12 de jun. de 2019

O namoro em tempos modernos




     Ouvimos muito “No meu tempo o amor era diferente”, penso que não é o amor, mas a forma de conquistar este amor.
    Mês de junho, dia 12 é quando no Brasil, comemoramos o “Dia dos Namorados”, e, nesta data é comum a presença do romantismo através de flores, jantares, presentes, viagens, nos Estados Unidos e na Europa, o Dia dos Namorados é celebrado em 14 de fevereiro, data também conhecida como Dia de São Valentim (Valentine’s Day).
   No passado, o romantismo estava à frente do prazer, que era vivido em sua totalidade, o que trazia rubor na face, mãos suadas, gaguejo, às vezes, muitos até faziam o papel de bobos, por tanto constrangimento, que precisavam enfrentar diante da família toda. E tudo era bonito, mesmo que tudo fosse estabelecido pelos pais, o namorado precisava expressar seus sentimentos baseado em delicadezas e romantismo, que no namoro atual ficou mais difícil de encontrarmos. E, ainda havia a severa vigilância, por isso, o namoro não demorava muito para chegar ao casamento.
   Atualmente, há mais liberdade no namoro e grande parte do romantismo se perdeu, pois o foco está no prazer, porém não podemos ser radicais, pois ainda existem casais que vivem com uma grande dose de romantismo.
  Podemos lembrar como era o flerte, a troca de olhares, os bilhetinhos, hoje tudo virou xaveco, (gíria) conversa de quem quer conquistar alguém. O namoro no portão de casa, sob os olhares dos pais, as cartas de amor,  (eram estipulados os dias de visita do namorado), as quais supriam a saudade, e tudo isso, foi para as telinhas dos computadores.
  Se voltarmos um pouco mais no tempo, vamos relembrar dos casamentos arranjados pelos pais dos noivos ou namorados, os quais perderam a força quando os jovens começaram a frequentar bailes, casa de amigos, grandes cafés, mas no namoro ainda faltava a privacidade, aí entravam as belas e lindas cartas de amor, que me fez lembrar o filme, “Cartas Para Julieta”, de 2010, assinado pelo cineasta americano Gary Winick que acertou em cheio na comédia romântica.
  Muitas cartas de amor de antigamente, dariam hoje, um excelente filme.
E, também havia os namorados mais ousados, que enfrentavam a noite para com seu violão fazer uma serenata para a amada.
    Em tempos mais distantes, havia códigos entre os jovens, devia ser interessante conhecer os sinais e ficar observando, pois a maioria flertava através de pequenos sinais, mas com imenso significado.  Os sinais entre os homens eram feitos através do cigarro ou mais chique, o charuto, até um passar de dedo na ponta do nariz comunicava, um lenço que era lançado ao chão, um gesto de limpar o suor do rosto, e outros códigos, que davam oportunidades aos casais de se encontrarem às escondidas.  As mulheres se utilizavam de vários tipos de flores, cada uma com um tipo de mensagem: algumas queriam dizer: “Começo a te amar” e “Declaro-me a ti!”, porém só aos homens era dada a permissão da iniciativa. Caso a gravidez acontecesse, a mulher era expulsa da família, ou se a família tinha posses ela viajava, passava um longo período fora, e quando voltava sem o bebê, tudo ficava bem.
    Sempre havia uma pessoa da família, (prima, tia, irmã) que ajudava o casal a marcar encontro, entregar cartas e, quando o namoro dava certo, o rapaz devia ir pedir o consentimento dos pais dela, e daí em diante podiam sair, mas sempre acompanhados, e com horário marcado para a volta. Hoje, no lugar de cartas de amor, os jovens mandam mensagens pelo celular, pedir o número do telefone da menina passou a ser:
-Pode me dar seu WhatsApp, você tem MSN?
Precisamos aprender muito sobre o amor.
Palavras sábias de Clarice Lispector,
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.”
 Que o “DIA dos Namorados”, seja repleto de romantismo a todos os casais, e que a idade não seja empecilho para  dar e receber flores, jantar e até bombons!

1 de jun. de 2019

A dor da fome



      Nas reuniões de conselho de classe os professores se reúnem para discutir alguns problemas, possíveis soluções e outros fatos pertinentes, à ocasião da reunião. Todos que sentaram nos bancos escolares, (seja como professor, aluno ou pai), sabem o que é conselho de classe.
    É o momento em que todos os professores têm a chance de comentar seus problemas em relação aos seus alunos e ouvir a opinião de toda a classe docente. O resultado costuma ser satisfatório, pois há muitas soluções, as quais são analisadas e tira-se a melhor escolha.
Lembro-me perfeitamente de um pequeno menino, franzino, vinha a pé, de uma distância considerável, pois se percebia que era de uma família com certas dificuldades, porém de uma educação e meiguice louváveis.
    Neste dia de conselho de classe, o nome dele foi citado, alguns professores que ainda não conheciam a história do pequeno, perguntaram ao grande grupo o que havia de errado com ele, pois era esforçado demais, mas parecia estar sempre cansado querendo dormir na carteira.
    Depois de tantos anos, ainda me vem à memória o rostinho do pequeno menino, eu tinha um carinho especial por ele, meus cuidados eram extremos, parecia que eu o defendia como se fosse a sua mãe. Muitas vezes eu levava a ele um pequeno embrulho, que lhe passava sem que os demais alunos percebessem, eu trazia a ele um lanche, pois soubera por ele que nunca dava tempo de tomar café, tinha que levantar muito cedo para ajudar ao pai com os irmãozinhos, porque sua mãe estava muito doente.
Notava-se nele que passavam por muitas dificuldades, e que a comida era escassa, ele fingia que não dava tempo de se alimentar pela manhã, mas nem café devia haver em sua casa.
  Nas escolas estaduais e municipais é servida merenda a todas as crianças, mas ele ganhou bolsa integral em um colégio particular, onde não se servia merenda. Ele jamais pediu nada, vinha sempre com seu uniforme impecável, material em ordem e lições feitas, após as aulas ele sempre ficava um tempo a mais para aproveitar a biblioteca, e ter paz para fazer seus deveres. Estava sempre sozinho.
   Voltando ao assunto do comentário do professor, percebi que nenhum dos colegas sabia o real motivo dele parecer desmotivado nas aulas. Ele tem fome, falei a todos que eu sabia um pouco da história triste dele, os meus colegas sentiram na alma o problema. O que fazer para resolver? Nosso diretor, como sempre bom de coração disse:
-Todos os dias ele deve tomar café aqui, no colégio, serviremos uma boa refeição para ele começar bem, o dia de estudo.
    O menino foi avisado em particular, para não melindrar seu coração, foi lhe dito que como a mãe estava doente, e o pai sem tempo para fazer seu café, ele poderia fazer a primeira refeição no colégio, assim que ele chegasse, antes do início de todas as aulas, ele deveria tomar seu café. Confesso que a mudança foi extraordinária, ele parecia ser outro menino, cheio de vida. Pudemos ir mais além, pois como ele ficava aguardando a biblioteca abrir, começou a almoçar lá também.
   E assim, passaram-se os anos, o pequeno menino já adolescente continuava fazendo suas refeições no colégio, nunca lhe foi perguntado se ainda precisava comer ali, mas era óbvio que tudo lhe fazia bem.
O tempo não perdoa ninguém e passou rápido, ele se formou e nunca mais soube dele.
   Certa noite, eu estava em um evento, e ao meu lado uma jovem começou a falar comigo, perguntando se eu era a professora do tal colégio.
   Como encontramos nossos ex-alunos em todos os lugares, sem reconhecê-la perguntei se ela havia sido minha aluna. Ela me respondeu que não, mas seu noivo sim, e sempre falava sobre mim para ela. Fiquei surpresa e curiosa, queria saber quem era ele.
Quando me contou, veio-me à lembrança o meu pequeno aluno. Ela me falou que ele terminou o ensino superior, e continuava fazendo cursos específicos à sua profissão. Senti que fizera a diferença na vida daquele pequeno menino, e que hoje é um homem realizando seus sonhos.
Que Deus o abençoe!

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...