Em uma
noite, daquelas típicas de inverno, em que se comemora a festa de São João com
fogos e fogueira, havia muita gente na rua, outras nas janelas de suas casas,
era uma época em que se soltavam balões. As crianças, ficavam ao longe sob os
olhares dos pais, as luzes brilhavam no céu, estouros eram ouvidos a longa
distância.
Uma
menininha de um ano, fora colocada em sua cadeirinha, junto à janela para poder
também, ver o brilho dos fogos e saber o porquê do barulho nas redondezas.
O tempo foi
passando, a alegria era uma só, e a pequena criança sem muito entender, parecia
querer ir lá fora, e junto festejar, juntava as mãozinhas e aplaudia no ar.
Em um dado
momento, a mãe da pequena percebeu um grande clarão, que se fez em sua frente,
não entendeu de imediato, e aos poucos tudo foi ficando escuro e o bebê iniciou
um choro fortíssimo, a mãe, nada via para justificar tamanha dor nos gritos. Sentiu
cheiro de algo queimado, percebeu que a criança apertava desesperada a roupinha
contra o pescoço, foi então, que ela notou que um buscapé (peça de fogo de
artifício que corre pelo chão, zigue zagueando, e termina em um estampido)
estava grudado no pescoço da sua filhinha. Foi um tremendo susto. Nada acalmava
a criança que foi levada às pressas, ao hospital. Era um tempo com menos
recursos. E, assim começou a luta da pequena que sofria tanto quanto seus pais.
O que agravou muito foi ter colado a roupa em uma grande área queimada, a qual
ficou grudada na pele dela e, em um local coberto de nervos e dobras. Cada ida
ao hospital era como enfrentar a dor da morte. E, assim foi por muito tempo,
cada curativo, tudo era arrancado novamente, e continuava em carne viva. Com
palavras não se pode registrar a dor da família. O processo de cura foi longo,
a alimentação da menina, ficou comprometida, pois ela ainda mamava no peito e
não conseguia forças para sugar o leite, a dor a fazia chorar e desistir de
pedir o seu "mamá". Após longo período, a vida foi voltando ao
normal, mas muito lentamente aí, veio outra preocupação da mãe, a enorme
cicatriz que ficaria, e com o crescimento da menina, a marca iria esticar
também e, estragaria seu lindo rostinho. Foi um tempo de muito medo, medo de
perder a filha, medo das cicatrizes físicas e emocionais. O tempo passou, a
cicatriz, por milagre, diminuiu de tamanho, é visível, mas não saiu do lugar,
não quis esticar-se na pele da pequena, junto com o crescimento dela. A mãe
sempre lhe contou como foi difícil passar esta fase repleta de medos, de choro,
de contínuas orações, pedindo a Deus ajuda para aumentar-lhe a fé e a esperança.
Sentia-se culpada pelo acontecimento e pelo sofrimento que quase a fez perder
sua primeira filhinha.
Os fogos de
artifícios não deveriam existir, pois sabemos que eles continuam machucando,
mutilando, trazendo sofrimento a muitas pessoas. Hoje, estou aqui refletindo
como foi difícil a vida do casal, sem poder curtir o comecinho de vida da
primeira filha, penso que todos perderam um bom pedaço de vida, aquele que nos
faz voltar alegres para casa, e encontrar nosso bebê batendo palminhas, fazendo
festa para nós. Sinto saudades da minha mãe, porque sei o quanto sofreu para me
curar, hoje a cicatriz está bem visível, e meu coração cheio de amor e saudades
de uma família guerreira, pai e mãe amorosos e sempre presentes.
Observação:
A mudança da terceira pessoa para a primeira, no final do texto, foi
intencional.
Olá, querida amiga!
ResponderExcluirQue história!
A intencionalidade da troca da pessoa da narração emocionou.
Um fato real que muitos não vêem e a cada ano os casos aumentam.
Por sorte, no ano novo agora, se pensa nos autistas, idosos, crianças, animais...
Que nenhuma mãe passe o que você aqui nos contou!
Nenhuma criancinha merece ficar sem o seu mamá.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos
Puxa, que impressionante conto/relato esse! Imagino a tua dor e a de teus pais e família toda naquele momento e nos tempos que se seguiram.. Hoje a cicatriz restou,. mas ainda bem tudo superado.
ResponderExcluirAgradecer ao Alto!
beijos,tudo de bom, chica
Uma história emocionante e muito bem contada sobre algo inquietante que lhe aconteceu, minha Amiga. Foi um gosto lê-la.
ResponderExcluirUma boa semana com muita saúde.
Um beijo.