13 de jun. de 2013

Coisa de gente grande



            Ontem, fiz uma viagem, o dia estava chuvoso e frio. O ônibus quebrou na saída da cidade, aí nem celular para avisar que o atraso seria maior. A espera de outro ônibus, a baldeação das malas, pacotes, sacolas e meus livros, tudo sob uma chuva fria. Enfim, seguimos viagem. Pensei em chegar em Curitiba e ainda ter tempo para uma boa leitura, esqueci que o tempo come tudo e é inexorável. Quietude, passava da meia noite.
            De repente, ouvi barulhos indecifráveis no apartamento ao lado. Era briga de casal, a qual se tornou intensa, palavrões (daqueles inenarráveis), murros na parede,choro assustado da filhinha deles.Olhei o relógio, como se a culpa fosse dele. Passava de 1h da madrugada, e sei que existe a lei do silêncio após as 22h. A minha raiva e indignação estavam imensuráveis naquele momento. Como vou agir, pensei? Clarice Lispector me deu a ideia, pois ela escreveu em seu livro ( Um Sopro de Vida) que um anjo lhe apareceu e disse que ela deveria fazer tudo sozinha e desapareceu.
            Saí da cama, vesti um casaco sobre o pijama e fui pisando firme, cabeça erguida, mostrando o quanto estava zangada, choro assustado da filhinha deles. Estava um verdadeiro caldeirão fervendo junto com minha raiva pelo roubo do meu sossego. Nem de longe lembrava “O Inferno de Dante Alighieri”, a Divina Comédia estava, naquele momento, sendo destronada.
            
            Quando fui tocar a campainha, veio-me à mente o “tamanho”do vizinho, jogador de basquete com mais de dois metros de altura, uma “mãozada” dele me nocautearia. Eu, hein! Fiz meia volta na ponta dos pés, e fui falar com o porteiro. Repassei o que estava acontecendo, e lhe pedi que tomasse providências, ele me fixou bem,vi que era totalmente vesgo, o que não lhe tirava o dever de acalmar a situação. Indaguei-lhe de outras possíveis reclamações. Ele me olhou torto, literalmente, e me respondeu:- A senhora é do 209?
            Respondi que sim. Aí, ele disfarçou sua inquietude e me disse:- A senhora viu o “tamanho”do morador, seu vizinho?

            Claro que eu sabia, mas quis ser bem corajosa e respondi:- Sim, e o que tem a altura dele com a falta de respeito? Passado um tempo ele me interfonou e me disse que havia resolvido mandar uma notificação ao casal, o que seria no dia seguinte, ou melhor, logo mais, pois já estava amanhecendo.


E a altura do vizinho o salvou de uma bela multa.
            Pensei comigo, preciso crescer mais.

19 comentários:

  1. oi Marli,

    por pequenos ou grandes motivos,
    é que de uns tempos pra cá prefiro morar em casa,
    os apartamentos são constrangedores muitas vezes, e nos obrigam a muitas regras parece que nunca somos realmente donos da casa...

    beijinhos

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    1. Querida Rô,tem razão, morar em apartamento nos dá a sensação de prisão, pois não temos opção de quase nada.Eu,na realidade moro em casa,e quando vou visitar minha filha, sofro com as limitações de morar em espaços que não são apenas nossos. Grande beijo!

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  2. Bom dia minha querida !
    Reflexivo sim seu texto,quase um conto,mais que real nos nossos dias...
    bjs de final de semana !

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    1. Olá Severa, que bom que gostou da minha crônica, assim sei quando estou agradando. Obrigada, querida! Grande beijo!

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  3. Boa tarde, querida. Infelizmente a falta de respeito anda imperando nas relações.
    Eu prefiro casa, não tem esse tipo de aborrecimento!
    Adorei a sua crônica, levou para um lado divertido um assunto tão tristemente sério.
    Beijos na alma e fique na paz!

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    1. Olá querida Patrícia, eu estava com dificuldades para acessar ao meu blog, hoje quando consegui percebi que o texto estava truncado, pois penso que quando publiquei as fotos, o texto ficou desorganizado, o que era para ficar no final passou para o meio do texto. Fiquei preocupada,pois não sei quando houve a confusão de palavras. Só agora consegui acessar e arrumar.Gostei da sua opinião,pois gosto de escrever e você fez a avaliação, obrigada! Beijos e fique bem!

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  4. Gasparzinho23/6/13 18:04

    Otimo texto! Infelizmente, nos dias de hoje, nao ha mais respeito, seja em apartamento ou em casa. Muitas pessoas cometem infraçoes porque sabem que seu tamanho, seu sobrenome, seu poder aquisitivo as acobertarao. E, lamentavelmente, os incomodados e nao os que incomodam, deverao se retirar. Abraços do amiguinho camarada.

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  5. Olá Gasparzinho, você tem razão, pois como ninguém resolve o problema do casal em questão, a minha filha terá que se mudar,pois ela não consegue dormir.Eu tenho escrito crônicas por ser assunto do cotidiano eu consigo desabafar.Quero lhe dizer que estava com dificuldades em acessar ao perfil do meu blog,e hoje, quando consegui percebi, que o texto estava truncado, eu mexi nele sem perceber quando fui publicar as fotos.Fiquei espantada com a confusão que estava, por isso caso queira ler novamente,acabei de organizá-lo. Peço desculpas!Obrigada e grande abraço!

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  6. Tenho casa em São Paulo e aí as leis se cumprem! Não há desatinos e a altura e fortaleza do indivíduo, não manda nada! Os Seguranças e são muitos, comandam tudo. Não há situações dessa natureza, nunca!

    Ter um mau vizinho e essa insegurança mo porteiro, se torna num terror.
    Seu texto é bem explicito e mostra as grandes diferenças na "Cidade que não dorme".

    Em Portugal, onde estou neste momento, a vizinhança não a conheço, mas o ambiente aparente é muito bom!

    Obrigada por a encontrar nos "7degraus". Não sei se a tenho como seguidora, mas eu eu estou aqui, presente!

    Dia Feliz1

    Maria Luísa

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    1. Olá Maria Luisa, tenho visitado seu espaço,mas às vezes encontro dificuldades em acessar diretamente seu blog.Quanto ao assunto da crônica é real e nos deixa muito chateadas (eu e minha filha,quando a visito)e sempre em clima de guerra, parece que a vontade em achar a solução é pequena, e como em Curitiba há muita procura pelos apartamentos pequenos, para uma pessoa ou duas apenas,eles não estão preocupados em nos atender, e tem mais, a maioria não reclama e recai sempre na mesma. Obrigada pela visita e comentário. Grande abraço!

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  7. Amiga Querida.
    Eu morei durante anos em apartamento sempre me sentia presa
    sem contar , que apartamento a gente além de não ter liberdade
    pagamos ele o resto da vida.
    O condomínio pago é como pagar um apartamento o resto da vida.
    Querida uma linda noite beijos no coraçÃo,Evanir.

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    1. Amiga Evanir,você tem razão vivemos a vida pagando por onde morar....Liberdade em apartamento não há nunca, pois a gente escuta os mais leves ruídos.Obrigada pela visita e comentário. Grande abraço!

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  8. CONVITE
    Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
    Eu também tenho um, só que muito simples.
    Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
    Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
    Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
    E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
    Força, Paz, Amizade e Alegria
    Para você, um abraço do Brasil.
    www.josemariacosta.com

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  9. Adorei o texto
    Abraços de Antuérpia

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    1. Olá que bom receber você em meu espaço que agora é seu também. Fico feliz por ter gostado do texto. Grande abraço!

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  10. A crónica é deveras interessante, ficcionada ou não, ela retrata um fato muito dos nossos dias. Gostei do epílogo: há que crescer!

    http://danielmilagre.blogspot.pt/
    Abraço

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    1. Olá Daniel, a crônica é verdadeira. Imagine o quanto terei de crescer,rssssssss. É um fato do nosso cotidiano, o pior quando não conseguimos resolver. Fiquei feliz com sua presença aqui. És bem vindo! Grande abraço!

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  11. Maravilloso lugar!! Te felicito!!
    Y te invito al mio:http://participes.blogspot.com.ar/

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  12. hehehehehe! Adorei! O tamanho de uma pessoa impõe medo, não respeito. E este é fundamental em todos os lugares. Bjs.

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