Dia desses, trocando de canal, decidi deixar um pouco no Jornal
Nacional. Apesar das matérias, em sua maioria, mostrarem corrupção e
impunidade, o que nos indigna e nos mostra o quão impotente somos, quis
manter-me informada.
Quando vejo o cantor sertanejo, Zezé di Camargo, abraçado e tirando uma
selfie com um rapaz, até aquele
momento, desconhecido para mim.
Conversa vai, entrevista corre tranquilamente, quando o repórter “solta”
uma frase que me deixou incomodada: nosso herói, e a câmera foca no rosto
daquele desconhecido.
Zezé, ainda abraçado ao herói, diz: esse é o verdadeiro herói
brasileiro.
Pensei, na minha ingenuidade: deve ter fundado uma Ong, ou ajudado
crianças, ou resgatado animais, ou visitado asilos, ou salvo alguma grávida de
risco, ou doado aparelhos auditivos, como fez o ator Johnny Deep, quando de
passagem em nosso País.
Aos poucos, descobri que se tratava de Wendell Lira, que ganhou o título, por ter feito, o
gol mais bonito.
Sentei-me no sofá, em frente à TV, para terminar de ver a matéria, ainda
achei que eles mostrariam o heroísmo, conforme descrito no dicionário.
Como a maioria esmagadora dos jogadores de futebol, do Brasil, Wendell
veio de uma família muito pobre, e já começa a ajudar seus familiares com o que
recebe. Porém, isso, para mim, não é digno de ser colocado no roll de heróis,
nada mais é do que uma obrigação pelos que muito fizeram por ele.
Não, o herói utilizado pelo repórter e pelo cantor foi devido ao gol
mais bonito. E, mais uma vez, percebi o quanto os valores estão invertidos no
Brasil e, provável, no mundo.
Herói, para mim, é aquele que se dedica ao próximo e o salva. É quem
ampara doentes, mesmo não tendo laços consanguíneos, é aquele que aceita trabalhar embrenhado-se nas matas para salvar animais da extinção, que vai aos
lugares mais inóspitos desse país para dar um pouco de conforto aos enfermos. Que
faz bolinho de barro e finge comer, junto a crianças famintas,que é escorraçada
de lugares apenas por pedir um pedaço de pão, para outros famintos, e não se
dobra diante das dificuldades. Que assiste a milhões sem cobrar nem um centavo,
e o que recebe doa.
Herói, é aquele pai de família, que consegue manter-se honrado apesar
das dificuldades encontradas. Herói, é aquele que, apesar de ter perdido o
emprego, não vai pelo caminho mais fácil e obscuro, batalha e conquista, sem
tirar nada do outro ou a vida do semelhante.
Herói, é aquele professor que leva “borrachada” nas costas, e noutro
dia, está na sala de aula para educar os filhos daquele mesmo que o atacou.
Como muitos, Wendell vem de uma cidade do interior, esteve desempregado
por um tempo, após o término do campeonato carioca, ajudou o pai para ganhar um
pouco de dinheiro descarregando caixas em supermercados, “foi muito difícil
para mim”, afirmou Wendell.
Pela sorte e talento, Wendell é um exemplo de superação, não de
heroísmo.