31 de mar. de 2018

Aqui passou a boiada


  Houve um tempo em que a boiada passava em frente a minha casa,e tudo era festa,não havia necessidade de reservar lugar, para assistir, pois a porta do armazém dos meus pais,já era meu lugar cativo. Em tempos de chuva, o barro misturado aos tocos das árvores,os quais eram jogados para dar mais firmeza aos cascos dos animais,espalhava-se para todos os lados, paredes e pessoas que se arriscavam a passar perto de onde a boiada passava.Minha mãe estava sempre de olho em mim,na época,eu contava com meus quase três anos,e a passagem da boiada,onde hoje é a avenida João Pessoa, para mim, era o maior show, eu abanava para os boiadeiros, na época, o falecido Romualdo Melo e seus ajudantes. Quando o chicote rodopiava e estalava no ar, eu pulava de alegria, meus pais diziam que eu batia palmas e pedia aos gritos para que eles não surrassem os bois e, é claro eu chorava muito, pois para mim os bichinhos estavam apanhando e, de certa maneira,estavam.O falecido,seu Romualdo,era traquejado no jeito de tocar a boiada,levava os bois pela manhã para o seu açougue,mas antes passavam pelo posto de desinfecção,eu nada sabia,então meu pai dizia que eles iam tomar banho,e à tarde,voltariam limpinhos para dormir.Eu passava o dia perguntando ao meu pai que horas os bois iam voltar, para dormir. E, à noitinha os que sobravam voltavam e iam para um potreiro próximo à igrejinha, que foi demolida há anos.O peão boiadeiro tinha um bom manejo com o berrante,e nem tudo era festa, pois eles sofriam com a mudança do clima,no inverno conviviam com as baixas temperaturas e no verão calor intenso. Em minhas lembranças há também a boiada que vinha de Palmas,e no verão os boiadeiros paravam para dar água aos animais,em uma enorme lagoa,próximo à casa de meus pais. Há tantas lembranças que me fazem querer voltar ao passado e registrar mais fatos que não voltam mais.Às vezes, eu não via a boiada, pois vinham com o escuro do dia,e meus pais não me deixavam ficar na frente do armazém,então quando meu avô estava em casa, e havia reses no potreiro me levava para vê-las. Eu queria ficar bem perto da porteira, e às vezes, havia alguma investida contra nós, e meu avô dizia:-Escapa! Escapa!Ah! quanta saudade!Olho para trás e vejo com olhos de menina a aventura de ver a boiada.Hoje,elas são lembradas através de filmes,poesias, poemas,contos e tantos registros,mas nada como o que tenho registrado em minha mente.Recordo-me bem que um lado da estrada era coberto por vasta vegetação, plantas que hoje muitos nem conhecem, alguns como: mamona, Inhapindá  ou unha de gato, diversos tipos de cipó, pente-de-macaco, eram para nós, crianças brinquedos, fazíamos barquinhos, com eles e jogávamos as sementes para cima para vê-las voando, havia muitos tipos de cipós,flores e amoreiras.E por ali, passava a boiada.Vou encerrar esta crônica com alguns versos de Casimiro de Abreu:“Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida,Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!Que amor,que sonhos,que flores.”



Imagens: Google

13 de mar. de 2018

O Equilíbrio na internet



    Recentemente, eu estava fazendo um trabalho em uma instituição e percebi uma garota isolada do seu grupo, parecia ter chorado, e dava-nos a impressão de que apenas queria ficar sozinha.
   Fiz algum comentário com algumas meninas sobre a situação e, elas me responderam:
   - Ah! professora, ela não quer nem conversar, nem brincar, e o que faz é de má vontade.
   Fiquei imaginando o que estaria acontecendo, pois pelo que presenciara nada faltava a ela, naquele maravilhoso lugar.
   Aproximei-me silenciosamente para não perturbar a sua meditação, ao perceber a minha presença, fez menção de sair, ela estava sentada à sombra de uma linda árvore florida. Despistei e sentei em um banco quase ao seu lado. Puxei conversa.
   -Olá! Tudo bem com você? Por que está aqui, sozinha? Não gosta deste lugar?
   A menina ergueu a cabeça e começou a falar, mostrava na voz a sua inquietação, falou que se sentia como uma prisioneira, pois havia horário para todas as atividades, e o pior disse-me ela:
  -Não podemos usar o celular aqui, não consigo viver sem me comunicar.
Fiquei assustada com as palavras dela, foi um desabafo muito triste, porque ela disse que a vida dela dependia de um celular.
Infelizmente, o fato acontece muito com a maioria não só de jovens, mas de muitas pessoas. Para os jovens, principalmente, ficar sem celular é um grande castigo. Em uma época não muito distante, presentear os filhos com um carro, era um presente que mostrava à sociedade o “status”, da família, hoje substituído pelo celular.
   O celular e internet nos trazem muitas facilidades, as quais não há necessidade de nomeá-las, porém há a obrigação do controle, pois tudo que é exagerado traz malefícios à saúde.
   A necessidade de estar sempre conectados gerou uma sociedade de adolescentes obcecados pelo imediatismo, como: esperam por respostas rápidas, conversas ligeiras, encontros nada longos, e, se algo for além do tempo, previsto por eles, gera uma grande ansiedade. E, como as relações virtuais andam juntas com as reais, podemos pensar que é um dos motivos para que os relacionamentos não tenham vida longa. Tudo parece ser descartável, infelizmente, o celular se tornou um item de consumo favorito da população.  Às vezes, nos assusta quando dois jovens, que estão próximos, usam o celular para se comunicar, trocando assim o encontro, o olhar nos olhos, a voz, o sentimento, por mensagens, as quais, muitas vezes acontecem por meio de simples “emoticons”. A preocupação é grande quando os limites desta comunicação deixam de fora a presença física da outra pessoa, causando assim a facilidade de falar sem se preocupar com as reações do seu interlocutor.
  “Mas para manter relações saudáveis, é preciso fazer um uso inteligente dos recursos tecnológicos e evitar os excessos da “dependência da conectividade”. Nesse ponto, a escola e, principalmente, os pais são responsáveis pela educação dos jovens.”
   Penso que deve haver o bom senso para  não ficar conectado o tempo todo, nem há necessidade de fazermos como a França ,mas uma boa dosagem de tempo, cada um deve fazer de acordo com a sua necessidade e consciência, "como empresa a gente se vê obrigado a estar conectado um tempo muito grande na internet, mas os usuários têm de praticar o 'nadismo', desconectar um tempo, passar um tempo descansando fora das telas".
“O verdadeiro perigo não é que computadores começarão a pensar como homens, mas que homens começarão a pensar como computadores” Sydney J. Harris, jornalista e escritor estadunidense.

4 de mar. de 2018

Ser Mulher

Ser Mulher

   Subindo o morro com a bacia de roupas para lavar, no riacho de água barrenta vai a cabocla de pé no chão, começar o seu dia de trabalho árduo e desvalorizado, na rua de baixo a quitandeira, com a cesta de docinhos, grita com voz forte: Docinho, docinho, compra um e leva dois. Continua assim até que todos sejam vendidos, e ela possa voltar com a cesta um pouco mais pesada contendo um pacote de arroz, seis bananas e um litro de óleo. Seu sorriso mostra a felicidade de poder colocar comida na mesa para seus filhos e ainda repor na prateleira os ingredientes para os docinhos da próxima venda.
  Não longe dali outra mulher carregada de cadernos, os quais corrigiu à noite, está correndo para não perder o ônibus que a levará para a sua escola, onde leciona em dois períodos, é a professora do bairro.
 Na esquina, próxima ao ponto de táxi, outra mulher vestida de maneira formal, com duas pastas de documentos, caminha apressada para atravessar a rua, é uma advogada a caminho do fórum para defender seu cliente.
Na roça, com a pesada enxada, a mulher vai capinando o mato, preparando terreno para o plantio do milho, trabalha de sol a sol para ajudar o marido na lavoura. Embaixo de um pé de manga o pequeno rádio ajuda a suavizar o calor que sufoca a alma. A voz da mulher, a radialista comenta os fatos do dia, e assim a enxada avança com mais velocidade.
 No hospital, a mulher enfermeira acalenta os doentes que passam por necessidades físicas e espirituais, com sua dedicação, carinho e habilidade deixam o espaço mais humano, enquanto a mulher secretária auxilia com seus serviços profissionais tanto nas empresas e hospitais, a mulher médica deixa seus filhos, sua família e vai prestar socorro onde é chamada.
Os bichinhos de todas as espécies e gostos fazem a nossa vida bem mais feliz e graças a mulher veterinária eles vivem melhor, com mais qualidade de vida.
A estudante apura o passo para não perder a carona com a amiga que também vai fazer o curso para ser dentista, pois ela sabe o seu valor, no bairro onde mora.
Nas grande e pequenas lojas o número de vendedoras aumenta, pois elas com sua diplomacia vão vencendo no mercado de trabalho.
As mulheres contadoras estão sempre a postos, porque não podem deixar passar um algarismo errado, o que seria um desastre, e com sua competência vão mostrando seu valor junto aos cálculos.
Na construção de mais um edifício, na cidade está à frente de todos uma mulher engenheira, a qual trabalha sem esquecer que é mulher.
No mundo da política ela também está, mesmo que não seja presidente ela é política no lar.
A mulher publicitária está pronta para participar de todas as etapas dos projetos que lhe cabem, pois faz parte de seu escopo analisar, preparar realizar, enfim tornar realidade suas grandes ideias. 
“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.”
Há a mulher mecânica, a mulher motorista, a policial, a borracheira, a pintora, a artista plástica, a costureira, a eletricista, a fiel dona de casa, aquela que dizem: não faz nada.
E aquela que gesta, que acolhe que educa, que dá carinho, ensinamentos, direção para a vida, dá-lhe se precisar a sua vida, a única mulher mãe.
E finalmente, sem esquecer alguma mulher de singular importância a Mulher Santíssima Maria, mãe de Jesus e nossa.
“Não se nasce mulher: torna-se.”
E com as palavras de Clarice Lispector, parabenizo a todas as mulheres:
“Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado.”

A todas parabéns!

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...