20 de ago. de 2019

Rir e chorar

Imagem do Google



     Ontem ganhei o dia, como se costuma dizer quando algo bom nos acontece.
  Conheci a dona Jandira,uma senhora robusta que trabalha como diarista.
  Ela estava muito exaltada, e contava a sua rotina a uma senhora que estava no ponto de ônibus. Dizia que levantava todos os dias às 5h da manhã, preparava o café para os dois filhos, tomava um gole rapidamente e corria para pegar o ônibus. Ela precisava pegar duas conduções para chegar ao trabalho, às vezes atrasava, pois dependia da vontade do motorista em parar, pois se o carro estava lotado nem fazia questão, aí precisava ficar esperando o próximo, sua patroa não se zangava, pois sabia da situação de sua funcionária.
  Naquele finalzinho de tarde, dona Jandira estava se superando na raiva. Disse que saíra um pouco antes porque precisava chegar em casa mais cedo para ir à missa de sétimo dia de sua prima Zina, que falecera em um acidente, quando estava voltando de bicicleta para casa, e foi jogada longe por um motoqueiro. A história era triste, mas ouvindo-a contar parecia uma narrativa cômica.
  E, bem neste dia a sua condução estava muito atrasada. Ela falava e estava esbaforida, era até engraçado vê-la falando, gesticulando e gritando. Parecia que todos ali, tinham culpa pelo atraso do ônibus.
  Ela carregava duas sacolinhas de mercado, uma blusa, uma sombrinha e sua bolsa. Dizia estar cansada por passar todos os dias pela mesma situação, e assim andava de um lado para o outro, abanando as sacolinhas.
De repente, vi que um ônibus se aproximava e todos que estavam na fila foram em sua direção, foram segundos, e ele se foi, neste instante ela gritou feito doida, falou coisas impróprias para descrevê-las, ela havia ficado falando suas tristezas e não percebeu que sua condução chegara e partira rapidamente.
  Ficou transtornada, parecia que o mundo estava desabando, eu de longe observando aquele alvoroço.
-Pensei- Tomara que não sobre para mim.
Quando terminei meu pensamento ela veio, aproximou-se de onde eu estava e lançou suas barbaridades sobre mim. A princípio não disse nada, fingi que estava lendo. Ela mostrava sua falta de educação, e, eu não tinha como retrucá-la. Fiquei sem graça, pois as pessoas que passavam pensavam que ela estava brigando comigo.
Resolvi me afastar e fui a uma lanchonete, que ficava próxima, tomar um suco.
    A fila estava se formando novamente para o próximo ônibus, e ela continuava xingando sem cessar. O pessoal que foi chegando estava meio arredio, pois não entendia o motivo de tanta gritaria.
  Dona Jandira sempre foi reclamona, diziam alguns que já a conheciam, mas nesta tarde estava irreconhecível.
 Começou a falar com todos que estavam na fila, sem receber resposta foi andando até o final da fila e dizia:
-Desta vez, ninguém me fará perder o meu ônibus, pois tenho que rezar pela minha prima que morreu,pobre da Zina, e, eu aqui atrasada para a missa.
Todos da fila estavam visivelmente cansados e sequer davam atenção a ela, estavam sim, querendo chegar em casa o mais rápido possível.
 O pior que eu observei que ela não estava na fila, e a cada minuto aumentava, todos cuidando do seu lugar para entrar no ônibus.
  De repente, ela como se acordasse com a situação da fila, percebeu que não estava em nenhum lugar, sendo assim ela ficaria em último lugar o que provavelmente a faria ter que esperar pelo próximo ônibus, porque com certeza, havia muita gente para embarcar neste.
Ela ficou histérica, andava de frente para trás procurando onde pudesse “furar “a fila, mas ninguém deu abertura para ela.
Fiquei apenas observando, estava curiosa para ver o que ela iria fazer.
Percebi que o ônibus se aproximava e, ela estava fazendo o máximo esforço para embarcar neste.
O ônibus parou e todos foram entrando rapidamente, quando ela viu que a chance de entrar estava acabando, deu um pulo, a porta se fechou, mas coitada, a sua sombrinha ficou imprensada na porta, ela ficou com o cabo nas mãos e o restante ficou para fora. Com o vento ela se abriu como um paraquedas, e todos gritavam:
-Dona, olha a sombrinha!

11 comentários:

  1. rsssssssssss.... Divertido e hilário! Faz bem ler! beijos, chica

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  2. Que gostoso foi ler esse texto Marli. Parabéns!!!

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  3. Olá, minha amiga Marli, realmente o título está impecável, rir ou chorar? Os dois: uma vida de luta, sofrimento que essa gente passa a vida inteira. Por outro lado as histórias são hilárias, pois existe um desequilíbrio natural de uma vida de muita luta, então sai essas coisas que nos levam a rir. Vida dura, minha amiga! São guerreiras, sem dúvida.
    Grande abraço, uma ótima semana.

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  4. rsssss, imagino a última cena! Mas pensando bem, que triste é a vida desse pessoal que levanta muito cedo, chega no emprego e ainda, a patroa ou patrão, tiram o coro delas!! Entendo bem, mas sua história não deixa de ser hilária, muito bem contada, querida Marli.
    Um beijo, amiga, um bom fim de semana, com descanso e paz! rss

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  5. Boa tarde...

    Numa visita, para marcar apenas presença, esperando a vossa compreensão... devidos a compromissos inesperados:-Existem desejos que esperam - | Poetizando e Encantando |

    Bjos
    Votos de um óptimo Fim-de-semana

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  6. Pessoas que são vítimas da sua própria maneira de ser…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  7. Boa tarde, cara Marli!
    E como diz o título, realmente é pra rir e chorar.
    Sei que estou sumida há tempos mas é por motivo de saúde.
    Espero que não tenhas esquecido de mim pois não me esqueci de você. Dê uma passadinha lá no meu blogue para ler as novidades.
    Te desejo uma linda e produtiva nova semana.
    Grande abraço!

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  8. Estou me lembrando de um paraquedista
    que vivia contando lorotas e no dia que
    foi saltar comigo (nas areias de Santa
    Mônica, na Barra), o gajo ficou tão ner-
    voso por saber que para chegar a ZL (zo-
    na de lançamento), seria preciso saltar,
    praticamente, dentro do mar, por conta do
    vento o que, acidentalmente, o levou a a-
    cionar o reserva que trazia no peito, e só
    não derrubou o cesna porque evitei que o
    velame saísse porta afora.
    A sombrinha da moça reportou-me a essa
    passagem.
    Adorei, um beijo e parabéns.

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  9. Há pessoas que perdem o seu precioso tempo a reclamar sem qualquer efeito, ou seja, a falar ao vento...
    Uma história do quotidiano, gostei.
    Marli, um bom resto de semana.
    Beijo.

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