25 de set. de 2018

Nos tempos da Enciclopédia Barsa

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      Lembrando em conversa sobre os tempos em que havia a reunião de colegas da escola para fazer trabalhos de pesquisa, era sempre uma festa, pois havia sempre uma mesa farta com guloseimas que minha saudosa mãe preparava para nós. Tínhamos a Enciclopédia Barsa em casa, eram livros grandes e pesados, porque possuíam conteúdo sobre assuntos de diversas áreas do conhecimento e eram divididas em verbetes organizados em ordem alfabética. Meus pais sempre primaram pelos estudos dos três filhos e seguiam rentes a caminhada para o aprendizado na escola e, a Enciclopédia Barsa sempre foi a grande companheira para os trabalhos, os encontros para estudo nunca foram uma obrigação, mas uma oportunidade a mais, para aprender.
    As pesquisas deviam ser feitas em casa, nos era dado um período para a entrega, assim sendo nos reuníamos em algumas tardes para o estudo, que nos possibilitava uma rica interação com os membros da equipe, não havia discussões para ver quem seria o líder. Uns levavam a sério, outros nem tanto. O assunto dado era lido, discutido dentro do possível e um membro do grupo registrava em um caderno de borrão, como era conhecido na época. É claro que muitos trechos eram fielmente copiados, pois ainda não possuíamos o poder de síntese.
Levávamos muitos dias para concluir um pequeno trabalho de pesquisa, mas Barsa possuía tudo. Ela foi idealizada em 1959, por Dorita Barrett, sua família era dona da Enciclopédia Britânica, a Barsa foi lançada na década de 1960, e sucedeu a Enciclopédia Britânica, tornando-se assim a primeira Enciclopédia brasileira, foi desenvolvida por um corpo editorial brasileiro e tendo o jornalista e escritor Antônio Callado como o redator-chefe da primeira edição.
   Voltando ao assunto da pesquisa, a equipe era formada por cinco alunos, número estipulado pela professora. Havia uma organização muito significativa. Era determinado para cada um, uma função para que o trabalho ficasse excelente.
Um aluno era escolhido para as primeiras anotações, outro para a leitura dos textos selecionados, o terceiro formulava algumas perguntas, os dois últimos tinham o trabalho de finalizar tudo. Usávamos folhas de papel almaço, com margens perfeitas elaboradas com régua de madeira, só podíamos usar a frente da folha, pois a folha de trás ficava marcada com os vincos das letras. Para passar o trabalho a limpo, na folha definitiva precisava ser dono de letra bonita, o que era difícil. O pior era que se houvesse rasuras não havia perdão, era necessário começar tudo novamente. Mas como dizia Aristóteles: "O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra". E, se fosse preciso recomeçaríamos quantas vezes fosse necessário. Penso que esse era um árduo trabalho, pois os demais já estavam se deliciando com os quitutes, e dois apenas suando sobre as folhas brancas. Sem esquecermos a capa, que era uma folha de papel almaço com o título do trabalho, constando nela o nome da equipe.
  No cabeçalho da folha inicial do trabalho, devia constar o nome da escola, nome completo da professora, disciplina, (talvez não nesta ordem) local, data, nome do aluno ou alunos e título bem centralizado.

  Terminado o trabalho, outra tarde era reservada para a conclusão de tudo que foi escrito e aprendido.
   O trabalho de pesquisa parecia imenso, com diversas folhas de papel almaço, um calhamaço, pois o volume era muito significante. Pensávamos, então que com tantas folhas escritas, o trabalho de pesquisa seria digno de nota máxima.
   Finalmente, precisávamos unir todas as páginas, era usado um grande e pesado grampeador, e com muitas dificuldades e várias mãos tudo ficava pronto.
   Com o tempo e com a popularização da internet, as enciclopédias foram sendo esquecidas, mas muitas delas continuam completas e disponíveis, a vantagem está na busca por palavras chave, que fica muito mais fácil usando os recursos da informática.
   E assim:
"Quando você está inspirado por um grande propósito, por um projeto extraordinário, todos os seus pensamentos rompem seus limites"
  Penso que muitos leitores procurarão em suas memórias o tempo em que a Enciclopédia Barsa lhes fez companhia.

14 de set. de 2018

Cérebro Reptiliano


   
  Um professor fez a introdução de sua aula com a apresentação de um vídeo, mostrando aos seus alunos quanto valor nós damos ao drama.
  Mostra-nos a história de alguns pinguins que saíram de sua colônia em direção à margem gelada do mar, em busca de alimento, mas um deles aguardava que os amigos  se distanciassem para voltar, não para sua colônia, mas  em direção às montanhas, que ficavam a setenta quilômetros  de distância, se calcularmos o tempo que o pinguim levaria para chegar à montanha, poderíamos dizer que seria uma viagem muito demorada e sofrida. Curioso o fato de que podia-se tentar levá-lo de volta ao mar gelado, ele voltava quantas vezes fosse necessário. Um vídeo muito intrigante, pois nos leva a pensar nas dificuldades do pequeno pinguim, a fome, o cansaço, enfim como foi para ele uma aventura tão incerta.
   O educador notou que seus alunos estavam muito interessados no assunto, com expectativa no final da história. As indagações surgiram; será que ele sobreviveu? Achou alimento? Achou outra colônia, na montanha?
    O mundo está desesperado para que alguém continue a história, disse o professor, e que o mundo só se interessa se for drama, pois foram feitos diversos questionamentos sobre o vídeo e mais alarmante, a maioria queria saber sobre o sofrimento do bichinho, e simularam vários finais tristes, nenhum aluno deu um final feliz ao mesmo, e assim é ao nosso redor.
O que é drama?
Originalmente a palavra drama vem do grego "drâma", que significa "ação", e era usada com relação à arte teatral.
Drama é uma expressão usada para designar uma situação comovente, que envolve sofrimento ou aflição, podemos dizer que na vida são os acontecimentos complicados, difíceis, bem como algo que nos cause danos, sofrimento e dor.
      Os noticiários nos mostram tragédias porque elas dão retorno financeiro e, assim não conseguimos enxergar um futuro alvissareiro, começando pela mídia que só nos mostra fatos desanimadores, sabemos que existem repórteres que optam por nos mostrar corrupção, guerras, assaltos, mortes, suicídios deixando de lado os acontecimentos bons, que nos rodeiam.
 Há premiação para jornalistas que cobrem grandes catástrofes, grandes tragédias, enfim dramas.
     Existem muitas pessoas que são viciadas em assistir todas as desgraças do mundo, sabem tudo sobre as últimas tragédias, não só na mídia, mas em sua rua, em seu bairro, em sua cidade. Podemos afirmar que as desgraças afetam nossa vida, nossa mente, nossa maneira de viver. Algumas pessoas dizem acompanhar as notícias para saber o que acontece na realidade, porém o que passa na mídia não é a verdadeira realidade e sim parte do acontecido, às vezes a pior parte dela, e acostumados a isso, vamos esquecendo de ver as coisas boas que há ao nosso redor. Assistimos sobre roubos, sequestros, corrupção, suicídio, e tantas outras tragédias, que se torna difícil enxergarmos o lado bom das coisas, e com certeza há um impacto da negatividade em nós.
   O mundo seria muito melhor, sem dúvida se fosse reservado uma grande porcentagem do jornal, dos noticiários para nos mostrar futuras realizações, projetos para a melhoria na educação, na saúde, objetivos alcançados em vários setores, o otimismo e a segurança falariam mais alto e, a sociedade como um todo seria melhor. Deixaria de lado a tristeza, o medo, a insegurança, deixaria os dramas da vida seguirem sozinhos, sem plateia.
     É muito comum ouvirmos: Eu gosto de ouvir desgraças.
    Hélio Couto pesquisador, escritor e palestrante brasileiro, nos dá uma definição muito interessante do que é complexo reptiliano:
″Sentir compaixão pela dor alheia é um sinal de evolução. Isso seria uma função do neórtex. O cérebro reptiliano é o inverso, para ele tudo é comida. ″
Qual a comida preferida pelo cérebro reptiliano?
Ele possui duas emoções básicas: agressão e medo, diretamente responsáveis pela sobrevivência. Podemos melhorar assistindo a bons filmes, boas leituras, ótimas músicas e conviver com pessoas alegres. “Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo, que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida, são duas horas de anestesia, ouçamos um pouco de música, visitemos no escuro as imagens, e te descobriram e salvaram-se.” Carlos Drummond de Andrade

2 de set. de 2018

Más atitudes não devem ser recompensadas


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     Na fila do supermercado assisti a uma cena triste, um menino de uns quatro anos deu um show, típico de criança mimada, esperneava literalmente, chorava muito alto. O motivo era um brinquedo enorme, a mãe tentava sem sucesso explicar que não tinha como comprá-lo, mas em vão, os gritos aumentavam, ela teve que sair da fila do caixa para tentar acalmá-lo. Passados longos minutos, nada fez ele ficar quieto. Resultado: ele apareceu com o brinquedo, o choro foi embora, a birra passou e tudo ficou bem. O pequeno já aprendeu como conseguir o que deseja, e com certeza já houve outras vezes.
    Conhecemos, sem dúvida muitas pessoas que mesmo agindo com más atitudes são recompensadas, são pessoas que usam de artimanhas e trapaças para conseguir o que querem. É necessário e bom termos objetivos, porém devemos saber que para atingi-los precisamos ir à luta sem pisar em ninguém, sem usarmos meios ardilosos para conseguir o que queremos.  Pessoas ardilosas, são sagazes, atacam sua vítima conhecendo seu ponto fraco, ferindo também a todos que estão por perto. São dissimuladas, sedutoras, são atores perfeitos, fingem ser do bem, mostram-se poderosos fazendo com que sua vítima fique fragilizada pelo medo.
   Percebemos que na maioria das vezes a pessoa de comportamento errado tem consciência de seus erros e vai em frente. Com uma ação errada muitas pessoas são atingidas, na empresa, no escritório, na igreja ou até mesmo na própria família, há sempre uma consequência, apenas as que a sentem podem mensurar o tamanho do estrago tanto físico como psicológico.
    Sabemos que mesmo as crianças não devem ser premiadas pelo seu bom desempenho na escola ou em casa, pois elas precisam saber que é a sua obrigação agir educadamente, ter disciplina, ser honesto e leal. Muitas vezes os pais recompensam seus filhos por eles arrumarem suas camas, ajudarem com algumas tarefas em casa, serem responsáveis. Primeiramente, a criança deve ter a consciência de que também faz parte dessa casa, e pertence a mesma família e que deve contribuir com as tarefas do dia a dia.
    Pais que premiam os filhos constantemente, querem parecer bons, mesmo que seja uma atitude inconsciente, trará aos pequenos, sérios problemas ao longo de sua vida. Não citamos aqui apenas as crianças, pois há muitos adultos que quando não recebem a recompensa esperada agem de forma triste, são incapazes de adiar o recebimento da recompensa, ficam inquietos, não conseguem enfrentar atitudes novas, mostram acesso de raiva e descontrole, mentem, enganam e na maioria das vezes passam por vítimas, sem perceber que magoam, ferem as pessoas com quem convivem, e na maioria das vezes elas próprias fazem a tempestade acontecer, mas quando a chuva vem, perdem-se no lamaçal que criaram.
    Dizem os estudiosos que essas atitudes, nos adultos são reflexos dos tempos de criança, e que quando crescemos devemos aprender a postergar uma recompensa para atingirmos valorosamente os objetivos, sem os acessos de raiva. Isso acontece, infelizmente a pessoa age de forma errada, prejudica a todos que estão ao seu redor, e quando se espera uma solução assertiva por parte de quem tem o poder, há uma decepção, outro erro, acontece a omissão, alguém passa a mão na cabecinha da "pobre criança crescida”, e lá vai ela em busca de novas recompensas.Há pessoas que fazem escândalo com muitas lágrimas,e aí tudo fica bem, porém esquecem que há outras pessoas que sofrem com acesso de sua agressividade e que também choram, será que as lágrimas dos que agem com maldade são mais valiosas?  
O grande dramaturgo da Grécia Antiga já dizia:
       “Falando a verdade, a maioria dos homens prefere, antes parecer, a SER.”
     E assim aparentemente parece mais fácil usar uma máscara para certas ocasiões da vida, porém esquecem que elas têm data de validade, com certeza, um dia, ela cairá e poderemos observar quem realmente está por trás dela. A atuação por detrás da máscara é perfeita, ganha aplausos e assim os atores continuam no caminho da atuação para conseguir mais e mais recompensas.
       Triste vivermos com atitudes ruins sendo consideradas normais.

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...