23 de dez. de 2022

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!


 

Que neste Natal e, em todos os dias do próximo ano, possamos fazer de Jesus nosso melhor amigo, pois Ele é o maior motivo desta e da nossa existência.

Que possamos embrulhar em nossos braços as pessoas queridas, as pessoas simples, as pessoas pobres, as pessoas que precisam da cura, as pessoas que precisam de um abraço, as que precisam do perdão, as que precisam ter mais fé, enfim todas as pessoas, que necessitam de amparo, que são com certeza, os melhores presentes, que poderemos ofertar.

 Vamos diminuir o barulho, caminhar mais devagar, prestar atenção nas pessoas que estão ao nosso lado, abaixar a cabeça e colocar a humildade pra funcionar. Somos grandes, quando somos pequenos.

Em todos os momentos difíceis Ele nos diz:

-Estarei contigo todos os dias até à consumação dos séculos. Não temas, porque eu estou contigo!

Desejo a todos os meus amigos do Naco de Prosa um Santo e Feliz Natal!

23 de nov. de 2022

Tempo acelerado, literatura reduzida




Na semana que passou aconteceu um fato extremamente curioso, que me levou a várias interrogações. Pedi a uma amiga que lesse o que eu estava lendo. Ela olhou para mim e com uma fisionomia estranha me disse:- Sério, você quer que eu leia tudo isso, agora, e no papel? 

Pensei que fosse pura brincadeira, pois o texto muito interessante, na minha opinião, era de uma lauda, o que significa umas trinta linhas. Por ser assunto de muito interesse e também conhecido por ela, a leitura lhe traria maiores esclarecimentos ao seu projeto, que estava em andamento. Ela percebeu meu desapontamento e explicou-me que estava com pouco tempo para realizar muitas tarefas. Ela sempre foi uma pessoa ativa na leitura, mas com hábitos digitais mais dominantes, percebi que ela não lia como antes, livros físicos, textos e jornais.

Completou dizendo que perdia menos tempo lendo na internet, e afirmou: o tempo está voando cada vez mais, e completou: aprendi e gostei muito de ler textos condensados. Lembrando que texto condensado é o que foi resumido ao essencial (do conjunto de fatos ou ideias de uma obra). Passei um bom tempo analisando o comportamento e resposta que ela me havia dado. Será que o tempo está mais acelerado ou nossa rotina faz com que a informação recebida já familiar, seja processada mais rapidamente, o que não nos deixa perceber que o tempo passou.

Continuei analisando o fato ocorrido e lembrei-me de que tempos atrás foi me solicitado um conto minimalista. Considerados microcontos: é um texto com início, meio e fim, específico e direto ao ponto, tem como limite inferior 37 letras e 50 palavras de limite superior. Um conto minimalista quando menos é mais. Menos tempo para ler e mais tempo para interpretar? Confesso que tive dificuldade em colocar minhas ideias com tão poucas palavras. 

A literatura minimalista não é novidade, pois já aparecia nas famosas fábulas de Esopo, porém foi a partir da metade do século XX que ganhou força, interesse e visibilidade. Com o avanço da tecnologia de comunicação e o advento das redes sociais, a rapidez do nosso tempo parece pedir justamente a brevidade e velocidade da microliteratura. Será que devido ao tempo, que parece voar vamos usar mais o lema minimalista? 

Menos coisas, mais espaço, menos distrações, mais tempo, menos compromissos, mais disponibilidade, menos projetos, mais produtividade, menos consumo, mais criação, menos bugigangas, mais coisas realmente importantes. Porém, continuamos ouvindo, o tempo está voando, até os cientistas confirmaram uma sensação peculiar dos últimos tempos: o mundo está mais acelerado. 

E não é figura de linguagem. No mês passado, a Terra completou a rotação mais rápida até hoje registrada, encerrando a contagem de 24 horas com 1,59 milissegundos a menos. Li uma matéria, extremamente interessante, que explica que não temos mais um dia de 24 horas e sim de 16 horas. Não vamos nos ater aqui sobre um ligeiro desvio no eixo de rotação do planeta, mas sim sobre a sensação de que ‘o tempo está voando’. “O tempo é uma ilusão. A única razão para o tempo existir é para que tudo não aconteça de uma vez”. Em 2020, as rotações foram completadas mais rapidamente em 28 ocasiões. Será que enquanto o tempo literalmente voa, os textos, poemas, contos, crônicas, notícias e outras formas de literatura tendem a ser de tamanho reduzido?


25 de out. de 2022

A honestidade que ainda surpreende

O combustível para o crescimento das vendas online, com certeza, foi a pandemia. No Brasil, porém, esse aumento foi além, e lidera o ranking de crescimento das vendas online, com 22,2% no ano de 2022. Além disso, estima-se um crescimento das compras online de 20,73% ao ano, entre 2022 e 2025”.

Dois fatores cruciais influenciaram o forte crescimento das vendas online no Brasil.

O primeiro deles foi a pandemia, uma vez que, com as lojas físicas fechadas, diversos brasileiros passaram a realizar sua primeira compra online. Ao encontrar facilidade na compra, métodos de pagamento instantâneos e entregas rápidas (diversas lojas com entregas em 1 dia útil), muitos deles se tornaram consumidores recorrentes.

A facilidade que temos hoje em relação às compras, era inimaginável há uns 10 anos. Ainda mais em nossas cidades, em que chuvas e frio não nos encorajam a sair para ver vitrines e as melhores ofertas.

Confesso que no começo, tinha “pé atrás” com a tecnologia e suas facilidades, foi uma conquista morosa, mas que teve um final feliz.

Entre uma compra e outra, eis que recebo uma mensagem do vendedor pedindo desculpas e perguntando se ele poderia finalizar a minha compra como entregue, pois no meio do caminho houve um problema, e iria atrasar, e sem este aval de recebido, o produto iria voltar e iria demorar ainda mais para eu receber.

Confesso que fiquei em dúvida, são tantos golpes nos dias de hoje, mas arrisquei, afinal, se eu tivesse algum problema, eu tinha as conversas gravadas e o Procon para me amparar. Sendo assim, respondi que poderia encerrar a venda sim, e que eu aguardaria o produto.

Porém, minhas dúvidas de que eu receberia a mercadoria aumentaram, porém no dia seguinte, logo nas primeiras horas, a campainha tocou, e lá estava ele, o entregador com o meu pacote.

Agradeci aliviada, confesso.

Após conferir o produto, fui até minhas mensagens arquivadas e agradeci ao vendedor pela honestidade e comprometimento comigo.

Aí comecei a pensar em algo que antes, não havia me dado conta: eu agradeci por uma pessoa ter sido honesta.

Algo que deveria ser corriqueiro, que não precisaria de agradecimentos, virou algo raro: a honestidade desceu da prateleira, e raramente é encontrada.

Vezes ou outra nos deparamos com histórias como: fulano encontrou dinheiro em um saco dentro do lixo e devolveu ao dono, ou sicrano encontrou o cachorrinho desaparecido e não aceitou a recompensa, ou beltrano viu cair do bolso do cidadão algum dinheiro e foi atrás para devolver.

É tão raro que vira manchete de primeira página.

Fico pensando em que caminho nos perdemos?

Não quero entrar em questões religiosas, apenas me pergunto onde está a empatia? Porque para mim, é claro que se houver empatia, há honestidade, não faça com o outro o que você não quer que façam com você.

Claro que eu mandando aquela mensagem de que estava tudo bem, e agradecendo, trouxe alívio para o vendedor também, mas a obrigação dele era ser honesto, não pela venda em si, e para manter sua reputação, mas por ele ser humano, assim como eu, e também passar por situações similares ao longo da vida.

Comprar online é rápido, fácil e muito prático. Uma das primeiras vantagens ao escolher comprar pela internet, é justamente a da comodidade.

Basta vencermos o medo e a insegurança e fazermos boas compras.


imagem Google


31 de ago. de 2022

Jô Soares

 Aqui tem feito dias de céu azul e, às vezes, cinza.  Lembro que justo neste dia, o céu estava azul, a temperatura agradável, ainda estava deitada, quando fui checar as notícias no celular. O dedo foi deslizando na tela, quando parou em uma notícia, a qual eu realmente não queria para começar o meu dia. Não que fosse meu parente, ou pessoa mais próxima, mas nos apegamos, sentimos carinho e admiração, nós respeitamos. E naquela manhã, ler sobre a morte de José Eugênio Soares, fez o céu ficar, de repente, cinza. Jô era desses artistas completos, como costumam chamar por aí, apresentador, ator, comediante, diretor, produtor, dramaturgo e artista plástico. Poliglota, falava português, francês, espanhol, inglês e italiano. Atuou e dirigiu quinze ou mais espetáculos. Apresentou-se em palcos, telas e, era engajado à literatura, unindo o humor ao jornalismo. Entrevistou mais de quinze mil personalidades brasileiras e internacionais. Criou personagens e bordões, que marcaram a TV brasileira. Suas críticas com pitadas de humor, eram encontradas em suas personagens no programa como: “Viva o Gordo”.

Além das telinhas, telonas, palcos, pudemos acompanhar o brilhantismo de Jô em páginas de livros, escreveu nove livros que se transformaram em best sellers, como foi o caso de o Xangô de Baker Street. Em 2016, entrou para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, seu patrono era Teófilo Dias.

Jô foi o precursor de talk show no Brasil, entre artistas consagrados e novatos, ele conseguia extrair o melhor dos seus convidados.

Enquanto eu lia a notícia, uma história de um tempo bom foi passando em minha cabeça, tempo esse em que podíamos um pouco além, em que críticas eram aceitas para que se melhorasse tal situação, e não para ofender ou rebaixar a alguém.

Lembro da família reunida, lembro do relógio marcando meia-noite, e eu segurando o sono para assistir ao último bloco do programa.

Lembro do bordão, lembro de Jô brincando com a banda ou com o seu fiel escudeiro e garçom.

São tantas lembranças, momentos de como a vida é feita.

Lembro também de críticas a ele, seja por uma personagem, ou pela vida real em relação ao seu filho, também falecido.

Muitas vezes, as pessoas confundem a realidade com a ficção, e muitas outras não sabem da história a fundo e apenas criticam pelo sabor de criticar.

Jô é digno de aplausos, desses raros artistas que dão chance a outros que estão começando ou já esquecidos, de pessoas anônimas, mas de grande importância para o Brasil.

Deixa um legado admirável, sua história não será esquecida, e quiçá, eu ainda possa ver nascer um artista tão completo quanto ele.

“O Jô só pensava em uma coisa: repartir o pão da alegria”.

“Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria, e até há uma frase, que ele adorava, de um ator inglês, Edmund Gwenn que dizia o seguinte: ‘morrer é fácil, humor que é difícil’. Ele disse essa frase no leito de morte. E ele, agora nos últimos dias no hospital, voltou a repetir essa frase: ‘viver não é problemático, difícil é fazer humor'.

Em um ano em que o Brasil perde tanta gente importante, Jô Soares fará muita falta, como amigo, como artista, como ser humano.

E mais uma luz se apagou nos palcos da vida.

 


ImagemGoogle


2 de ago. de 2022

Estamos na Jornada do herói


 


“A aventura usual do herói começa com alguém de quem algo foi tirado, ou que sente que falta algo na experiência normal disponível ou permitida aos membros da sociedade. A pessoa, então, embarca em uma série de aventuras além do comum, seja para recuperar o que foi perdido ou para descobrir algum elixir que dá vida. Geralmente é um ciclo, uma vinda e uma volta.”

Joseph Campbell autor do clássico “O Herói de Mil Faces”, no qual ele conceituou a chamada do herói nos mitos, lendas, romances, fábulas e filmes modernos. Como estudioso norte-americano de mitologia e religião comparada ele decodificou os códigos de todas as civilizações desde que o mundo é mundo e tenham registro. Percebe-se que todo herói se origina de uma pessoa comum, sem muitos talentos, sem pretensões, apanha da vida e, às vezes sofre com discriminações. Não havia o conhecimento que temos hoje, então os antigos utilizavam histórias fantásticas com acontecimentos reais para dar um pouco de sentido à aventura da vida. Envolviam Deus, semideuses, criaturas sobrenaturais, heróis com grandes feitos.

Joseph Campbell após décadas de estudo chegou à conclusão de que a mesma estrutura era encontrada na história da humanidade como a história de Maomé, Buda, Jesus, Moisés, Albert Einstein, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi e muitos outros. Falam sobre a ascensão de homens comuns a heróis. Esta estrutura é inflexível e infinita e, está presente também em sua vida, em minha vida, em nossa vida.  Seguem alguns títulos de filmes onde podemos perceber melhor a existência da estrutura de Campbell:

 O Mágico de Oz -(Dorothy). (Alice)- Alice no País das Maravilhas. De Volta para o Futuro- (Marty Mcfly). O Senhor dos Anéis- (Frodo). Harry Potter -Hermiane Granger. Matrix-Keanu Reeves. Toy Story-Buzz Lightyear. São alguns exemplos com histórias famosas que seguem sempre a mesma estrutura.

O herói sempre precisa de um mentor para lhe dar um empurrão, um conselho, mostrar-lhe o que fazer. O mentor é sempre uma figura especial como um livro, uma mensagem, um filme, um professor, um amigo, um padre, um médico e, aparece quando é necessário. Alguma coisa acontece e há o chamado para resolver alguma situação, porém o herói não sente que é capaz de fazer algo pelo bem maior. No entanto, quanto mais se recusa, mais a vida bate. Então, aparece o mentor que tem a função de despertar alguém para o chamado. Todos somos heróis e temos um chamado, porém somos heróis vivendo uma vida medíocre por não saber que somos heróis e, que podemos fazer muito pelo bem maior, sendo assim sofremos, no entanto com a dor aprendemos, pois o sofrimento nos educa. A jornada do herói se conecta com cada pessoa de maneira consciente ou inconsciente, provoca muitas emoções, pois mesmo sendo ficção possui elementos humanos. De repente, temos um personagem com uma vida comum, e surge um grande desafio, situação difícil, assustadora. O chamado por exemplo pode ser por diversas coisas, fatos ou pessoas.

 Neste caso, para exemplificar, a situação é de doença, e, é necessário fazer a escolha, sair da zona de conforto, o que se torna imensamente difícil.

Há a decisão: sair ou permanecer.

Há o medo, que é paralisante, e a insegurança maior: Não sou capaz.

A decisão deve ser tomada sem demora, pois, tudo tem seu preço e tempo. Mas o medo do desconhecido traz a insegurança, e tudo fica parado no tempo.

 Aí, surge o mentor, para ajudar, aconselhar, dar o empurrão inicial, e o desafio é aceito. É cruzado o limiar do conhecido e o desconhecido e, inicia-se a viagem para a chegada ao final.  Nem há necessidade de muito conhecimento nesta fase, pois não será útil aqui. Unem-se o chamado ao destino e às pessoas certas, as quais com a experiência que têm aparecerão neste momento, que é a hora certa. A jornada não será solitária. Então surge o herói, que percebe que toda a força está dentro dele. Basta mergulhar em si, e o poder vem à tona.

 Porém, haverá muitas situações em que tentarão enfraquecer o herói, quando isso acontece ele deve sempre subir à superfície, e assim voltar à vida, que não será mais a mesma. A volta será de uma pessoa mudada, transformada com os conhecimentos adquiridos durante a jornada.

O retorno será com um elixir, uma cura, um prêmio, um dom, ou outras coisas.

Vivemos e viveremos várias “jornadas do herói” em nossas vidas. E sempre haverá muitos amigos (mentores).

“A jornada do herói” não deixa de ser um método comprovado para se contar boas, belas e interessantes histórias.

9 de jul. de 2022

07 de julho, Dia Mundial do Chocolate

O mundo de chocolate 

Maravilha seria um mundo de chocolate 
montanhas, riachos, nadar no mar 
de chocolate meio amargo, meio doce, 
meio preto, meio branco, 
nuvens areadas e o sol bem longe 
para nada derreter. 
E quando as nuvens apontassem para a chuva 
hora de correr e comprar os saudosos guarda-chuvinhas 
de chocolate. 
Que maravilha seria o mundo de chocolate! 
caminhar entre bombons e brigadeiros. 
E ao findar o dia sentar na varanda para 
espiar o sol se escondendo 
dando lugar à lua 
que triste implora: 
não quero ser de queijo, 
quero ser de chocolate!





23 de jun. de 2022

Pinhão a semente da Araucária

Nos arredores da cidade de União da Vitória, a qual fica no estado do Paraná, há muita araucária. No outono e inverno a semente do pinheiro é colhida, o gostoso pinhão. As famílias fazem passeios pelos campos para juntar os pinhões que insistem em cair, a pinha se desfaz e tudo vem ao chão. Em uma tarde de um dia muito frio, daqueles em que a geada custa a ir embora, um grupo de quatro crianças, amigos que moravam na mesma rua, estudavam na mesma escola e tinham idades aproximadas, dez e onze anos, foram juntar pinhões. Guilherme estava sempre com sua irmãzinha do lado, ela era a menor com nove anos, ele era responsável por ela, principalmente quando se afastavam de casa. Porém Lorena, como era chamada, era muito espevitada, vivia pondo-se em perigo ao entrar em grutas, dizia que ia pesquisar. Tinha sempre uma pastinha com uma caderneta, lápis, régua e caneta. Porém, sempre atrapalhava os planos dos meninos, que ficavam irritados com Guilherme por ter trazido “a mala” como a chamavam. No entanto, ela fingia que não ouvia os xingamentos. O objetivo das crianças era apanhar muito pinhão e vender em pequenas quantidades. Fizeram uma reunião e decidiram quem faria as atividades. Primeiramente, todos colheriam o máximo de pinhão, que ficaria em um monte, após tudo colhido e escolhido, Guilherme e o amigo separariam as quantidades com peso aproximado, claro que a irmãzinha ficaria com eles. Os pacotes vazios foram sendo guardados há tempos, depois de cada compra que as mães faziam. Deixaram tudo organizado, colocaram o preço em cada pacote. Após isso resolveram fazer uma pequena fogueira para sapecar pinhões, era costume em todas as famílias, assim cada um foi juntar sapé, (galhos secos dos pinheiros) para o fogo. Tudo pronto, o fogo com pequenas labaredas recebeu punhados de pinhões, muitos estouravam ao contato com o fogo, a alegria das crianças era vibrante. Alguns minutos depois todos comiam os gostosos frutos do pinheiro. De repente, Guilherme percebeu que Lorena não estava por perto, saiu gritando por ela, e nada. Pediu aos amigos que o ajudassem a procurá-la. O sol ia se pondo e nada da pirralha aparecer, Guilherme a princípio pensou que ela estivesse brincando de se esconder, mas quando o vento gelado começou, ele sabia que o caso era grave. Correu em busca da ajuda dos pais, muito assustados pediram ajuda aos vizinhos. Todos correram para ajudar a encontrar a pequena. O frio aumentava, todos estavam vasculhando com muito cuidado todos os lugares possíveis. Gritavam o nome dela, o cachorrinho de estimação dela também entendeu a situação e começou a correr farejando aqui e ali. As lanternas já estavam sendo acesas, pois a noite chegara, tudo era um breu, a escuridão era quebrada pelas estrelas em um céu límpido. Percorreram muito chão, passaram-se muitas horas. Guilherme sentiu as lágrimas rolarem pelo seu rosto. O medo de perder a irmã já o deixava horrorizado. Todos se perguntavam: onde ela poderia ter ido? A busca foi muito intensa, as lanternas acesas já davam um clima de horror. A maioria dos vizinhos usava uma madeira, tipo estaca para ir tocando o terreno. Parecia cena de filme. O tempo corria, mas nada de encontrar Lorena. A mãe dela não conseguiu prosseguir ficou sentada à espera de notícias. O pai estava muito nervoso suava como estivesse em uma sauna. Todos já estavam com medo do resultado da busca. Totó, o cachorrinho se afastou muito e logo começou a latir, aguçando os ouvidos de todos. Correram para ver de onde vinham os latidos e ao lado dele, sob uma enorme pedra escura, bem protegida do vento, Lorena dormia profundamente. Foi uma festa, gritos de: achamos! achamos! foram ouvidos de longe. A menina acordou assustada, pois estava alheia aos acontecimentos. Seu pai a pegou no colo, abraçou-a e disse: -Por que veio tão longe sem avisar? Ela já desperta e consciente do acontecido respondeu: -Papai eu faço pesquisas, preciso andar muito para encontrar material. Todos agradeceram a Deus. O frio estava congelante. Cada um tomou o caminho de casa para uma noite tranquila.

28 de abr. de 2022

Medo da nossa finitude

 


 

O medo de pensar na velhice é o medo da nossa finitude é um fardo enorme para suportarmos. Envelhecer e morrer está entre os temas que mais nos assustam. Desviamos esses pensamentos, e nos distraímos com as alegrias e os desafios diários ou buscamos consolo nas igrejas. No entanto, ao fazer isso, nos privamos do nosso elixir da vida: quando encaramos a existência da morte e a certeza de que não somos eternos, valorizamos mais os dias e conseguimos aproveitar a vida em sua plenitude, vivendo realmente o presente.

Viver é envelhecer, nada mais. Assim pensava Simone de Beavoir.

 Viver apenas? Não, é preciso viver alimentando paixões pelo que nos faz bem, pelo que nos faz sorrir, gargalhar, cantar, dançar, amar a vida em sua plenitude. “Manter o olhar curioso e ter a liberdade de sermos nós mesmos – hoje e sempre – apesar das dores, desilusões ou dificuldades do caminho”.

A velhice nunca foi tão estudada, e o envelhecimento é vivido de maneira diferente entre homens e mulheres sem radicalizar. A maioria das pessoas tem medo da morte, medo da dor, e algumas não se sentem com coragem para enfrentar, as dores, as rugas, os hospitais, a tristeza. Assim como um dos maiores galãs do cinema internacional, Alain Delon. Dono de uma situação privilegiada. Teve um (AVC) em 2019. Recuperou-se bem, mas já decidiu que não quer mais viver, simples assim, não quer mais viver, não quer sentir dor, porque envelhecer é muito difícil para ele. Mora na Suíça onde a eutanásia é permitida. Ele disse que quer partir sem dor, sem qualquer sofrimento, simplesmente desligar-se da vida. Disse que já viveu muito e tem idade para deixar de viver. Escolheu pelo mais fácil. Será que a idade é um pré-requisito para morrer?

Às vezes, comentamos sobre o falecimento de uma pessoa. E a resposta é:

- Ah, mas ele já tinha idade para isso, viveu muito.

 Cora Coralina, que teve seu primeiro livro publicado com quase 76 anos – ela morreu com 96 –, e de uma frase que li e cuja autoria é remetida a ela: “O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada.”

Há muitos estudos sobre esses assuntos. “Existe um conceito para o temor extremo da morte: tanatofobia e gerontofobia é o nome da síndrome que define aversão ou medo patológico de pessoas idosas ou do processo de envelhecimento.”

Vivemos grande parte da nossa vida nos protegendo da ansiedade da morte o que nos rouba muito tempo, quando poderíamos viver com mais alegria.

Muitas pessoas procuram desesperadamente uma carreira de sucesso, que lhes proporcione fama duradoura; acumulam cada vez mais coisas para terem a sensação de permanência; o desejo de ter filhos como uma forma de deixar um legado; passam boa parte do tempo se ocupando com várias coisas. Tudo isso, de alguma forma, são estratégias para não lidar com a realidade de que um dia, mais cedo ou mais tarde, deixarão de existir. E o medo de envelhecer?

- Por que o ser humano tem medo de envelhecer?

 A nossa sociedade enxerga que a velhice está diretamente associada a doenças, perda de mobilidade, rugas na pele, e por isso, as pessoas têm receio de envelhecer. A grande valorização da juventude contribui para o preconceito contra a velhice, e a sociedade é a maior cobradora.

Os produtos de beleza estão cada dia mais diferenciados, prometendo grandes milagres, o desejo de um corpo sempre bonito, valores estéticos cobrados mais que os valores morais, assim desenvolve e dissemina mensagens em que a beleza externa nada mais é, do que um reflexo direto da existência de uma beleza interna correspondente, o que é negativo.

 “Você pode viver até os cem anos se você desistir de todas as coisas que fazem você querer viver até os cem.”  Woody Allen

Devemos trabalhar no sentido de estar de bem com a vida, com a nossa idade. Fazer coisas novas, conhecer novos lugares, novas pessoas, pois o novo nos rejuvenesce. “Não se deve viver temendo a morte, nem amar a vida de tal forma que seja uma tragédia sair dela”.

Todos sem dúvida querem prolongar a juventude, por isso, negam a morte, nossa cultura faz isso.

Podemos voltar e rever porque as mulheres pensam de maneira diferente.  Mostram uma velhice cheia de amor próprio. Estudos confirmam que as mulheres têm mais cuidados com a saúde, procuram estar sempre de bem com a vida, mais saudável, mais exercícios, os homens relutam mais quando o assunto é cuidar de si. Os grupos sociais auxiliam muito a vida das pessoas. É extremamente importante termos sempre por perto um amigo, uma amiga a quem recorrer.  Há homens e mulheres, portanto não vamos generalizar.

Estamos vivendo mais. Segundo Karpf: “Esses homens e mulheres passam a ser vistos como um fardo. E, pior, as pessoas não se enxergam como idosos, parece um futuro que não pertence a elas”. Como vamos lidar bem com o próprio envelhecimento se olhamos para isso com medo e sem admiração por quem já chegou a essa fase da vida? “O envelhecer é um processo que começa no nascimento, nunca cessa e sempre tem o potencial de enriquecer nossa vida”.

 

O medo de pensar na velhice é o medo da nossa finitude é um fardo enorme para suportarmos. Envelhecer e morrer está entre os temas que mais nos assustam. Desviamos esses pensamentos, e nos distraímos com as alegrias e os desafios diários ou buscamos consolo nas igrejas. No entanto, ao fazer isso, nos privamos do nosso elixir da vida: quando encaramos a existência da morte e a certeza de que não somos eternos, valorizamos mais os dias e conseguimos aproveitar a vida em sua plenitude, vivendo realmente o presente.

Viver é envelhecer, nada mais. Assim pensava Simone de Beavoir.

 Viver apenas? Não, é preciso viver alimentando paixões pelo que nos faz bem, pelo que nos faz sorrir, gargalhar, cantar, dançar, amar a vida em sua plenitude. “Manter o olhar curioso e ter a liberdade de sermos nós mesmos – hoje e sempre – apesar das dores, desilusões ou dificuldades do caminho”.

A velhice nunca foi tão estudada, e o envelhecimento é vivido de maneira diferente entre homens e mulheres sem radicalizar. A maioria das pessoas tem medo da morte, medo da dor, e algumas não se sentem com coragem para enfrentar, as dores, as rugas, os hospitais, a tristeza. Assim como um dos maiores galãs do cinema internacional, Alain Delon. Dono de uma situação privilegiada. Teve um (AVC) em 2019. Recuperou-se bem, mas já decidiu que não quer mais viver, simples assim, não quer mais viver, não quer sentir dor, porque envelhecer é muito difícil para ele. Mora na Suíça onde a eutanásia é permitida. Ele disse que quer partir sem dor, sem qualquer sofrimento, simplesmente desligar-se da vida. Disse que já viveu muito e tem idade para deixar de viver. Escolheu pelo mais fácil. Será que a idade é um pré-requisito para morrer?

Às vezes, comentamos sobre o falecimento de uma pessoa. E a resposta é:

- Ah, mas ele já tinha idade para isso, viveu muito.

 Cora Coralina, que teve seu primeiro livro publicado com quase 76 anos – ela morreu com 96 –, e de uma frase que li e cuja autoria é remetida a ela: “O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada.”

Há muitos estudos sobre esses assuntos. “Existe um conceito para o temor extremo da morte: tanatofobia e gerontofobia é o nome da síndrome que define aversão ou medo patológico de pessoas idosas ou do processo de envelhecimento.”

Vivemos grande parte da nossa vida nos protegendo da ansiedade da morte o que nos rouba muito tempo, quando poderíamos viver com mais alegria.

Muitas pessoas procuram desesperadamente uma carreira de sucesso, que lhes proporcione fama duradoura; acumulam cada vez mais coisas para terem a sensação de permanência; o desejo de ter filhos como uma forma de deixar um legado; passam boa parte do tempo se ocupando com várias coisas. Tudo isso, de alguma forma, são estratégias para não lidar com a realidade de que um dia, mais cedo ou mais tarde, deixarão de existir. E o medo de envelhecer?

- Por que o ser humano tem medo de envelhecer?

 A nossa sociedade enxerga que a velhice está diretamente associada a doenças, perda de mobilidade, rugas na pele, e por isso, as pessoas têm receio de envelhecer. A grande valorização da juventude contribui para o preconceito contra a velhice, e a sociedade é a maior cobradora.

Os produtos de beleza estão cada dia mais diferenciados, prometendo grandes milagres, o desejo de um corpo sempre bonito, valores estéticos cobrados mais que os valores morais, assim desenvolve e dissemina mensagens em que a beleza externa nada mais é, do que um reflexo direto da existência de uma beleza interna correspondente, o que é negativo.

 “Você pode viver até os cem anos se você desistir de todas as coisas que fazem você querer viver até os cem.”  Woody Allen

Devemos trabalhar no sentido de estar de bem com a vida, com a nossa idade. Fazer coisas novas, conhecer novos lugares, novas pessoas, pois o novo nos rejuvenesce. “Não se deve viver temendo a morte, nem amar a vida de tal forma que seja uma tragédia sair dela”.

Todos sem dúvida querem prolongar a juventude, por isso, negam a morte, nossa cultura faz isso.

Podemos voltar e rever porque as mulheres pensam de maneira diferente.  Mostram uma velhice cheia de amor próprio. Estudos confirmam que as mulheres têm mais cuidados com a saúde, procuram estar sempre de bem com a vida, mais saudável, mais exercícios, os homens relutam mais quando o assunto é cuidar de si. Os grupos sociais auxiliam muito a vida das pessoas. É extremamente importante termos sempre por perto um amigo, uma amiga a quem recorrer.  Há homens e mulheres, portanto não vamos generalizar.

Estamos vivendo mais. Segundo Karpf: “Esses homens e mulheres passam a ser vistos como um fardo. E, pior, as pessoas não se enxergam como idosos, parece um futuro que não pertence a elas”. Como vamos lidar bem com o próprio envelhecimento se olhamos para isso com medo e sem admiração por quem já chegou a essa fase da vida? “O envelhecer é um processo que começa no nascimento, nunca cessa e sempre tem o potencial de enriquecer nossa vida”.

31 de mar. de 2022

Leite sem o olhar da vaca





Estava ouvindo uma contadora de histórias, que havia se voluntariado para atender um grupo pequeno de crianças. Eu por conhecê-las resolvi ficar no fundo da sala. E a professora estava contando histórias sobre as diferenças de viver no campo/ roça e na cidade. Começou perguntando se alguém já havia vivido no campo, dando sequência, perguntou às crianças quem já havia tomado leite quentinho tirado da vaca. Fez uma introdução relatando como ela mesma esperava com uma canequinha esmaltada, junto ao vovô, que tirava o leite. Continuou falando que era muito bom, pois o vovô deixava até uma espuminha sobre o leite. Era delicioso sentir aquele aroma e sabor frescos, bem branquinho, era inexplicável. Percebeu que nenhuma criança havia se manifestado, e estavam com os olhinhos arregalados. Intrigada, ela repetiu a pergunta. E nada. De repente, ouvimos uma vozinha sumida dizendo:- eu nunca tomei leite de vaca, só de caixinha, que meu pai compra no mercado. Então as crianças foram criando coragem e falando:- eu também não, eu também não. Uma delas completou; na minha casa nem tem vaca, mas tomamos leite sempre, vem na caixinha ou no pacote. Quieta, porém surpresa percebi que aquelas crianças não sabiam que o leite vinha da vaca. E que ela não dá leite, pois precisa ser tirado. Houve um silêncio enorme, e, enquanto a professora dava uma aula sobre o assunto desconhecido pela maioria das crianças, eu viajei nas minhas reminiscências da infância. Quando meu avô ordenhava as vacas, era um tempo bom, esperava para tomar o leite quentinho, meus primos quando iam visitar o vovô, também aproveitavam o momento maravilhoso, e cada um de nós possuía a sua canequinha esmaltada, algumas até com o esmalte machucado. Hoje a situação é diferente. Penso que não há mais esta condição gostosa de tomar leite tirado na hora. Meu avô, recebia a ajuda de um moço para o trabalho que fazia. Vovô precisava levantar todos os dias pelas quatro e meia da madrugada, para separar o bezerro da vaca, pois se os deixasse juntos ele acabaria mamando todo o leite. Este ritual acontecia sempre, mesmo aos domingos e feriados. É claro que era reservado o leite para o filhote.

Interessante contar que na hora de tirar o leite, o que era feito todos os dias, meu avô amarrava as patas traseiras da vaca, para que ela ficasse bem quietinha, e não desse um coice nele enquanto a ordenhava, fato curioso na época, e que mexia comigo era que o bezerro ficava amarrado perto da mãe, um lugar onde ela pudesse vê-lo, porque assim ela soltava o leite, pensando que era para o filho, mas na verdade ia para o balde. Às vezes, o bezerro não queria sair, ficava deitado tranquilo, longe da mãe, o que dificultava que ela soltasse o precioso líquido. Mas logo tudo se ajeitava e o leite descia.

 

Meu avô morava próximo de outros leiteiros, e logo um deles, mas abastado adquiriu ordenhas mecânicas. Fomos convidados para conhecer a tal máquina que tirava o leite sozinha. Era meio assustador, mas a modernidade é assim. O vizinho de vovô estava muito feliz, pois tudo ficou mais fácil. E o dinheiro veio mais rápido.

 

Lembrei do Lima Duarte que falou: E o olhar da vaca?  E o amor da vaca ao soltar o leite? Perdeu-se com nosso modo de viver. Bebemos o leite sem o amor da vaca.

 

Nem precisam do bezerro, aplicam hormônio natural, e ela libera o leite. Sabemos que ainda existem muitos leiteiros que fazem a ordenha manual, não é proibido, mas não haverá mais adultos, que tenham uma história linda da canequinha com leite cheio de espuma, tirado na hora. Porém, ainda existe o “camargo”, a origem deste nome falaremos em outra oportunidade.

 

Os gaúchos da Serra, certamente, já ouviram falar sobre a bebida deliciosa chamada camargo. O assunto sempre volta quando os dias frios chegam. Ele é a combinação do café quente com o leite tirado direto da vaca. O resultado é uma bebida forte e saborosa, que pode não agradar a todos os gostos, mas que, segundo os adeptos da tradição, garante um calorzinho nas manhãs congelantes do inverno. “Uma das principais características da bebida é ser preparada e consumida logo de manhã cedo, na primeira ordenha do dia. Faz bastante sentido: o trabalho no campo exige uma opção rápida e que forneça energia.”

 

Com certeza sem a canequinha esmaltada e sem o olhar da vaca.


17 de mar. de 2022

Jornalista Lulu Augusto

Queridos amigos, estou voltando depois de uma longa ausência. O motivo foi tratamento de saúde, ainda estou em recuperação de uma cirurgia, mas me sentindo bem para visitar seus espaços. Gratidão a todos!

Minha crônica é uma homenagem a amiga jornalista, que fundou o Jornal Caiçara em União da Vitória, e batalhou muito por ele.





 

Escrever sobre pessoas é uma tarefa extremamente difícil, principalmente se ela veio para fazer a diferença no mundo e fez, entregando algo a mais do que lhe foi pedido, realizou mais do que deveria, e surpreendeu a todos com seu exemplo de missão. Minha homenagem é para esta grande mulher, Maria da Luz Augusto, a nossa querida Lulu, mulher que não vivia em sua zona de conforto, pois sua batalha era maior para que ficasse sem ação, vivendo despreocupadamente.

Tarefa árdua escrever sobre tão importante mulher, mas gratificante pelas vitórias de lutas travadas pelo bem e pela justiça.  

Interessante lembrar o que Clarice Lispector disse sobre a mulher.

O destino de uma mulher é ser mulher. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. Quando eu ficar sozinha, estarei seguindo o destino de todas as mulheres.

 E Lulu era uma representante da mulher. Mulher que o tempo ensinou. Ensinou a amar a vida e jamais desistir de uma luta, se preciso fosse recomeçava na derrota, e seguia em frente para sentir o sabor da vitória. Lulu aprendeu a viver em tempos rudes. Conviveu com muitas contradições, viveu-as como lições de vida e as usou como muita sapiência.

Sofreu por ser mulher em um tempo em que tudo era em favor do homem, e ela viveu à frente de seu tempo, uma vanguardista.

Lulu possuía uma enorme parcela consciente e combativa, ideias de justiça. Foi pioneira desbravando arduamente caminhos da cultura, do teatro, da novela, do jornalismo, da poesia. Para ela não existia a palavra impossível. Era sinônimo de esforço e determinação.

Sempre tive grande admiração por ela, seus conhecimentos iam além em vários assuntos. Frequentemente eu a visitava para degustarmos um saboroso cafezinho, o qual era regado com boas conversas sobre seus poemas, seus desenhos e suas pinturas, gostávamos de falar sobre seus projetos, suas dificuldades em realizar certas coisas, que eram de grande importância para a população de nossas cidades. Por ser mulher, solteira, batalhadora, guerreira sentia o ciúme de certas “mulheres”. Infelizmente, hoje ainda existem mulheres que se abalam com o sucesso da outra. O que deveria ser motivo de união, inspiração e garra para que com sua força auxiliar a companheira quando fosse necessário. Lulu não se abalava com essas pequenezes, e sempre dizia: na boca das recalcadas sinto-me poderosa, e era. Lulu nunca foi princesa, pois trocou a coroa por uma couraça. Quando eu a questionava sobre tantas dificuldades para realização de certas situações ela respondia:- construí uma couraça a minha volta, nada me derruba. E quando tentam me derrubar, me equilibro para cair em pé, jamais vou sucumbir perante nenhuma limitação. Ela era assim, forte e cabeça erguida, passou por grandes tribulações, sempre pela justiça. A história de vida desta grande mulher é às vezes, intrigante, vale a pena saber tudo. Um fato muito chocante foi quando ela escreveu a novela “O crime do Iguaçu”, ocorrido em uma zona de meretrício, episódio real, que envolveu presumidamente pessoas influentes das cidades. Lulu em cada capítulo colocava um pouco da verdade, ocorrida na ocasião em que a menina Zilda foi morta. No último capítulo, tudo mudou, e ela foi ameaçada e proibida de colocar a novela no ar, estavam prontos para prendê-la.

Porém, algo extraordinário aconteceu, muitas meretrizes se uniram em torno da rádio onde estava sendo transmitida a novela, e não deixaram que a prendessem. Foi um marco nessa história, porém o último capítulo foi proibido de ir ao ar. E assim, era a nossa valorosa Lulu, abriu muitos caminhos para o reconhecimento de sua capacidade. Foi protagonista na execução de todos os seus projetos e sempre foram e continuarão sendo garantias da construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária.

Primava sempre “Pela liberdade de expressão, por uma sociedade menos desigual e em repúdio a intolerância e ao preconceito”.

Todas as histórias da Lulu, foram consagradas e são dignas de conhecimento geral. Interessante frisar que nossa jornalista possuía uma certa semelhança com Virgínia Woolf como podemos observar neste texto.

“Tranque as suas bibliotecas se quiser; mas não há nenhuma porta, nenhum cadeado, nenhum ferrolho que você pode colocar sobre a liberdade da minha mente”.

Lulu Augusto merece todas as homenagens a ela destinadas.

O porta-retratos

  Foto do google     Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater...