14 de jan. de 2015

A palmeira solitária

Quando eu era criança, meu bairro chamava-se Tócos. Meu pai foi um dos primeiros moradores entre poucos a construir aqui. A estrada que hoje é uma avenida movimentada, já foi barrenta, o lamaçal era tão intenso que os galhos e muitos tocos de árvores eram jogados para auxiliar a passagem nos dias chuvosos. Por aqui, passava a boiada também, (da qual já falei anteriormente, em postagens anteriores).
Do outro lado da rua havia, além de uma enorme valeta, com água limpíssima, muitas árvores, pinos, cipós era um verde muito denso e variado. Difícil atravessar, os meninos tinham campo de futebol, que ficava totalmente encoberto por vários tipos de mata. Era lindo. Eu e outras crianças gostávamos de brincar com os chamados pentes de macaco. Fazíamos até barquinhos com eles. Ah! Naquela época, havia uma quantidade enorme de bugios ( um tipo de macaco de cor avermelhada, gritavam muito).
Havia muito ingá, uma fruta que eu gostava de comer e me associava aos macacos (risos). 
Nem tudo, permanece igual para sempre, pois vem o progresso e, aos poucos, o meu paraíso foi se transformando. 
Hoje, o meu bairro, o querido (Tócos ), é o mais populoso do município,  não faltam os comércios, dos quais precisamos. A escolinha é hoje um grande colégio, temos posto de saúde, farmácia,supermercado, barzinhos, igreja  enfim, há o básico para não haver a necessidade de irmos ao centro para quase nada.
A velha estrada barrenta virou uma avenida importante, a avenida João Pessoa. 
O canteiro central com grama, flores, pés de hortênsias ( adoro este tipo de flor ), enfim para um canteiro de avenida estava muito bonito. Estava, eu disse, pois é, porque hoje, transformaram este canteiro central em puro asfalto, no qual o sol escaldante dá para perceber a fumaça de calor subindo e, com certeza, tirando um pouco mais da umidade do ar. 
A ideia de substituição do canteiro central por asfalto já estava sendo cogitada há tempos, meu querido pai ( ainda vivo ), estava sempre cuidando para que isto não acontecesse. Penso que se ele ainda estivesse aqui, quem sabe, o canteiro central, também permanecesse intacto. 
Todos nós sabemos que um simples canteiro de grama é de vital importância, pois a temperatura é mais baixa porque melhora a qualidade do ar. 
Hoje, o canteiro central da avenida é de puro concreto, falta ainda uma tela que será colocada para proteção. 

Há muitas pessoas que dizem estar bonito, mais limpo, porém, penso que tudo isso é  apenas uma questão de conscientização de que somente, nós mesmos poderemos mudar esta situação. 
"O desafio ainda é compreender que há vida em todo lugar e que ainda há muito a ser feito". 
Eu tive uma conversa com o senhor prefeito de Porto União, ele gentilmente me esclareceu que a grama e as demais plantas prejudicavam o asfalto, pois aconteciam infiltrações e, que o gasto para manter a grama aparada, também era alto. 
Perguntei a algumas pessoas que entendem mais que eu, e elas me disseram que o asfalto bem feito tem estrutura para aguentar a infiltração da água, pois já se previne antes disso acontecer. O senhor prefeito me disse: - A única árvore que havia permaneceu lá.
Pois é ficou a palmeira solitária em um quadradinho de grama. Como explicar que não é pela palmeirinha, que eu estava falando mas por uma avenida que cruza a cidade e, era coberta de verde. Hoje é coberta de pedra.
Ouvi, há pouco, os músicos Sá e Guarabyra: - O sertão vai virar mar, dá dó no coração / o medo que algum dia, o mar também vire sertão. 
Nós temos que aprender a pensar no nosso jardim.
"Quando olho para a América e também para a minha terra natal, América do Sul, muitas florestas sendo cortadas se tornaram uma terra que não pode mais dar vida. Esse é o nosso pecado: explorar a Terra e não permitir que ela nos dê aquilo que ela pode nos dar." Papa Francisco.  

33 comentários:

  1. Que visão triste do coqueiro só naquela avenida, e o pior é saber que já foi uma avenida arborizada, mas não aprendemos a cuidar da natureza, só sabemos explorar, explorar, explorar até o dia (talvez já esteja chegando) em que a natureza não vai se vingar, mas desequilibrada, pagaremos muito caro, acho que já estamos pagando, um calor como nunca, chuvas destruidoras, ventos piores ainda, secas e inundações...enquanto isso nossas autoridades usam das mais esfarrapadas justificativas para justificar sua omissão ou encaminhamento completamente equivocado. Lamentável querida Marli.
    ps.Carinho respeito e abraço.

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  2. Seu texto está perfeito e reflexivo demais...
    Apreciamos a chegada do progresso, mas sentimos saudade da nossa infância calma e tranquila, com árvores, frutas, onde podíamos brincar sem receio, nossos pais não temiam a violência!
    Papa Francisco é um sábio e as palavras dele são sempre sensatas!
    Bravo pelo post,amiga!
    Bjus no coração!
    http://www.elianedelacerda.com

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  3. Amiga Marli, cena lamentável, triste, e pior que a todo momento em algum do lugar do planeta estão destruindo o verde. Realmente, sobretudo no nosso falta de conscientização é o grande problema. Pois tenho um amigo, aqui em Porto Alegre, que andou sugerindo a um vereador que se destruísse uma praça tradicional, a qual dever ter mais de um século de existência, repleta de árvores centenárias, para que no local se fizesse uma praça de esportes com quadras para volei, tênis, basquete, etc. Sou um amante do esporte, mas, não aderi ao projeto do meu amigo, o qual por sorte não caiu nas graça do vereador.
    Ah, um canteiro de rua coberto de hortênsias é um barato, um bálsamo para os olhos e para o espírito.
    Um abraço. Tenhas uma boa tarde/noite.

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  4. Boa noite!

    Excelente texto este que aqui li... Parabéns

    Beijos

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  5. Fiquei encantada com o seu blog !!!!

    Voltarei para apreciar sem pressas...

    Abraço, de longe. De Portugal...
    Dilita

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  6. Gostei imenso do teu texto: bem escrito e falando de uma época que já não é mais a tua época. Por vezes dizem que é o progresso mas, em nome dele, cometem-se muitos crimes ambientais.
    Entendo-te. O meu rio também sofreu profundas alterações que não deixo de lamentar, embora reconheça que tornou a cidade muito mais atrativa e chamativa de turistas.
    Frequentemente é preciso tomar decisões: eu própria tive que mandar cortar uma fileira de pinheiros (de que gostava muito) porque os deixei crescer demais e as raízes estavam a danificar o empedrado que é feito de cubos de granito. Até escrevi sobre isso.
    Bjo, querida Marli

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  7. A história prendeu minha atenção até o ponto final.. Que saudade da infância e de um pé de seriguela... Olá minha querida a Ilha voltou mas não tive tempo suficiente para vir te abraçar e anunciar da reabertura, mas agora mesmo correndinho e com um texto copiado, pelo que te peço milllllllllllllll desculpas venho te convidar para o começo das festividades pelos 5 anos de Renascimento da Ilha e já antecipo que vamos novamente ter a brincadeira do Top Blogueiro e outra surpresinha :-) topas brincar? Um enorme beijo no coração e não vamos deixar a blogosfera fenecer.

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  8. Belíssimo texto. Sua inquietação e de milhões de pessoas
    que veem a cada dia a natureza sendo sufocado pelos asfaltos,
    concretos e por mentalidades pequenas como a do sr. Prefeito
    de sua cidade, a quem pouco importa se a humanidade a qualquer
    momento ficar sem ar para respirar. É mais um que está preocupado
    apenas com progresso, e se lixando para a vida. LAMENTÁVEL!

    Grande abraço!

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  9. BOM DIA, COLEGA MARLI!
    QUE LINDO E REFLEXIVO TEXTO E QUE TRISTE E "PELADO" CANTEIRO CENTRAL... DEVERIAM TER PLANTADO MAIS ÁRVORES NO DECORRER DO PERCURSO PARA HAVER SOMBRA, MAIS AR PURO. UMA PENA NÃO TEREM FEITO ISSO, DEIXANDO ESTA PALMEIRA TÃO SOZINHA... :(
    EI! VENHA VER QUE GRACINHA A RESTAURAÇÃO QUE ACABEI DE POSTAR. VOCÊ VAI ADORAR!
    FICAREI FELIZ COM TUA SIMPÁTICA VISITINHA E COMENTÁRIO.
    TENHA UMA LINDA QUINTA.
    ABRAÇÃO PRA VOCÊ! :)

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  10. Bom dia querida Marli..
    pois é.. passam-se os anos e as coisas tendem a roubar aquilo que é da terra..
    achei triste realmente ver somente esta palmeira.. nós na minha pequena cidade temos a prncipal bem parecida com esta.. mas no canteiro central são inumeras flores plantadas.. só acho outra besteira cada pouco trocarem flores ainda tão bonitas .. queimam dinheiro que nem sei..
    outro dia ouvi que eram quase 40 mil mudas para toda a cidade.. alguém tá ganhando sempre né..
    outra coisa que deixa bonito por um lado mas não por outro é o asfalto.. a agua escorre toda..
    prédios e mais prédios e as pessoas só mais doentes isso sim.. grato pelo doce comentário.. é uma obra que comecei a fazer sobre toda a parte de ser mãe.. vamos ver o que vem por ai.. beijos e até sempre

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  11. Gostei de te ler...Um ano de 2015 muito feliz.
    Bj
    Graça

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  12. Bonitas recordações, Marli, como bonita é a infância, esse lugar dentro de nós em que as cores são inapagáveis.

    Um abraço!

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  13. Como faz bem lembrar as nossas raízes, ainda mais com uma árvore, mesmo que solitária, no meio da avenida! abração

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  14. Mariane Boldori16/1/15 12:51

    e assim caminha o mundo, e assim caminha a humanidade. o desenfreado ter e poder, massacrando o ser. no rio de janeiro foram cortadas inúmeras árvores, em são paulo o cinza roubou o lugar do verde e nós apenas reclamamos de braços cruzados.

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  15. Boa noite amiga Marli
    Que cena triste de ver... essa palmeira solitária numa imensidão de concreto. O progresso é necessário mas com um bom planejamento pode-se conciliá-lo com a preservação da natureza. Um texto magnífico minha amiga e pleno de um saudosismo saudável
    Beijos no coração

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  16. Querida Marli, não tem comparação o frio concreto com canteiro gramado e florido. É a desumanização das cidades que vão crescendo. Conheço muitas cidades do interior, daqui, que ainda cuidam de seus jardins, suas flores, o visual mais humanizado das cidades. E isso reflete nos habitantes, mais alegria nos passeios, quando saem etc. Pena isso, depende da visão dos que tem o poder na mão por um certo período. Mas quem "deles" vai pensar nisso? Alguns, apenas. Temos cidades grandes que por serem tão desmatadas, com tanto concreto, que as enchentes têm data certa...
    Grande beijo, amiga!

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  17. Hola amiga. Triste pero cierto la reflexión que haces. Ahora empezamos a darnos cuenta de lo caro que estamos pagando el tan deseado "progreso". Los excesos se pagan, pero todavía podemos actuar aprendiendo de los errores y paliando, en parte, algunas cosas.
    Un abrazo

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  18. A recordação da infância nos traz recordações maravilhosas, lembrei que no fundo do meu
    quintal havia um grande pé de abacate, e éramos acordados por um bem-te-vi. Logo pela manhã era nosso despertador. Com o passar o tempo papai cortou o abacateiro, e o nosso querido bem-te--vi, nunca
    mas foi dar o ar de sua graça. Que pena que a evolução do mundo é sempre mudada.
    Amei seu texto. Beijos, bom final de semana

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  19. Olá Marli.
    Sábias palavras, triste realidade.
    Daqui a alguns dias seremos nós que estaremos olhando para o além a procura do nosso mar que virou sertão e do nosso jardim que virou pedra.
    As postagens de 2015 estão na barra lateral do blog abaixo das postagens populares.
    2015 abençoado, uma semana de paz e luz.
    Um abraço.

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  20. Marli Terezinha Andrucho Boldori, bom dia. Acho, o seu nome, um luxo, só.
    Bom dia, de domingo.
    O seu texto, tem algo em comum, com o bairro, em que hoje, moro em Arari/ma. Lá também, era campo, teso, algodoal, espaços alagadiços. Hoje, passa ali, a principal via da cidade. Avenida Dr. João Lima. A minha mãe, quando faleceu em 2006, era a moradora mais velha do bairro, fomos os primeiros a chegar ali, tanto que conhecemos 90% das pessoas do bairro pelo nome. Lá também, construiram um canteiro central cimentado, o anterior, até 1989, era gramado. Mas, em nome da esculhambação, os administradores Públicos, não levam em conta a opinião do cidadão, que lhes arca com os salários. Os primeiros, 30 metros, do canteiro, é arborizado, os demais, mais ou menos 1000 metros, nem uma palmeira solitária existe. Nada elegante. E em nome de um progresso destruidor, seguimos com esse modelo de feiura. Um abraço, querida.

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  21. Marli
    O progresso sempre terá cabimento em qualquer lugar, até aqui tudo bem. O está menos bem, é o não ser sustentado. A maior parte das vezes, a não sustentabilidade, dá-se em obediência a inconfessáveis interesses económicos, que nunca se coadunam, com os interesses da vida das populações em geral.
    Beijos

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  22. É maravilhoso ter-se reminiscencias agradáveis dos locais onde vivemos, porém, queiramos ou não, lamentavelmente, acabam trazendo decepção causada pela ação do progresso; lembrando Caetano Veloso: "... a força da grana destrói coisas belas..."
    Abraço.

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  23. Bom dia, sempre nos acontece recordar os bons tempos de criança o envolvente que foi vivido, fica para sempre dentre de nós, o desenvolvimento é necessário. este podia ser mais calculado no bem estar e não em termos de custos, o cimento e o alcatrão para além de causar um maior aquecimento, não deixar as aguas da chuva infiltra-se nos terrenos e tem uma manutenção mais barata, quem manda não leva em consideração o bem estar da população ao criar zonas verdes de lazer.
    AG

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  24. Belo e nostálgico texto texto, que me despertou uma saudade inesperada: também gosto muito de ingá... e nunca mais encontrei em lugar algum! :) Belo post, Marli; boa semana.

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  25. Que bom que preservaram a palmeira.
    Canteiro de concreto é para não ter que pagar a manutenção da grama.
    Gramado sem dúvida ficaria muito mais bonito além dos benefícios da natureza.

    Bjs

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  26. Obrigado Marli, por compartilhar esta história. Com certeza, o progresso muitas vezes nos trás muita tristeza. Também já me senti assim. Te entendo perfeitamente. Bj

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  27. Muitas reflexões e, infelizmente, uma triste constatação.

    Grande abraço

    www.lucadantas.blogspot.com.br

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  28. Olá,Marli!

    Bonito texto.Sobre um passado que já se foi e deixou saudades.Mais essa palmeira que parece perdida no meio de tanto asfalto, supostamente em nome da modernidade.Nem tudo o que neste mundo muda, muda para melhor: como a substituição da verde natureza por cenário que no imediato dê mais lucro...Uma da definições de civilização que conheço, estipula que o homem só será civilizado quando devolver à natureza aquilo que dela retirou. O que cada vez menos, por este mundo fora, é o caso...

    Um abraço
    Vitort

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  29. Olá, Marli!
    Ingás, pentes de macacos, córregos com águas limpas... muitas lembranças boas que também são minhas. Mas é assim mesmo, hoje preferem-se os concretos. Mas ainda chegará o tempo em que ha de se preferir novamente o verde das plantas, pena que para isso acontecer, é preciso que antes soframos as consequências pela sua falta.
    Lindo texto. Abraço grande!

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  30. Querida amiga

    O progresso nos roubou
    o sentido do belo.
    O asfalto substituiu as flores...
    Os carros substituíram as pessoas...
    A natureza foi trocada pelo cimento...

    Tenho uma "inveja boa"
    dos que amam e são amados.
    Dos que acordam alegrias
    nos corações.
    Dos que se protegem
    em um abraço.
    Dos que esquecem de si
    para mergulhar no outro.
    Que o amor
    se mantenha assim...

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  31. Há quem pense que o desenvolvimento se faz apenas à custa de asfalto e cimento...
    Mas este pensamento é dominante e à escala mundial.
    É uma pena perderem-se espaços tão simpáticos como o que descreveste.
    Bom fim de semana, querida amiga Marli.
    Beijo.

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  32. Boa semana, Marli. Aguardo o próximo post.

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  33. Minha querida professora, há alguns anos atrás, meu pai falava do bairro "Tócos". Gostei da sua narrativa. Lembranças guardadas em nossas memórias. Bj.

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A carta que nunca chegou

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