27 de jan. de 2018

Amor e Guerra

As duas garotinhas com passos apressados, seguiam pela estrada barrenta, cada uma com um pequeno embrulho em papel pardo, parecia que protegiam um tesouro, eram muito pequenas para estarem com tão grande responsabilidade, eram irmãs com pouca diferença de idade, 6 e 7 anos.
Vestiam roupas rotas, calçados surrados, meias remendadas e um gorro, o pescoço enrolado em um pedaço de manta surrada, o gelo estalava sob seus pezinhos gelados, a neve cobria seus ombros, e suas roupas pouco ajudavam para proteger do frio, eram tempos difíceis.
O pai foi levado para o campo de batalha, a mãe fazia o possível para manter os filhos fora de perigo, pois tudo era controlado.
O ruído das bombas, mesmo distantes passavam o terror que todos viviam em tempo de guerra. As pequenas, acostumadas a enfrentar o perigo em busca de comida, andavam apressadas, levantavam muito cedo, ainda com a escuridão da noite e saiam como se fossem garimpar tesouros escondidos, e assim que conseguiam algo, elas voltavam esfuziantes, cheias de esperança de mais um dia de vitória. Entraram correndo, a mãe precisou fazê-las  fecharem a boca.
-Mãe, conseguimos comida.
-O que temos hoje, vamos ver?
Ana, a mais nova abriu o seu embrulho e com um largo sorriso, mostrou seu tesouro.
-Veja, mãe, consegui duas batatas e a Marta um bom pedaço de toucinho, teremos uma ótima refeição, não é mamãe?
A mãe esconde as lágrimas, pois há dias tentam sobreviver com o mínimo.
-Como vocês conseguiram tão boa comida, minhas filhas?
-Ah,mãe, o padre estava distribuindo para algumas pessoas e quando nos viu, entregou estes pacotes e nos pediu para guardá-los bem, até que chegássemos em casa, e aqui estamos. A primeira refeição do dia foi excelente, mesmo sendo pouca foi a melhor.
Cada uma tinha suas tarefas e mesmo sem tempo de escola, tinham deveres já estipulados pela mãe.
O bombardeio continuava com seu barulho infernal, a luz era de um toco de vela, a lenha acabara e o fogão estava gelado, assim como toda a humilde casa. Não havia muito o que fazer para se aquecerem.
-Mãe, quando a guerra vai acabar? Não sei, Ana.
-Por que a guerra existe?
A mãe ficou pensativa, pois nem ela sabia o porquê das guerras, sempre soube que existiam, mas não sabia o real motivo de povos fazerem guerra para matar tanta gente, e gente igual a todos, a pequena insistiu na pergunta, e a mãe teve a resposta.
-Filha, a falta de amor, a falta de respeito com o próximo e a falta de igualdade é que levam os povos a fazer a guerra, a matar as pessoas, porém, com certeza, um dia, espero que esteja próximo, todos nós viveremos em paz, o amor reinará em todos os lugares e não haverá lugar para o ódio e nem para a guerra.


Agora vamos dormir, pois não temos como vencer o frio, e amanhã teremos um dia lindo.

12 de jan. de 2018

A Merenda

A garotinha caminhava vagarosamente,
Pois estava com fome
Tinha que chegar à escola
Sua esperança era poder comer
Na sua casa não havia nada
O estômago roncava
Dava para ouvir
O barulho, no silêncio
Da estrada empoeirada
A barriga doía,
A cabeça girava, pois
A fome apertava
Caminhou, apressou o passo
Quase chegando
Ah! sentia o cheiro da sopa
Dona Margarida
Cozinhava muito bem
Melhor que sua mãe
Ufa! Chegando
Foi direto para o refeitório
Nem lembrou que havia aulas
Apenas queria comer
Que triste!
Não tem merenda hoje?
Nada de merenda
O ladrão levou tudo
Mesmo, dona Margarida?
Sim querida,
Por quê?

Você está com fome?

3 de jan. de 2018

Papai Noel existe

A pequena menina, estava cansada, mas precisava chegar a tempo para entregar as bolachas que a mãe fazia, ela ajudava como podia, para que a mãe pudesse ganhar mais para conseguir pagar as contas. Ela tinha apenas 8 aninhos, era mirradinha, talvez por deficiência na alimentação, pois sempre viveu com dificuldades junto com seus dois irmãos, mais novos.
O pai estava acamado fazia muito tempo, sofrera um acidente, e como aconteceu fora do trabalho, não teve direito a receber nada, além do devido. A mãe trabalhava limpando as casas, porém após o acidente, precisou ficar em casa para cuidar do pai. Então começou a fazer bolachas para vender, tinha uma boa freguesia, ela era boa com as massas. Ana, a menina, ajudava a entregar as encomendas, o que fazia sempre após as aulas. Às vezes, Aninha mal tinha tempo de comer direito, pois sua mãe, já estava com os pacotes prontos para a entrega, e ela tinha que se agilizar para que tudo fosse entregue antes da noite cair. Era época de Natal, e a freguesia aumentava, o que era bom, mas ela sozinha quase não dava conta de tanto andar. Pensava que se tivesse uma bicicleta poderia fazer tudo com mais rapidez, tinha o sonho de trabalhar sem parar e comprar uma bicicleta para facilitar as entregas, enquanto o sonho não se tornava realidade, tinha que gastar a sola do sapato.
No final da tarde, cansada e com fome, resolveu tomar um pouco de água na igreja, pois conhecia muito bem o padre da paróquia. Entrou e foi direto à sacristia, tomou água, e ainda comeu uns biscoitos que estavam à disposição, não havia ninguém, o silêncio era confortador.
Ana, resolveu sentar em uma poltrona, na sacristia, para descansar um pouquinho, seria por alguns minutos, pois sabia que sua mãe estaria preocupada, caso ela não chegasse no horário de costume. A menina, sem querer pegou no sono, foi um sono profundo e muito bom. Sonhou que seu pai, por milagre da medicina estava curado, e que uma bela e forte bicicleta a aguardava, era reforçada e com bagageiro, própria para carregar pacotes, sua mãe tinha uma ajudante, pois o comércio das bolachas aumentara, em seu sonho até o Papai Noel, apareceu e lhe disse:
-Ana, acorde! Sua mãe a espera, já é tarde, volte para casa!
Ela teve um sobressalto e acordou assustada. Nossa, dormi demais, já está ficando escuro, mamãe deve estar doida atrás de mim. Que horas devem ser?
De repente, ela ouve um barulho, era o padre chegando de uma visita aos doentes, e ficou surpreso com a presença da menina, ali.
-Ana, o que faz aqui, aconteceu alguma coisa com seu pai?
Rapidamente, e muito nervosa ela contou o que houve.
O padre disse que iria acompanhá-la até em casa, pois estava ficando muito escuro.
Durante o trajeto contou ao bom vigário o sonho que teve, enquanto dormia. E ainda riu, dizendo:
-E nem acredito em Papai Noel.
O padre, olhou para a menina e disse:
-Sabe, Ana, às vezes, não acreditamos em muita coisa que está ao nosso redor. E seguiram, cada um com seus pensamentos.
 Ao avistarem a casa, de longe perceberam muita luz, coisa que não acontecia, porque cuidavam muito, pois tinham que economizar, a mãe foi ao encontro deles sorrindo, fato que nunca acontecia, pois ela nem tinha tempo para sorrir.
Surpresa, Ana pergunta.
- O que houve, mãe, você está alegre, e a casa parece em festas?
-Ana, aconteceu um milagre, uma equipe médica de uma clínica doou a seu pai, um tratamento novo, que com certeza, vai devolver a mobilidade das pernas dele, e tem mais um senhor de barbas brancas, entregou uma bicicleta especial para seu tamanho e idade, com dois cestos acoplados para colocar os pacotes de bolachas, disse que foi seu pedido.
E, mais a vizinha cedeu a filha para me ajudar na produção de bolachas, e o pagamento que pediu foi: aprender a fazer bolachas.
Todo o sonho de Ana, havia tornado realidade.
Atônita, Ana não conseguia falar, olhou para o padre e disse:

-Eu não acreditava em Papai Noel! 

A carta que nunca chegou

    Tarde cinza, vento forte fazia os galhos das árvores dançarem no jardim. Eu precisava finalizar a mudança que começara há dois anos,...