14 de abr. de 2015

Olhe para o lado


Era um sábado de sol, o azul do céu cobria a cidade de Curitiba. Um dia propício para almoçar com amigos e compartilhar histórias e risadas.
O almoço em questão fora um pão francês cortado ao meio, com um suculento pedaço de carne. À mesa, uma tigela com diversas frutas à nossa disposição. Pronto, ali estava o nosso banquete.
O dia transcorria, escolhi uma pequena mesa no canto. Sentei-me, e me preparava para degustar meu almoço quando ele se aproximou, pedindo para sentar-se comigo.
Com um aceno na cabeça, respondi positivamente, pois naquele exato momento mordia um pedaço do meu pão com carne.
Foi quando ele, chamando seu amigo, pediu que ele levasse algumas frutas e um pão com carne a um jovem rapaz que, do outro lado da rua, buscava algum alimento nas latas de lixo.
O senhor, gentilmente, levou pedaços de melancia até o rapaz. Ao voltar, ele sorriu e disse:
- Ele quase levou minha mão junto!
O homem que estava ali sentado ao meu lado, sorriu e seus olhos encheram-se de lágrimas.
Perguntei se estava tudo bem, ele disse:
- Está sim. Sou muito coração mole. Não posso ver pessoas com fome ou com frio. E saber que talvez, esses pedaços de melancia sejam o único alimento que ele tenha o dia todo, me traz desconforto.
Começava ali uma conversa que duraria 4 horas, com frases de otimismo, revelações do passado e volta às origens. Tanto dele quanto minha.
Ele me contou muitas histórias, não para se elevar a nível de santo, nada disso... tenho certeza de que Deus manda pessoas para nós, com as palavras e frases certas, quando estamos fragilizados. E foi o que aconteceu.
Aquele senhor me contando seu passado pobre, as perdas que teve e que, mesmo assim, jamais perdera a fé. Que a ajuda deve sempre existir, seja material, seja em palavras, seja em abraços ou apenas em olhares compadecidos.
Quantas vezes apenas passamos pela vida sem deixar marcas positivas? Quantas vezes apenas levantamos e não agradecemos a Deus por mais um dia de vida? Quantas vezes observamos seres vivos nas ruas, com frio, com fome, mendigando por algo, qualquer coisa, e simplesmente passamos reto, com olhar de desdém?
Aquele senhor, com os olhos marejados, sentado ao meu lado, não precisava fazer coisas assim. Ajudar pessoas a quem ele não conhece e que, provável, jamais receberá um “muito obrigado”. Mas ele aprendeu que a vida é um ciclo. E o fazer o bem sem olhar a quem tem o seu retorno positivo, leve o tempo que levar, mas o retorno virá.
Quantas vezes eu me doei a outra pessoa, nesses anos de vida? Quantas vezes deixei meus afazeres, ou pequenos prazeres para socorrer um amigo? Quantas vezes separei um pouco da minha comida e dei a outra pessoa? Quantos abraços de carinho, olhares de afeto ou sorrisos eu dei às pessoas?
E Deus coloca pessoas em nossas vidas com suas histórias, com seus exemplos para abrir nossos olhos e ouvidos.

E a sensação daquela conversa ainda perdura e, com certeza, algo se modificou dentro de mim. 

20 comentários:

  1. Que lindo encontro esse e que bom que permitiste que ele sentasse e falasse. Aqui em Poa nem isso podemos, temos que ter medo dos nossos semelhantes! bjs, chica

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  2. Amiga, belo texto reflexivo, pois é, é mesmo muito difícil ver pessoas passando necessidades, toda alma se incomoda com isso, seria muito bom se todos pudessem se doar, doar um pouquinho do seu precioso tempo para olhar para o lado!
    Amar ao próximo com a si mesmo é isso, ver e fazer algo, pequenos gestos que valem muito!
    Abraços linda amiga!

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  3. Lindo demais!
    Uma reflexão que sabe sempre bem ler,. e que todos deviam ler.
    Amei.

    Beijos

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  4. Ola Marli.fiz uma grande pausa em meu blog,como deves ter notado pela data da ultima postagem,e agora retornando adorei te conhecer e á teu lindo blog.Maravilhosa mensagem nos traz em teu excelente texto.Esperando novos encontros aqui deixo meu maior abraço.SU

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  5. Marli lindo o seu relato sobre o nosso amigo, realmente vc descreveu o que acontece em nossa cidade talvez por medo, insegurança ,timidez ou outro motivo qualquer perdemos com o tempo a sensibilidade de nos aproximar de pessoas que necessitam a nossa compreensão nosso afeto nossa amizade muito obrigado por fazer parte de nosso pequeno grupo de pessoas simples mas bem intencionada no sentido de fazer o bem um grande abraço Batista 14/04/2015

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  6. Um lindo relato que toca o meu coração e me faz ficar emocionado.
    Um abraço,
    Élys.

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  7. Nem sempre é possível assim,, beijo Lisette,

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  8. Bom dia querida Marli.. são os pequenos gestos que nos fazem tomar consciência...
    muitas pessoas vivem só para si, não compartilham nada nem consigo mesmas..
    tr a oportunidade de fazer algo mais certamente nos eleva.. depende de cada um de nós fazer um pouco mais e pararmos de reclamar da vida tão bela.. bjs e lindo dia

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  9. Marli, a tua prosa e deveras comovente para, quem tem o coração de manteiga. A lição que fica é sempre e que ficou explicita: "fazer o bem sem olhar a quem". Normalmente, escreve-se o que nos vai na alma. Nessa base, deixo parabéns!
    Beijos

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  10. Marli, li com atenção esta bela história sobre solidariedade e fé. Parabéns.
    Desejo a você um bom final de semana.
    Abraços.

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  11. Boa tarde, Maravilhoso texto que emociona, li e reli.
    AG

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  12. Linda reflexão!! Que possamos dividir nosso pão, nosso tempo, nossos ouvidos e nossa atenção com quem precisa!

    Bjs

    www.lucadantas,blogspot.com.br

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  13. Boa noite Marli
    Que conto emocionante.
    E esta mensagem de solidariedade jamais será esquecida.
    Fazer o bem sem esperar reconhecimento ou gratidão
    Uma bela lição minha amiga
    Beijos e uma linda semana

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  14. Estima, Marli Terezinha Andrucho Boldori.

    Que bom ler o teu texto.
    Nada na vida acontece por acaso, penso eu.
    Belo, lindo, emocionante e refletivo, a sua crônica.
    Feliz tudo.
    Um abraço.

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  15. Maravilha, bem escrito. Um post que busca aquele bem-estar interior que todos desejamos e pouco praticamos!

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  16. Olá amiga!
    Passei para apreciar suas postagens interessantes, sempre com lindas poesias e mensagens edificantes, matar saudade e deixar o meu abraço e desejar-lhe um Domingo de muita paz e um início de semana abençoado.
    Abraços da amiga Lourdes Duarte.
    http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/


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  17. Obg por ter partilhado este comovente relato...
    É preciso estar atento ao outro, pois o que dá sentido à vida é estarmos sempre com o olhar fora do nosso umbigo.
    BJO, querida Marli :)
    (Gosto imenso de ouvir as pessoas narrando suas ricas vivências)

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  18. Olá, Marli.
    Uma dessas experiências que nos trazem à lembrança o verdadeiro sentido da vida.
    Não podemos acabar com a miséria no mundo, mas podemos diminuir a de alguém que temos ao nosso lado.
    bjo

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