30 de nov. de 2020

Escritora afro-brasileira saindo do anonimato

     


   

    A curiosidade me deixou obstinada para saber mais sobre a história de duas mulheres que foram confundidas por muitos anos, a escritora gaúcha Maria Benedita Câmara (1853-1895), conhecida como Délia e a escritora Maria Firmina dos Reis (1822-1917), da cidade do Maranhão. Entre as duas escritoras há a grande obra “Úrsula, 1854”. Não há explicação para que a autora de “Úrsula”, que hoje é considerado o primeiro romance afro-brasileiro, uma obra pioneira da literatura antiescravagista do Brasil foi confundida com outra escritora, que era gaúcha. “Úrsula” foi publicada no período do Romantismo, e é apontada por uma visão marcante no que se refere ao discurso das minorias no século XIX, há a inovação de um discurso que rompe com a tradicional visão do negro revelada nos romances da época. Maria Firmina foi um exemplo de mulher que teve acesso à educação, mesmo sendo afro-brasileira, pode-se afirmar que a educação foi a forma encontrada para que a autora manifestasse sua visão crítica à sociedade em que vivia.        Essa obra foi um ótimo instrumento para que a autora denunciasse as injustiças praticadas livremente em uma sociedade autoritária e patriarcal que, no Brasil, era percebida por alguns intelectuais e, sobretudo, pelas minorias mais afetadas, como o negro e a mulher, e mais pelo fato deste precursor ter partido de uma mulher afrodescendente, e foi o primeiro livro brasileiro a se posicionar contra a escravidão e a partir do ponto de vista de escravos – antes mesmo do famoso poema Navio negreiro, de Castro Alves (1869), e de A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães. Com o passar dos anos, tendo apenas um livro publicado, o nome de Firmina desapareceu, a causa do desconhecimento com certeza foram as denúncias e críticas. “O assunto de que tratava era insalubre demais, uma fala antiescravista em uma das províncias mais escravistas do Brasil. Não a levaram a sério localmente, não queriam ouvi-la falando. E ela não teve como levar seu texto para outros lugares.” Maria Firmina foi esquecida por décadas, sua obra só foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida em um sebo no Rio de Janeiro – e, hoje, seu rosto verdadeiro continua desconhecido: nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães está uma gravura com a face de uma mulher branca, retrato inspirado na imagem da escritora gaúcha, com quem Firmina foi confundida na época. O busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão também a retrata “embranquecida”, de nariz fino e cabelos lisos, e Maria Firmina dos Reis era mulata, bastarda e não pertencia a uma família opulenta, e foi a primeira voz feminina que registrou a temática do negro com a publicação da obra Úrsula. Esta obra foi editada pela primeira vez em 1854 em São Luís do Maranhão, assinada pelo pseudônimo de “Uma Maranhense”, um recurso bastante utilizado no século XIX, principalmente entre as mulheres e por isso, ela enfrentou o esquecimento da sua obra. Interessante observar que a população de Guimarães sabia que o quadro não era de Maria Firmina, porém ninguém ousava retirá-lo da parede porque fora doado por uma pessoa de grande importância. A professora Régia Agostinho, visitou a cidade de Guimarães, em 2012 durante um trabalho de pesquisa para a sua tese de Doutorado sobre a escritora, e, em 2013 após concluir sua tese voltou à cidade e o quadro havia sido retirado, e como Maria Firmina não deixou nenhum retrato ou desenho de sua pessoa, o engano perdura. Ainda do nascimento até a publicação de Úrsula, em 1854, há várias lacunas, inclusive foram encontradas duas datas para a obra “Úrsula” 1854 e 1859. Um fato extremamente interessante quando Maria Firmina foi aprovada em concurso público, em 1847 para professora de primário, cargo que exerceu até se aposentar em 1881. No momento de receber o título, Maria Firmina se recusou a ser levada sentada em um tipo de madeira sobre o ombro de escravos, uma tradição na época. "Negro não é animal para se andar montado nele", teria dito, e foi a pé. Há muito a ser pesquisado sobre a história dessa escritora, sua obra com 244 páginas, que registra um emocionante romance afro-brasileiro. Ela morreu aos 92 anos, cega, pobre e sem a exaltação merecida.

16 de nov. de 2020

Lançamento Livro - Estrada Azul

Estrada Azul 

Podemos afirmar que a leitura é a base para o conhecimento de toda a sociedade, pois ela impulsiona para a libertação de pensamento, e impele à prática do exercício da cidadania. A leitura nos faz conhecer novos lugares, novas pessoas, novo vocabulário, enfim, a leitura é extremamente importante para nós. Os leitores das cidades irmãs estão de parabéns, pois na noite do dia cinco de novembro, quinta-feira próxima passada, às 19h, no restaurante Le Copain, União da Vitória, PR, recebemos um grande presente cultural, que nos foi entregue pelo advogado Arthur Henrique Kampmann: uma obra literária com o título de “Estrada Azul” , com a qual faz sua entrada triunfal no mundo dos escritores. Como todo escritor, Arthur consegue colocar no papel suas emoções, seus sonhos, juntando-os com a nossa realidade; seus poemas mexem com nossas emoções, isso porque, quando o poeta nos entrega sua obra, ela passa a ser nossa, nós é que vamos fazer a leitura que convém a nossa alma. Veio-me à memória quando Clarice Lispector representou o Brasil em um Congresso, em Bogotá, onde faz a leitura de seu conto “O Ovo e a galinha”. Ao ser questionada sobre o significado do que leu, ela responde: não sei, agora este conto pertence a vocês, cada um apreende dele o que lhe vem à alma. O mais importante é que as boas leituras levam a uma epifania, pois transformam a vida de tantas pessoas, de forma irremediável e permanente. Discordo do grande poeta Fernando Pessoa quando disse que “O poeta é um fingidor”. O poeta é com certeza um grande mágico, pois ele garimpa belas palavras, e com elas faz sua magia na sua escrita, e ser um escritor e um mágico não são tarefas fáceis, nem todos conseguem executar tão árduo trabalho, porque, para trabalhar com as palavras e fazer mágicas fantásticas, é preciso ter mãos certas, o que demonstra o grande poder do poeta. A obra “Estrada Azul”, de Arthur Henrique, nos mostra quanto poder têm as palavras, pois ele poetou sobre muitos temas como: o amor, a paixão, o sonho, a morte, o mundo, o invisível, a ilusão e outros, não há a mínima possibilidade de elencar um ou dois melhores poemas nesta vasta obra de poesias. O poema que tão garbosamente leva o nome da obra “Estrada Azul” me trouxe uma reflexão de sentimentos, que ultrapassaram os limites do meu sentir interno, penso que houve uma conexão com tudo que é universal. O lirismo que há em seus poemas faz com que nossa alma se encontre com o mundo das emoções nos poemas de Arthur Henrique. Hoje, você está inserido no mundo das letras com um passaporte maravilhoso de cor azul, ele o levará a galgar degraus nem sempre fáceis, porém, às vezes, eles se tornarão íngremes, no entanto são as dificuldades ao registrar suas emoções, suas histórias, seus relatos, que darão sentido a tudo que entregará ao seu leitor, porque escritor é aquele que tem o poder de descrever suas emoções em uma folha de papel, transformando-as em realidade e fazendo com que muitos leitores se encaixem nesta sua “pseudorrealidade”. Segundo Schopenhauer “Imitar o estilo alheio significa usar uma máscara. Por mais bela que esta seja, torna-se pouco depois insípida e insuportável, porque não tem vida, de modo que mesmo o rosto vivo mais feio é melhor do que ela", por isso, é extremamente interessante observar que o autor de “Estrada Azul” criou uma maneira muito peculiar para escrever seus poemas e não sentiu medo da solidão como cita Franz Kafka: "... Escrever significa abrir-se em demasia. [...] Por isso, não há nunca suficiente solidão ao redor de quem escreve; jamais o silêncio em torno de quem escreve será excessivo, e a própria noite não tem bastante duração". Tive a honra de fazer parte desse lançamento.

 Parabéns, Arthur Henrique Kampmann!, meu ex-aluno!

Imagem TV Mill - União da Vitória - PR


A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...