ''quebra'' do Banco Panamericano, o banco de Silvio Santos.
Entre uma notícia e outra publicada, deparo-me com absurdos de um povo pobre em conteúdo, que a primeira coisa a fazer é criticar, depois ler o que realmente está por trás dos fatos.
Pois bem, não sou fã da programação do SBT, na verdade, acompanhei algumas vezes pela minha filha e pelos meus pais.
Entre tantas asneiras que li e vi, estão a charge de Maisa como presidente do Banco, e um frustrado telespectador da Rede Globo acusando Silvio Santos de não saber lidar com talentos mirins, afirmando que o mesmo ''destruiu'' a ótima atriz que ela poderia ser.
Em um país onde dinheiro é escondido em cuecas, é lamentável que o próprio povo se una em palavras cuspidas de gargantas infladas,dizendo isso ou aquilo de um dos maiores empresários e empregadores desse País.
É repugnante você ouvir ladainhas em bares,e misturados a goles de pinga barata, a respeito de um dos homens que mais corretamente leva o exercício de cidadania adiante: pagando seus impostos e, assim como a Rede Globo, dando o espaço da sua TV por uma causa nobre a AACD.
O que o Silvio tem para ganhar com isso?
Cada segundo da TV hoje vale milhões e todos sabemos disso, a arrecadação desse ano com a AACD não chega perto do que ele deixou de lucrar pelos dois dias que ficou no ar.
Um homem com 81 anos, que fez o que fez, não merece ser tratado como um moleque por quem não chegaria nem perto do que ele construiu.
Desculpem meus amigos, o desabafo mas, ando cansada da hipocrisia alheia.
É cômodo atirar a primeira pedra, mas difícil é tirá-la do caminho para que o outro possa passar sem dificuldades.
Basta de reclamar, apontar o dedo, rir da desgraça alheia.
Basta de hipocrisia, basta de falsos idealistas e falsos civis.
Silvio Santos como tantos empresários está passando por dificuldades, como passou em outros tantos momentos. Causados por pessoas sem caráter, que hoje lhe apontam o dedo,porém sem lembrar que há três apontados contra si mesmos.
Que Deus os perdôe pelo egoísmo e ajude a salvar os milhões de empregos que estão em jogo.
Sem mais.

Mariane Boldori

10 de nov. de 2010

Um Lamento Triste...



Abri jornais, revistas, sintonizei o rádio, liguei a tevê.
Seja a mídia que for, estou assustada.
Por onde anda a compaixão, o amor, a fraternidade, a paz, o ser pai, o ser mãe e o ser filho em tempo integral?
Por onde anda Deus na vida das pessoas?
Crianças estupradas sexualmente e psicologicamente, mulheres espancadas, filhos planejam a morte dos pais, pais planejam a morte dos filhos.
Drogas, dinheiro, falta de fé, não tenho resposta.
Seria o fim do mundo, tão falado?
Não sei... sinto que vivo em um verdadeiro inferno, e a verdadeira vida, o ''paraíso'' virá depois de minha morte carnal, num lugar ‘’bonito e tranquilo’’, sem mortes a inocentes, sem bebês sendo estrangulados, ou crianças jogadas pela janela como sacos de lixos.
Animais sendo escalpelados pelo sadismo do homem.
Jovens bebem e queimam outros homens que dormem na rua.
E, tudo é falado tão normalmente que, se você observar bem, até um singelo sorriso observa-se no rosto do repórter, pois tudo está banalizado.
O que está ocorrendo com nossas mulheres, nossos homens, nossos filhos?
A mais perfeita criação de Deus está causando imperfeições.
A mais perfeita criação de Deus assassinou um dos seus Filhos a pedradas, chicotadas e lanças.
Histórias que deveriam ser apenas fictícias, naqueles filme de terror ‘B’ nos Estados Unidos, que passam naquelas salas só de madrugada.
Não preciso dar exemplos detalhados do que estamos vendo todos os dias no mundo, no Brasil.
Enquanto uns matam, outros lutam pela vida.
Enquanto uns odeiam, outros amam.
Enquanto uns esbanjam, outros sentam-se no chão, ao lado dos famintos e com eles divide biscoitos feitos com barro, único material utilizável.
Um mesmo mundo, o mesmo Criador, o mesmo princípio para a criatura, e somos todos tão diferentes quando se trata de paz.
Egos super inflados.
Egos que arrastarão nossas almas para lugares tenebrosos e infindos.
Sou do tempo em que se pedia bênção ao pai, acompanhava a mãe à venda, e ficava à janela esperando a noite chegar para ver a estrela no céu, e fazer um pedido.
Não tínhamos video games, ou computadores, ou cds, seja lá o que fosse, mas tínhamos amor, união, respeito, muito respeito.
Assim fui criada, assim criei meus filhos.
Ontem uma mulher foi esquartejada e seus pedaços jogados aos cachorros, mês passado foi a vez de uma criança jogada pela janela ainda com vida, no outro mês uma mala foi encontrada na rodoviária, dentro dela, uma menina estuprada, estrangulada, no outro mês uma mãe levou 5 tiros do ex marido, porque  foi cobrar dele uma responsabilidade que ele já deveria saber e assumir.
Quantas famílias ainda passarão por isso?
Será que isso terá fim, ou é apenas o começo?
Verei sorrisos sem medos, janelas sem grades, lágrimas sem choros?
Verei um abraço fraterno, um beijo na testa, dedos entrelaçados e cafunés nas praças?
Quero crianças sorrindo, pais e mães correndo com seus filhos, cachorros latindo atrás das bolas nos parques.
Mortes, sangue, inocentes, grades, vidas perdidas, drogas, assaltos, vidas bandidas.
Esse é o meu mundo, esse é o seu mundo, essa é a nossa realidade.

Mariane Boldori

8 de nov. de 2010

Ode ao burguês

 Crítica feita por um grande escritor do Modernismo à classe da burguesia.
Ode ao burguês é o nono poema e também, o mais famoso da obra Paulicéia Desvairada foi lido durante a Semana da Arte Moderna 1922.
Após sua leitura a platéia teve sobressaltos e espanto, com tanta evidência nos versos de Ode ao burguês, dirigidos obviamente a eles ( platéia ).
O poema caracteriza uma fase do Modernismo marcada pelo empenho na destruição de um passado literário, político e cultural.
É um texto revolucionário do Modernismo e, com o termo burguês designa-se geralmente o inimigo ou seja aquele que fica indiferente e permanece preso ao passado. Isola-se do mundo e fica escondido em sua redoma de vidro observando tudo ao seu redor, porém sem tocar ou modificar nada. Isto é, nada faz a não ser, cuidar de si mesmo. Mário de Andrade nos diz claramente com outras palavras Ode ao burguês ( Ódio ao burguês).
Desfrute...







Ode ao burguês


Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"–Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
–Um colar... –Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burgês!...

Mario de Andrade

5 de nov. de 2010

Um pouco sobre nós mesmos...

Na verdade eu já havia assistido ao filme O Amor é Cego centenas de vezes.
Mas ontem foi diferente, ontem eu assisti ao filme com os olhos que o diretor e o roteirista quiseram passar: o que vale mesmo é o que está dentro de cada um de nós.
Talvez alguns me achem hipócrita, afinal a beleza dita nossos passos nos dias de hoje, mas observem: a mulher ou o homem que está ao seu lado, ou namorado, namorada que suporta suas TPM’s, seus momentos de fraquezas, é esse ‘’padrão’’ de beleza ditado no mundo?
A vida deixa marcas, a maturidade faz questão de dizer que bateu à nossa porta. Rugas contam nossas histórias, e a coloração dos cabelos brincam com o vento que passa por eles.
Quem somos nós para descartarmos esse ou aquele pela sua estética, cor da pele, altura...
Quem somos nós para aceitarmos ou não ao próximo?
E é cada vez mais gritante a solidão do ser humano, que prefere fazer filas em salas de bate papos da internet, a ir bater um papo com o vizinho de apartamento, ou de casa ( que com certeza ele ainda não sabe o nome ).
Como disse o Caetano sabiamente em uma de suas canções: ‘’É que Narciso acha feio o que não é espelho’’, mas não falemos aqui apenas da beleza física, mas também daqueles que possuem algum tipo de deficiência ou dependência, que se encontram hoje nas ruas, becos, esgotos.
Você já olhou nos olhos de um homem sujo, maltrapilho, deitado na rua, sob um papelão?
Você já parou para ouvir o quão rica pode ser sua história de vida, e que ele só quer uma mão amiga?
Embaixo da sujeira acumulada das andanças pelas ruas, das roupas rasgadas, do chinelo havaina remendado com um prego, da meia furada, há um ser humano. Há um alguém, um ser vivo, como você, como eu.
E por muitas vezes passamos por eles como se não existissem, até para as pedras damos importância, para que não machuquem nossos pés caso tropecemos em alguma, e porque não valorar o próximo?
Não falo aqui em religião.Falo no conceito puro de SER HUMANO.
Desgasta a TV anunciar que mais um marginal foi preso por tráfico, ou um chinês que tentava exílio em outro país para não ser morto, desgasta ver pessoas fechando o vidro dos seus carros quase apertando as mãos miúdas que são extendidas em troca de qualquer coisa.
Magoa o coração ao saber que algum amigo foi reprovado, mesmo tendo competência para o cargo, por ser negro.
Decepciona, e muito, você saber que sua amiga não foi aceita em tal loja por estar acima do peso.
Onde vamos parar?
O que estamos construindo e deixando para nossos jovens?
Um mundo de mesquinharias, de valores insanos, de impurezas, um mundo no qual não se sabe o que é ter e ser uma família.
Um mundo redondamente quadrado em paredes brancas de prédios altos, imponentes e cinzas.
Apavora saber que o amor perdeu espaço para o dinheiro. Apavora ainda mais saber que apreciamos o que é lúdico.


30 de out. de 2010

Ode à Morte - João C. Santos

Terça-feira, dia 02 de novembro, dia dos Finados.
Começo minha pesquisa na Internet para trazer a vocês algo meu, juntando aqui e acolá, e montando a minha visão sobre esse momento em nossas vidas.
Sabemos que há várias formas de se ver, sentir e entender a morte. Várias doutrinas e ciências a estudam, mas o que conta mesmo é o que vai em nosso coração quando perdemos um ente querido, um velho amigo de infância, pais, avós, filhos, um bicho de estimação, enfim... temos aqui na América Latina uma questão mais funda sobre a morte, sobre a perda, o desapego.
Nesse mês o ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, faleceu após uma parada cardíaca.
A fila de pessoas que queriam passar pelo caixão dele era de aproximadamente 03 horas.
Lembrei-me de Evita, Ayrton Senna,Luciano Pavarotti,Michael Jackon, e você lembrou de quantos mais que levaram filas ao seu velório, sem nunca terem tido sequer um contato físico com o morto.
Temos aqui a questão latina, o ‘’sangue latino’’, o apego, o carinho pelo que a mídia nos mostra, de várias formas.
Eu mesma me emocionei com a transmissão da Rede Globo no enterro de Lady Di, quando a mesma filmava aquela montanha de flores, milhares de pessoas carregando cartazes e lágrimas abundantes, crianças que sequer sabiam o que estavam fazendo ali.
Somos induzidos pelo ‘’sangue latino’’ a nos deixar levar pela lágrima, e quando nos perguntam o porquê do choro, apenas apontamos para a tevê e continuamos a chorar.
Somos emotivos, isso é bom, mas penso até que ponto é bom o apego, o não querer deixar ir a pessoa, que já cumpriu sua missão aqui na terra.
Entre tantos textos virtuais, um me tocou profundamente, e repasso ele a vocês.
Após a leitura tomei fôlego, um bom copo com água,e fiquei um tempo a refletir.Penso que ele trará diversas emoções a vocês também.
Boa leitura!



Ode à Morte

Procurava-te agora no anoitecer do meu descanso sem fé tentando apenas a mim enganar nas longas esperas de pé. A mim já não chegam os teus gritos de saudade, ouço apenas o eco do que temo já não ser verdade, sei que me perdoas este não saber o que ao menos fazer, também sei que só tu me sentes e me crês nas vezes que choro sem perder. Escrevo com a alma fechada da alegria que não quero amada como que em gesto turvo sem ser comparada me diz ao soletrar, existe assim, apenas sem amar.
O dia nasce triste sem o sol em riste para me seguir, acordo com a sensação de não ter adormecido que o meu corpo insiste em pedir na esperança que se faça ouvido o louco pedido. Guio-me aos caminhos negros passando rochedos onde não nascem trevos, que os meus o são num verde que deste a conhecer sem as mesmas folhas de sorte. São rosas de ventos desordenados sem os quatro tempos não valem nada, assim caminho apenas num sentido, apenas para Norte saberei que entro sem ser sincera morte.
A caminhada tem início sem ser sacrifício já me sinto a suar, a responsabilidade deste novo ofício que tanto lido com a dor sem nada haver com o perdido amor. A caminho do Norte da procura passeio-me pelos corredores do sofrimento onde encontro tantos lamentos, não olho a alma destes pobres sofridos em todos de nada perdidos que aqui procuram conhecer a calma. Mesmo o louco que me reconhece e me agarra as vestes, pede para o levar, procuro manter-me misterioso que em tudo sou muito vagaroso levando-me apenas a caminhar.
Outras há que não me falam, sem as olhar ouço as rezas tão sentidas que sinto acabar, moribundos desgraçados que quando se sentem no fim procuram tudo menos a mim. Sois tão fraco solene mortal, sentes a linha acabar e voltas acreditar em tudo sem amar. Deves achar-me selectivo que como tu não sou cativo, sou apenas sombra em que me descalço sem no chão tocar, transporto-me bem de leve apenas a levitar.

João C. Santos



27 de out. de 2010

Ode ao Livro - dia 29 de Outubro - Dia do Livro

Ler é um processo: ''encontrar seu jeito de ler. Encontra-te a ti próprio''.


Estou a refletir e sentindo tristeza por saber que não conseguirei ler, apreender e aprender toda a imensa literatura existente, pois não sou eterna.
Leio Virgínia Woolf, mas pensando em manusear Saramago, Machado de Assis,uma paixão que quero viver intensamente.
Surpreendo-me com as páginas de Ulisses de Joyce, Hamlet de William Shakespeare, Dom Quixote de La Mancha de Cervantes... e a lista continua.
Reflito em quanto ainda tenho que ler, inversalmente quanta literatura foi anulada, e algumas jamais recuperada.
Um exemplo, o nosso famoso Kafka entregou obras a Max Brod para que ele as destruísse, no entanto, ele as publicou. Graças a uma rebeldia de Max, temos acesso a essas obras que continuam vivas.
Graças a isso, podemos ler, refletir , mencionar e sentir a catarse acontecendo através da leitura.
Memo polêmica a frase de Ziraldo é seu mote para ajudar a transformar o Brasil em um país de leitores. ''Ler é mais importante que estudar''.
Refletindo seu mote vemos que, quando lemos uma obra, ela mexe conosco, transforma nossa forma de pensar. Mas não precisamos estudar? Sim, se lermos não apenas como lazer mas, por hábito, ler sobre todos os assuntos, sobre os acontecimentos mundiais, planetas, invenções, descobertas, curas para doenças, saber sobre tudo , através das obras que lemos. Ao lermos, enfim sobre tudo, não há necessidade de estudar, porém a leitura deve ser constante em nossa vida, e às vezes ela torna-se apenas lazer, por isso sim, precisamos estudar, porque lemos pouco.
Para um brasileiro fica difícil entender o livro desta forma, pois o nosso Brasil foi conquistado sob lutas, armas, matança, enquanto em outros países o livro fazia parte das conquistas.
O hábito da leitura ainda não foi instituido, mesmo sendo ela o alicerce de toda educação.
Segundo pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, 05% dos brasileiros que se auto-declaram leitores têm mais de 60 anos. Isso significa um universo de 4,6 milhões de pessoas. A média de leitura entre as pessoas de 60 a 69 anos é de 2,2 livros/ano  e, para quem tem acima de 70 anos, o índice é 1,3 livros /ano.
Temos que continuar batendo na mesma tecla - ler, ler, ler, pois há países onde a média é de 18 livros/ano.
Analisando tais números podemos pensar que jamais atingiremos algo próximo a esses 18 livros existentes em outros países, mas nada é impossível, basta darmos o exemplo às crianças, desligando um pouco a televisão, computador, celular, e nos conectando a um mundo novo, a um mundo mágico e que pertence apenas àquele que o possui, ou lê.
Mais do que simples páginas em branco com letrinhas miúdas, o livro é nosso mais íntimo amigo, que conhece nossos anseios, e sabe como nos orientar, basta abrir a primeira página.

22 de out. de 2010

Livro para que te quero, Livro!

"Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo comum e objetivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noite adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro da vida subjetiva. Árvores ramalham. De vez em quando passam passos. Lá no alto as estrelas teimosas namoram inutilmente a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa de seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra dimensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há lugar para dois passageiros: leitor e autor." - Augusto Meyer (1902-1970), "À Sombra da Estante".


Hoje me encontrei com uma amiga entre uma ruela e outra da livraria. Entre folhas e capas duras, conversamos sobre a importância das palavras, o quanto elas nos fascinam, e o quanto as palavras estão sendo trocadas pelos computadores e devaneios juvenis, sem objetivo algum.
Ao abrir um livro, começar pelo prefácio, passar a mão levemente sobre suas páginas, é um caso de amor sim. Poderá durar uma semana, um mês, um ano, ou a vida inteira, caso você o deixe sempre por perto e o releia quando sentir ''saudades'' do se sentir acariciar por suas linhas.
Podemos conhecer o mundo através de um livro, ou ir até a esquina. Podemos chorar, rir ou odiar fulano, cicrano ou até mesmo nós mesmos, enquanto nos infiltramos nas páginas e frases bem colocadas.
Sem nos importarmos com o final, devoramos histórias e guardamos um pedaço dela dentro de nós.


Um livro nunca será de um todo perdido. Mesmo que a história não nos agrade, ou o autor não esteja na lista dos favoritos, mas com certeza ao menos uma frase entrará profundamente em nós, e ali perceberemos o quanto valeu a pena ter aberto tal livro.
Toda a juventude deveria ir dormir e acordar com um livro novo a cada dia. Todas as crianças deveriam conhecer Ziraldo e seu Menino Maluquinho.
Não apenas Pelé e o samba.
Todos deveríamos ter uma grande varanda, onde o pôr do sol deixasse a violeta mais rosada, com um cachorro preguiçoso deitado sob a cadeira de balanço, enquanto os pássaros ciscando as quireras no chão, ouviriam, ainda que pela última vez, a minha leitura de Machado de Assis, Clarice Lispector ou até mesmo um poema escrito para um antigo amor, guardado a sete chaves na gaveta da nossa Alma. Abra seus braços e voe: leia um livro!

O porta-retratos

  Foto do google     Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater...