23 de jan. de 2021

Cômico, mas real

 







 

    Presenciei nesta semana um fato que me fez sorrir. Interessante é que atualmente é difícil ouvir ou abordar algum tema sem fazer referência à pandemia de Covid-19, que impacta em maior ou menor medida, toda a sociedade, porém voltando ao assunto, eu estava aguardando a chegada   do elevador quando dois senhores com seus quase setenta anos apressaram o passo para entrarem no elevador também, assim seríamos apenas nós três. Com todos os cuidados necessários, máscara, distanciamento, mesmo dentro do elevador havia muito espaço, e um frasco grande com muito álcool para ser usado nas mãos, após apertar os botões do painel. Percebi uma certa tensão no rosto de um deles, mas fingi não ver. Enquanto nós aguardávamos a porta se abrir, notei que sussurravam algumas palavras um ao outro, o nervosismo era visível, preferiam, com certeza, serem os únicos a fazer uso do elevador.  Os dois traziam nas mãos um vidrinho com álcool e uma caixa de lencinhos umedecidos, achei esquisito tudo aquilo, comecei a rir disfarçadamente, riso de quem não fala, apenas ri. Ali estava um momento para rir à vontade, porém mundo insano, tive que esconder meu riso. O mundo está tão triste, faltam gargalhadas, rir faz bem à saúde, dizem os entendidos, e no dia 18, próximo passado foi o “dia do riso”, sim, houve até poetas que poetizaram o riso.

   A tensão continuava entre eles, apertei o botão, no painel, indicando o andar que eu iria descer, todavia percebi que nenhum deles queria mexer nos botões, então perguntei em qual andar iriam ficar, o mais alto falou com uma voz fininha:- No décimo quinto.

Pensei que voz engraçada para um homem tão encorpado, e novamente a vontade de rir apareceu, tive que fingir uma tosse, foi o meu pior momento, pois eles ficaram apavorados e começaram um diálogo de medo.

-Você me garantiu que estaríamos seguros, e agora estamos entre as paredes do elevador com uma pessoa tossindo.

O que fazer? Pensei em explicar que foi apenas um engasgo, mas não iria adiantar de nada, pois estavam apavorados.

O tempo parecia ter paralisado, alguém havia apertado todos os botões, aí o elevador parava em todos os andares.

Decidi não olhar mais para eles, virei para a parede espelhada, e sem querer vi que um deles abriu a caixinha de lencinhos passou ao outro uns dez, mais ou menos, e disse-lhe:

-Limpe bem sua roupa, pois pode ter ficado algumas gotículas da tosse. Notei que falavam de mim, fiquei calma.

Percebi pelo painel que o meu andar era o próximo, eu ficaria no décimo terceiro. Ufa!

Quando a porta abriu pedi licença e sai, eles mais que depressa saíram também, notei que estavam no andar errado, segurei a porta do elevador e expliquei que deveriam subir mais um andar, eles voltaram, a porta se fechou e tudo certo.

Segui para o meu compromisso, que teria no máximo a duração de uma hora. Passado o tempo fui pegar o elevador para descer.

Adivinhem quem estava descendo também?

Os dois senhores, já meus conhecidos, ficaram estupefatos com a minha presença diante da porta aberta, e, eu sorri para eles, surpresa eu vi que o mais alto devolveu o sorriso, e aproveitou para me pedir ajuda, pois não sabiam como e nem onde parar. Disse-me que já haviam subido e descido, mas sempre em lugar errado.

Senti tristeza ao saber que ainda hoje existem pessoas que não sabem usar um elevador, um mecanismo que parece de fácil acesso.

Eles se colaram à parede, eu fiz o possível para passar segurança aos dois, pois senti empatia por eles. Expliquei como fazer para usar o painel, onde parava o primeiro andar e o térreo, pois desciam no primeiro andar pensando ser o correto, soube por eles que haviam descido e subido várias vezes e ficaram com vergonha das pessoas que iam e vinham. Descemos juntos e nos despedimos, não tive mais vontade de rir, mas de aconchegar aquelas pessoas, que com certeza, estavam sofrendo por medo da pandemia e por não saberem usar um elevador.

19 comentários:

  1. Quem não fica apavorado com medo do covi-19? Existe muita gente, com mais ênfase na província mais profunda, que nunca andaram de elevador. Essa é que é uma grande verdade.
    .
    Feliz fim de semana
    Cuide-se
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. Puxa vida! Ainda hoje há quem não saiba usar elevador? Agora o medo é justificado.Aqui nem entramos quando outra pessoa já está no elevador. A coisa ainda está sem controle...pena. Assim, os risos, só de nervosos,rs...beijos, chica

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  3. Olá, amiga!

    A pandemia traz-nos tantas histórias!...

    Aposto que vai assistir a muitas mais...

    Saudações poéticas!

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  4. Paranoia de todos nõs, quase não dá pra evitar esses comportamentos. E quye bom, ainda foi generosa com eles, também sou assum, gosto de ajudar, principalmente se for idoso.

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  5. Marli, adorei ler seu texto. Entendo o lado trágico, mas como estamos em época que pouca coisa nos faz rir, deliciei-me kkk. O medo assola todos, principalmente as pessoas que não são independentes. Gravam o que ouvem e pegam tudo como verdade. Essa questão da tosse já me fez rir muitas vezes. Quando tusso em meu apartamento, penso que os vizinhos de cima e de baixo devem ficar assustados. Não se pode mais tossir rss. Achamos tão comum andar de elevador que até nos esquecemos dos que não têm esse hábito. O pior é que não fazem as perguntas necessárias, por vergonha. E temos a considerar que alguns painéis são meio estranhos, não identificando, de forma fácil, que letra indica o andar para saída.
    Também sinto vontade de aconchegar quando percebo certas dificuldades enfrentadas por pessoas mais idosas. Minha mãe não enfrentava esse tipo de problema, pois perguntava tudo sem qualquer constrangimento. Grande beijo, querida!

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  6. O medo paralisa até o pensamento das pessoas. Gostei do seu relato.
    É preciso que nos protejamos mas sem exageros...
    Uma boa semana com muita saúde.
    Um beijo.

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  7. OLá, querida Marli!

    Que cena mais caricata!
    A história está mega bem contada e diga-se até com algum humor. Nela encontrei dois fatores: desconhecimento de andar de elevador e medo da pandemia.
    O diálogo deles está bem engraçado, mas lamento a gente estar em 2021 e ainda existirem comportamentos, desse jeito.

    Beijos e saúde. A vacina já por aí anda. Parabéns!

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  8. O nosso cotidiano é imprevisível, Marli!
    "O mundo é composto!..." – minha avó dizia.
    Há um fato novo e diverso, a cada dia
    E tudo se ajeita por si.
    Neste caso, foi por ti,
    Por amor e altruísmo.
    Na vida, segundo eu cismo,
    Errar, também é caminho
    E se aprende sozinho
    Sem regra e sem catecismo.

    Maravilhosa história do cotidiano! Eu como nasci entre humildes pescadores artesanais de descendência portuguesa que há época tinham pouco conhecimento de universos diversos, sinto na alma piedade e uma espécie de vergonha por alguém que paga um mico como esse. Tua atitude foi maravilhosa! Parabéns! Parabenizo também pela maravilhosa narrativa! Saúde, muito amor e paz! Laerte.

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  9. Querida Marli, história, relato maravilhoso, fui com um sorriso até o final, ainda mais quando você inventou de tossir dentro do elevador!!rsssss
    Todos nós estamos com medo, eu penso em hospital já fico desatinada. E o pior é que não sabemos quem é que está junto de nós, seja num elevador, qualquer lugar em que as pessoas se aproximam.
    Adorei a narrativa do entra, sai e dá-se o encontro novamente!
    Adorei, amiga!
    Beijinhos, não tussa mais pelo amor de Deus!! rsss

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  10. Querida Marli, história, relato maravilhoso, fui com um sorriso até o final, ainda mais quando você inventou de tossir dentro do elevador!!rsssss
    Todos nós estamos com medo, eu penso em hospital já fico desatinada. E o pior é que não sabemos quem é que está junto de nós, seja num elevador, qualquer lugar em que as pessoas se aproximam.
    Adorei a narrativa do entra, sai e dá-se o encontro novamente!
    Adorei, amiga!
    Beijinhos, não tussa mais pelo amor de Deus!! rsss

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  11. Que relato tão engraçado e ao mesmo tempo tão desolador!
    Continuação de uma abençoada semana!
    Um doce beijinho!
    Megy Maia😗🌞😗

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  12. Todos podemos ajudar mesmo que minimamente;
    Estamos todos de alguma forma precisados de alguma coisa.
    Adorei ler.
    Boa entrada de mês de fevereiro.
    janicce.

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  13. Boa tarde minha amiga. Seu relato é a nossa atualidade.

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  14. Olá, amiga Marli, fico a imaginar o medo desses dois homens no elevador onde você entrou, num momento em que eles foram surpreendidos com sua tosse. Acho que, se pudessem teriam aberto a porta e saindo correndo. Mas, por sorte deles, puderam contar com sua ajuda para saírem, quem sabe amedrontados.
    Uma bela crônica nos dias tristes em que vivemos!
    Um bom final de semana, com saúde.
    Grande abraço.

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  15. A vida nunca é como nós a desenhamos, pois há sempre algo a surpreender-nos.
    Uma partilha bem sugestiva. Grato.

    Desejo-lhe um bom final de semana.

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  16. O medo já chegava, mas pânico é muito pior. Se juntarmos a tudo isso que a pandemia provoca em situações do género a ignorância de lidarem com o elevador, os velhotes passaram por um mau bocado...
    Bom fim de semana, querida amiga Marli.
    Beijo.

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  17. Verdade, Marli. Acho que todos tememos o Covid, mas alguns exageram! Excelente post, história muito bem contada. Meu abraço, boa semana!

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  18. Olá, querida amiga Marli!

    Não tenho encontrado pessoas no elevador pois não saio a não ser para o médico e nunca com outra pessoa junto
    Sei conto teve muita verdade neste tempo pandêmico. É um fugindo do outro com medo.
    E adorei o humor da sua crônica.
    Bom demais ler algo assim com esse toque alto astral num caso mesmo de tensão.
    Por outro lado, criei um blog novo e aguardo com carinho você por lá, se desejar
    https://flordocampo3.blogspot.com/
    Esteja bem, amiga.
    💐👼🙌🕊️🙏😘

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