Menina quieta, magricela, ágil, mas com uma grande mudança no comportamento, passou a ser isolada, muito pensativa e calada. Parecia que não queria que ninguém lhe perguntasse nada.
A mãe sempre lhe questionava:
- Minha querida, o que está havendo, não está gostando de estudar ?
- Nada, mãe, estou só pensando.
- Pensando em quê, minha filha?
-Ah! mãe, nada, nada.
E assim passava mais um dia.
Naquela época, não havia a pré escola, era direto na primeira série.
A menina estava sempre sozinha, seus pais a observavam e quando a interrogavam ela não tinha nada a falar.
As outras meninas eram mais desenvolvidas fisicamente, e a garotinha de 7 anos era mirradinha.
Ela sofria até para carregar a sua maleta com seus cadernos, era quase uma mala.
A mãe havia pedido ao pai que comprasse uma mochila para que a menina pudesse levar seus livros com mais facilidade, pois eram muitos para levar todos os dias.
O pai comprou uma espécie de mala ou maleta ou valise de couro marrom, era um tipo muito usado pelos viajantes, que a usavam para vender a sua mercadoria.
Quando o pai apresentou a mala para todos, na cozinha, a mãe quase chorou, a menina não entendeu nada, só pensou:
- Como vou carregá-la até a escola, pois o caminho era muito longo, e quando chovia o barro dificultava mais a passagem.
Naquela época, usava-se uma galocha, um tipo de calçado de borracha que era colocado sobre os sapatos. Hoje, se falarmos sobre as galochas vão rir de nós. Elas eram muito úteis, pois com as poças de água, os pés se conservavam secos e os sapatos limpos.
Certo dia, a menina voltou com os sapatos cobertos de barro, roupa suja e sem as galochas. Os pais ficaram zangados, pois não era fácil manter uma família com conforto, mesmo sendo simples.
-Menina, onde deixou as galochas?
-Mãe, acho que alguém as levou por engano.
-Como por engano,nem todos têm uma igual as que você tem.
- Vamos até a escola para resolver. E foi arrastando a garota pela mão.
Porém já era tarde e a turma da manhã já havia saído para o almoço, era uma "Escola Isolada". A mãe não podia esperar havia muito trabalho à espera dela, em casa.
Naquela época havia os castigos e a menina recebeu o dela, chorou muito, pois sabia que estava sendo castigada injustamente, mas não podia falar nada.
Na manhã seguinte, a garota nem quis saber de ir à escola, foi quase que arrastada pelo pai, que era enérgico.
Talvez a presença do pai, na escola fez com que a menina tivesse uma trégua, porém, na semana seguinte, a chuva resolveu cair sem parar, ela tinha uma capa de plástico, um material diferente era mais grosso, ela ficava uma graça com a sua capinha de chuva.
Na volta para casa, voltou com a capa, mas sem uma manga e ainda toda suja de barro, era um barro de cor avermelhada.

Sempre acontecem milagres, e não é só nos filmes.
Os pais dela eram donos de um armazém bem sortido, havia de tudo ali, para vender.No exato momento, da discussão chegou o vendedor de bananas, era muito diferente dos dias de hoje, ele era como um empresário, mas que vendia banana. Ele tinha um caminhão de carroceria de cor verde e vinha todas as semanas carregado de cachos de bananas, eram enormes, só eram cortadas em pencas quando o freguês fosse levar.E como vendiam bananas.Mas voltando.....
O vendedor de bananas era muito amigo da família e percebeu o choro da garota e a voz alta da mãe, e perguntou o que havia acontecido.
A mãe desabafou e colocou tudo de ruim na menina.O senhor muito simpático pediu para que a mãe o deixasse falar a sós com a garotinha.
Ela lhe contou sobre uma aluna, muito " grande" de cor escura, usava longas tranças e era muito ruim, ela maltratava a pequena só por inveja do que a menina tinha. ( Na época, ela não tinha nada, de bens materiais que a deixasse mais ou menos feliz, mas ela tinha a família mais linda da face da terra).
Após aquele senhor contar a história aos pais dela, (que ficaram chocados) orientou-os para que tomassem as providências cabíveis em relação ao fato, que levassem ao conhecimento da direção da escola e dos pais da agressora.Hoje, sabemos que naquela época, o bulling já existia, mesmo sem que soubéssemos nada sobre ele, já maltratava (em silêncio) muitas crianças.