10 de jan. de 2017

A Chama da Liberdade se Apagou... - Texto escrito pelo meu filho, Marcelo José Boldori



Próximo de completar 17 anos de advocacia criminal, depois de ter exercido função pública, depois de participar de organizações políticas, civis, eclesiásticas e conhecer um pouco da esfera militar, visto atuar na defesa de militares de diversas patentes, ouso escrever sobre algumas percepções que tenho, sem nenhuma pretensão de estar correto, mas por necessidade de externar o que vejo e sinto.
As lides forenses me permitiram frequentar palácios a barracos de lona, de ter acesso a ministros e trabalhadores braçais, a estudar e trabalhar nos mais diversos tipos de processos.
Posso dizer que uma das coisas que aprendi é que geralmente, quando algo começa da forma errada, tem uma dificuldade muito grande de sustentação e, este pensamento me remete aos idos de 1889. Podemos dizer que no caso do Golpe Republicano, é muito evidente que os fins justificavam os meios utilizados.
Os ideais de se instituir a República no nosso país eram sem dúvida os mais nobres. Questiono apenas se a decisão foi acertada, ao menos no que dizia respeito ao momento.
Não estávamos preparados para a democracia que veio junto com a República,
nosso momento é delicado, todos sabem que algo está errado, mas não consigo apontar alguém, em nosso país que consiga indicar a direção correta, a ser seguida.


O principal preço que pagamos pelo Golpe, de 1889, é o desmonte institucional do país. Muito pior que subtrações na Petrobrás, BNDES, Correios e tantas outras empresas é, sem dúvida, nosso esvaziamento moral.
Levei aos meus alunos, esses dias, uma manchete da Folha de São Paulo, a qual estampava em sua página principal, que o Tribunal de Contas da União, ignorou uma decisão do Supremo Tribunal Federal; decisões recentes da nossa Suprema Corte violam a Constituição que ele, o Supremo, deveria proteger com carinho e afeição, com unhas e dentes, com a espada e a força. 
Nossa Suprema Corte desfez-se da honradez construída ao longo de sua história. Lembro dos meus tempos de faculdade, quando o Supremo era respeitado, sua decisão era o farol que indicava o caminho para os Magistrados de todo o país. Hoje? Hoje, induz nossos Magistrados ao erro, os conduz para rochedos e recifes de corais.
Pergunto-me, como pode tão forte instituição da nossa República perder tanta credibilidade? E relaciono essa perda de credibilidade apontando para a rejeição da população ao “foro privilegiado”, tecnicamente denominado “foro especial por prerrogativa de função”.
Não deveriam ser os ocupantes dos cargos mais importantes da República, julgados por aqueles melhores preparados, mais isentos, mais incorruptíveis, mais aptos à aplicação das normas constitucionais? Portanto os Ministros do Supremo?
Pois é, ao rechaçarmos o “foro privilegiado”, bradamos que não confiamos na nossa Suprema Corte.
Mencionei sobre o Supremo por ser o órgão “não político” dentro dos Três Poderes.
O descrédito e alto grau de reprovação das instituições políticas é público e notório, sendo desnecessário qualquer comentário.
Se fizermos uma varredura nas instituições que ainda gozam de credibilidade popular, sobram apenas e tão somente, a meu ver, as forças armadas, que devem essa credibilidade aos seus princípios, valores e à rigidez de seus códigos de conduta. São perfeitas? Sei muito bem que não são, são compostas de seres falíveis como qualquer um de nós, mas ainda se mantêm organizadas e com valores norteadores.
É importante percebermos que não apenas as instituições governamentais estão destroçadas, reflitamos, como está a família nos nossos dias, sua importância é devidamente respeitada na sociedade? 
O conhecimento é valorizado?
A leitura?
A Igreja, independente de qual delas, mantém sua importância? Curiosamente nunca mais ouvi ninguém falando de Temor a Deus, nem dentro das igrejas, muito menos fora delas.
Quais são os valores que nossa sociedade tem?
Será que o trabalho, que é a forma de geração de riqueza e progresso ainda tem valor? Ainda é um valor?
Antigamente o trabalho dignificava o homem, hoje me parece que não é visto da mesma forma.
A honestidade é um valor? Ou é a horrível causa da necessidade de trabalho para milhões de brasileiros que, por serem honestos precisam trabalhar?
A atualidade nos presenteia com um grande pensador, a quem eu realmente admiro muito, Leandro Karnal, de quem vejo e assisto às palestras sempre que posso,mas enquanto vejo suas palestras fico admirado com o que ouço, e o que ouço aponta para um nível de degradação absurda.
O historiador Leandro Karnal é aplaudido de pé em palestras nas quais relembra ensinamentos que nos eram repassados pelos padres, por nossos avós e pais, como por exemplo: não pegue nada que não seja seu, seja honesto, cumpra teus compromissos, não fale mal dos outros, seja educado, seja pontual e seja proativo.
Longe de menosprezar o trabalho do Professor Karnal, porém percebamos o quanto nós caímos, alguém que nos manda sermos honestos se torna celebridade, de forma merecida e até necessária.
Nosso conjunto de valores, que também são instituições, sofre imensa degradação. Dentro desse contexto valorativo, temos um líder que mostre o caminho a ser seguido?
Temos alguém que reúna, como as composições de Richard Wagner, força, determinação e pureza para conduzir nossa nau?
Ouço e leio clamores para que as forças armadas voltem a governar o país, a tal “intervenção constitucional militar”, do artigo 142 da Constituição Federal. Passei quase toda minha juventude ouvindo de muitas  pessoas, inclusive algumas que estão fazendo tais clamores, que os militares eram carrascos inescrupulosos, verdadeiros monstros, etc., etc., etc.. Os militares ouviram calados acusações das mais diversas naturezas sobre suas condutas na manutenção da ordem com o objetivo de progresso do nosso país. 
As “vítimas” do Contra Golpe de 64, criaram até a Comissão da (MEIA) Verdade, quando só se dá valor à parte da história contada por um lado, como se só tivessem havido excessos por parte de militares.
Agora clamores são lançados aos militares. 
Na minha modesta opinião, apesar de minha grande simpatia ao estilo militar, não estamos nem perto de vermos configurar-se uma ruptura que autorize uma intervenção militar, então esta não deve acontecer, a menos que as coisas piorem muito.
Quando o povo clama pela volta dos militares a meu ver ele clama pela monarquia, pois ele admite que não tem condições de administrar de forma Democrática a República. E isso não é bom!
Por vezes, tenho a impressão de que o povo brigou pela liberdade democrática, não entendeu como se jogava esse jogo e, agora não quer mais “brincar”. Sei que a volta dos militares não é pretendida de forma unânime, mas é pretendida por uma parcela muito significativa da população, especialmente se considerarmos que vivemos em uma República Democrática. Algo está muito errado!
Quando digo que algo está muito errado, uma imagem me vem a mente de forma muito nítida, a imagem do Panteão da Pátria e da Liberdade em Brasília, onde estive semana passada. Sempre que lá estou procuro contato com nossa história, dessa forma tornei a visitar o Panteão na Praça dos Três Poderes, de onde pode-se contemplar o Palácio do Planalto à direita, o Supremo à esquerda e o Congresso, à frente. No Panteão está guardado o “Livro dos Heróis da Pátria”, um livro cujas páginas são de aço, com os nomes de nossos heróis, dentre eles Tiradentes e Duque de Caxias. 
No complexo do Panteão temos uma torre, na qual uma “chama eterna” simboliza a liberdade do povo e a independência do país. 
Decepcionou-me o fato de tal chama, que devia ser “eterna”, até porque assim se denomina, estar apagada. Parece bobagem em nossa sociedade mecânica atentarmos para esse “pequeno” detalhe, mas o simbolismo disso é imenso. 
Por isso, o título, “A Chama da Liberdade se Apagou” e isto é literal, não é mais no sentido figurado.
Parece que realmente, nada é por acaso!






23 comentários:

  1. Muito bem" belo texto e merecedor de leitura.

    Beijos

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  2. Boa tarde, a liberdade com direito à dignidade é um direito, podem apagar-se todas as chamas menos a chama da ambição, esta continua acesa dentro de cada pessoa.
    AG

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  3. Amiga

    O link do blog do Samuel não está abrindo, não sei porque.
    Tentei acessar só aparece as informações pessoais.
    Vou mandar um e-mail se quiser mande tb : lapidandoversos@gmail.com

    bjokas =)

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  4. Infelizmente falta patriotismo né! Não vejo ninguém com aquela fibra que vem do amor a uma nação. Fora isso, acredito fielmente que deveríamos aprender muitas coisas com os índios. O respeito pela natureza é o primeiro princípio de uma sociedade evoluída! beijão

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  5. Que texto interessante, é daqueles que precisamos reler. Bjus.

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  6. Deve estar orgulhosa do seu filho, minha Amiga. Ele fala daquilo que conhece bem. Parabéns a ele pelo texto.
    Para si um beijo.

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  7. Muito interessante, uma partilha plena de oportunidade com o mundo!
    Bjs

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  8. Olá Marli.
    Li com muita atenção este texto do seu filho, trazendo à luz alguns fatos históricos importantes, o que é muito bom, principalmente para os jovens, que devem estar confusos depois do Governo Militar, do Fernando Henrique Cardoso (menos mal) e por fim o que nenhum de nós esperava: o nosso país destroçado depois do governo do Lula e da Dilma. Agora é termos esperança nos governos que virão depois do Temer.
    Parabéns a você pelo filho e a ele pelo oportuno texto.
    Uma boa semana.
    Abraços.
    Pedro.

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  9. Agradecendo tua visita
    O Sonetista

    Assim é Marli, um sonetista fecundo
    Explorando, com habilidade, as frestas
    Pois evitando, por vez, soluções funestas
    Consegue versear com mérito e a fundo.

    Na busca permanente do verso rotundo
    De, talvez, definições sinceras, honestas
    Haverá que ter gosto por aquelas ou estas
    Então, sem receio, representar o mundo.

    E encontrar maneiras de falar aos povos
    Naquelas suas variedades tão imensas
    Mesmo a custa de vários acordos novos.

    É coisa muito mais fácil do que tu pensas
    Basta ter cuidado, não descuidar dos ovos
    Comentários do leitor, serão recompensas.

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  10. Olá, Marcelo!

    Li e reli seu texto, que considero mto lúcido e inteligente, k me pôs pensando, não só como cidadã, mas como pessoa com formação académica superior em História e Humanidades.
    Não gosto de emitir opiniões sobre politica, factos k ocorrem noutros países, pke eu sou estrangeira, não resido aí e quem conta um conto, lhe acrescenta um ponto, como, vulgarmente, se diz, contudo, acho k você, e mesmo sendo advogado (rs) foi bastante isento e se limitou a contar aquilo que vê e a que assiste, diariamente, embora fizesse um background histórico de seu país.

    A ditadura militar no Brasil, tb denominada Quinta República, decorreu entre 1964 e 1985, como tão bem sabe, e segundo alguns historiadores e pessoas daí, com quem tenho conversado através dos blogs, as "coisas" não foram assim como "pintam", embora pôr pessoas e instituições, minimamente, em ordem, implique "ditar", exigir, dar ordens, k têm de se cumprir, usar autoridade, por vezes, excessivamente, pke quem "manda" é humano, portanto, bem imperfeito, enfim, tem k "que têm falar e atuar grosso", e não há de que.

    Dizem, k a História se repete, mas NUNCA nos mesmos moldes, pke o mundo mudou há muito e é impossível retroceder, pke, tudo agora, está á distância de um clique, todavia, é minha opinião, de k o mundo está, há mto, precisando de ser posto nos "eixos", mas não sei se será mão humana a fazê-lo. Creio bem, que não!

    Fique tranquilo, Marcelo, pke a tal Chama da Liberdade, de k você fala no texto irá manter-se, com as inevitáveis consequências.

    Um big abraço e parabéns pelo seu texto/desabafo e já agora, volta mais vezes (mamãe vai adorar)!

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  11. Olá, Marli!

    Agradeço sua visita e comentário, gentil, lá no blog.

    BOM ANO, agora, aqui, de "perto".

    Parabéns pela lucidez, inteligência e naturalidade com k seu filho expôs esse assunto, k, sendo delicado e suscetível a diversas opiniões, ele soube, lindamente, se "equilibrar" na "corda bamba".

    Beijos e dias de luz e paz.

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  12. Cara amiga Marli, perfeita na forma e no conteúdo, a dissertação do vosso filho. Realmente, nossa pátria brasileira perdeu a bússola. No meu modesto ponto de vista, a solução para o problema está dentro de cada um, ou seja, há que se substituir a mesquinhez pela moralidade. Quando as pessoas, de modo geral, voltarem a ser íntegras, seremos respeitados e cresceremos como nação.
    Um abraço. Tenhas um bom dia.

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  13. Olá Marli.
    Obrigado pela sua visita e comentário.
    Li alguns textos e gostei muito, começando por esta análise do seu filho, que apreciei particularmente.
    Já sou seu seguidor, para não me perder.
    Bom resto de semana, beijo.

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  14. Adorei o texto amiga. Ele nos representa. Diz tudo o que realmente estamos sentindo é passando momento. Só não vamos deixar a chama apagar. Parabéns pelo filho. Pode ficar orgulhosa.

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  15. Não me detendo nos aspetos históricos, relevo a excelência do artigo no que à lucidez e pertinência diz respeito. Obrigada por teres partilhado. Um orgulho ter um filho dotado de tal pensamento. Ficou-me esta expressão "esvaziamento moral", pois o termo esvaziamento é possuidor de um forte sentido e eu costumo usá-lo em alguns escritos.
    BJ, Marli

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  16. Que belo e inteligente texto! Vou tentar comentar rs rs. Democracia só funciona com ordem, no Brasil se confundiu democracia com bagunça, estamos num 'vale tudo', num ´pode tudo', valores invertidos, família não existe mais, anticultura na música, na tevê, na literatura, e agora até o nosso Supremo parece ter cedido, e quando o Supremo de um país sucumbe, é sintomático, é o caos muito perto, se é que já não estamos dentro dele. Os militares não querem essa bomba, estão confortáveis, conformados, eu até os compreendo nisso. Só haverá mesmo intervenção militar quando se fizer necessária a aplicação da Lei de Segurança Nacional, que é quando o exército toma as rédeas pelo bem da nação. Parabéns a você e ao filho. Seguindo seu blog. Obrigado pela visita.

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  17. Boa noite, colega Marli!
    Sábias e coerentes palavras, repletas de verdade. Muito bom texto. Parabéns ao teu menino.
    Ei, moça! Há tempos não visita meu cantinho.
    Tem postagem novinha em "GAM Dolls (2)". Passe por lá pra conferir, está uma formosura!
    Ficarei feliz com sua visitinha e comentário, sempre tão gentis.
    Tenha uma linda nova semana.
    Abração pra você! :)

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  18. Voltei para ver as novidades.
    Marli, tem uma boa semana.
    Beijo.

    PS: às vezes não se consegue mesmo ser seguidor de outro blogue, mas alguns dias depois já dá tudo certo. Creio que é um problema da blogger.

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  19. Lúcido, coerente e interessantíssimo, Marli! Bem que se diz: filho de peixe, peixinho é! :) Parabéns a você a oo filhão, boa semana!

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  20. Parabéns ao seu filho pelo excelente texto, Marli. Pobre Brasil, pobre de nós. Milhões acreditaram que um dia esse belo país teria a democracia sonhada, mas no lugar instalou-se a corrupção, o descaso, o antipatriotismo. Onde está nosso país? Quantos gerações levarão para ver um país ressuscitado das ruínas?
    Que pena, lastimo tanto ver nossa terra saqueada, essa roubalheira, esse sangramento...
    Beijos, minha amiga.

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  21. Marli
    A crónica reflecte bem a desordem de que enfermas as sociedades, neste caso a do Brasil, que está numa degradação bem acentuada. O pais não estará longe da ditadura militar, o que augura a almejada liberdade. Porque verdadeiramente num pais onde se caminha para um grande desemprego, a mais elementar forma de liberdade, caminha-se a passos largos, para a falta dela.
    Bjs

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  22. Anônimo7/2/17 09:03

    Serdeczności , ciekawa strona , dobrego dnia życzę . Zapraszam
    http://www.skrzynkaintencji100.bloog.pl

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O porta-retratos

  Foto do google     Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater...