26 de jun. de 2018

A Síndrome do Isolamento



       Atualmente, muito se fala sobre isolamento das pessoas, e a cada dia há um aumento assustador de indivíduos que preferem viver isolados a terem que enfrentar seus medos fora de casa. Há a situação inversa também, as que preferem ficar sozinhas, quem de nós já não preferiu somente a nossa companhia, para meditar, sentir saudades, ouvir uma boa música, ler um livro, mas sem a companhia de outra pessoa, podemos dizer que isso é normal e nos faz bem, porque precisamos de um tempo só nosso, porém, precisamos tomar cuidado quando o isolamento social possa refletir doenças, como depressão,"bullying", doenças que devem ser analisadas e medicadas.
    O isolamento social também conhecido por “social withdrowal”, de forma,às vezes  até involuntária, a pessoa acaba se afastando cada vez mais, até ficar totalmente excluída do convívio social.
   Certa noite na TV Cultura, assisti a um capítulo da série TERRADOIS, apresentada pela Maria Fernanda Cândido, série que une dramaturgia e psicanálise. Em um certo momento ela falou sobre a Síndrome de Hikikomori. No Japão, significa literalmente a síndrome do isolamento em casa. Parece algo tão distante de nós, portanto, até terminologia para os sintomas já existem. O termo Hikikomori, foi designado pelo Doutor Tamaki Saito, no ano de 2000, para indicar pessoas, no Japão que se isolaram completamente, de tudo e de todos, não saem de casa para nada. Convivem, se assim podemos dizer apenas no mundo virtual e fazem tudo através dele, jogos, compras, conversação, e para isso mudaram sua rotina de vida, passaram a dormir de dia e passar acordados à noite, usam sua casa como uma prisão, no entanto sem estarem presas.
   Foram feitos vários questionamentos, será que a pessoa não deseja mais sair de casa ou simplesmente não consegue por alguma razão que ela desconhece.
     Essa síndrome foi percebida primeiro no Japão, mas com a explosão da mídia, outros países estão sendo afetados. Na França “ Síndrome do Isolamento Social Agudo”. Os espanhóis, descrevem como a “Síndrome da Porta Fechada”. Muitos pais preocupam-se com seu filhos fechados em seus quartos, a síndrome da porta fechada, muito comum entre alguns jovens . Muitos pais reclamam que seus filhos não fazem as refeições à mesa, junto à família, e quando a refeição é deixada do lado de fora da porta, fica a dúvida se estão se alimentando, porque nota-se que alguns vão às aulas com muita resistência, e ainda mais não fazem a higiene pessoal, e ao voltar da escola correm se fechar novamente. Passam a demonstrar dificuldades para acompanhar os estudos, ficam alienados, pois não conseguem tomar decisões e assim começam a se afastar cada dia um pouco mais.
Para sair do isolamento social é muito importante que as pessoas se abram a novas experiências, conheçam novas pessoas, façam amizades, porém torna-se muito difícil que uma pessoa o faça por vontade própria. Acima foi citado o isolamento de jovens, no entanto, isso reflete o mundo de pessoas de todas as idades.
   Os nossos jovens estão se direcionando para o mesmo caminho ou quem sabe já estejam nele, pois quanto mais tempo permanecem nas redes sociais, mais aumenta o risco de se habituarem ao isolamento.
Há épocas em que precisamos nos isolar para nos sentirmos livres, mas precisamos estar bem conscientes desse estado.
De acordo com a página in·tel·li·gent·si·a - CIÊNCIA E ALÉM-
“A tecnologia digital está aumentando nossa tendência de isolamento há tempos, mas hoje em ritmo sem precedentes. Na década de 1990, estudiosos passaram a chamar a contradição entre a maior oportunidade de manter contato com outros e a real ausência de contato humano de “paradoxo da Internet”.
    É um paradoxo visível, pois atualmente, até podemos observar casais de namorados  almoçando juntos e se comunicando através de mensagens com o celular.
    “John Cacioppo, diretor do Centro para Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago, o principal especialista mundial em solidão, diz em seu livro Lonliness, lançado em 2008, que a epidemia de solidão está afetando as funções básicas da fisiologia humana.”
    A responsabilidade de soluções para que haja mudança, nesse quadro, pertence não apenas aos pais, mas a todos que estão preocupados com a solidão social.

13 de jun. de 2018

O Trem em minha Vida






    Para falar em ferrovia, temos que falar da máquina de ferro. A maioria das pessoas viajava de trem, o povo, personalidades, autoridades, claro que havia a primeira e segunda classe. Na minha adolescência, o apito do trem significava muitas coisas, primeiro a alegria da chegada de cargas, pessoas, correspondências. Eu morava próximo à linha do trem, ouvia-o a distância, e, muitas vezes, juntamente com amiguinhos que por ali residiam, ouvíamos, e só quem ouviu vai entender esta onomatopeia: piui! piui!
O apito servia como marcador de tempo ou até instrumento para avisar a população sobre alguma calamidade; como relógio, as pessoas sabiam de onde vinha o apito e calculavam a hora do dia, e, quando o último sibilar acontecia, todos sabiam que era tempo de silenciar e repousar. Na enchente de 8 de julho de 1983, a Maria-Fumaça se pôs a acordar os moradores para que se salvassem do aguaceiro e auxiliassem seus amigos. Interessante lembrar o poema de Manuel Bandeira, “Trem de Ferro”, o qual usei com um grupo de crianças para fazermos o barulho das rodas nos trilhos de ferro. A escolha das palavras e repetição do verso “Café com Pão”, “Café com Pão”, a sonoridade das palavras do verso, produziam uma sequência de sons que nos reportavam ao barulho proveniente do deslocamento de uma locomotiva sobre os trilhos. O guarda-chaves manobrava os desvios e entroncamentos dos trilhos, trabalho importante e de grande responsabilidade, e quando o trem se aproximava de um trilho com outro destino, a máquina de ferro simplesmente deslizava feito serpente, à outra linha. Em tempos de chuva ele usava uma enorme capa para se proteger. Foram tempos repletos de alegria, víamos vagões com ripamentos separados por grandes frestas para o ar entrar, eram os vagões gaiolas, pois viajavam carregados de animais, e sempre havia alguma pessoa meio dependurada; era o guarda-freios, responsável por vigiar e manobrar os freios dos vagões segundo instruções do maquinista, e cuidava para que tudo ficasse bem. Os vagões que transportavam madeira iam totalmente abertos. A Estação ainda hoje é um marco histórico, foi inaugurada em 1942, um pátio apenas, de um lado, Porto União, SC, e de outro, União da Vitória, PR. Quem descia do trem e precisava atravessar para o outro Estado passava por um túnel, que na época fervilhava a imaginação das crianças. Era uma atração, aos domingos, passear com os pais e atravessar pelo túnel. Acima de nossa cabeça o enorme relógio, o som do sino da estação se sobrepunha aos outros, quase nada se ouvia a não ser o maravilhoso rebimbar do bronze, que era tocado pelo agente do trem, avisando a saída, era hora de embarcar. Ele usava um quepe que o diferenciava dos outros funcionários, pela cor. A plataforma era imensa e repleta de pessoas que iam e vinham. A ferrovia sempre teve muita importância para o Brasil e demais países, e nossas cidades estavam sempre em segundo lugar em faturamento, até 1970, a partir de quando, infelizmente, começou a declinar até o total abandono.
      A Maria-Fumaça, a famosa 310, ainda é a atração em nossas cidades. Houve momentos de glória, quando ela foi posta em movimento e fazia viagens turísticas até a Estação de Engenheiro Melo. Ao chegarmos, tudo estava bem organizado e alguns vendedores locais aproveitavam a chegada de cada jornada para vender os seus quitutes, havia de tudo. Com certeza, a 310 vai voltar aos trilhos, para nos levar e matar a saudade de viagens maravilhosas, verdadeira aventura dentro do vagão de passageiros.
     Com onze anos de idade, fiz uma viagem de trem até Ponta Grossa, eram quatro lugares, assentos virados de frente para podermos conversar. O chefe de trem, bem uniformizado, passava pelos bancos, para conferir se tudo estava correto, e picotava as passagens, havia um senhor de quepe de cor cáqui, que vendia guloseimas, às vezes ficava sentado na última poltrona do trem. Fantástico lembrar o balanço do trem, o barulho da fricção dos trilhos, a alegria de todos,  a paisagem que podíamos observar emoldurada através da janela: colinas, planícies, rios, lagos, casas, animais, o trem viajava vagarosamente, literalmente arrastando-se sobre os trilhos, serpenteando rios, colinas, e nossos olhos  tudo gravavam, pois  a máquina de ferro não corria, o que era ótimo. Podíamos ver, nos trilhos paralelos, os turmeiros, como os conhecíamos na época, iam de um trecho a outro de vagonete, movido por eles mesmos.  Com seus braços fortes faziam a troca de dormentes, limpavam os trilhos, juntavam as pedrinhas que sempre se espalhavam além da linha, era uma equipe de funcionários permanente no serviço.
    Os trilhos do trem ainda hoje representam uma viagem possível, mesmo na imaginária.

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...