16 de ago. de 2017

O Voar do Tempo


Bola de gude, amarelinha, bets, pega-pega, brincadeiras que fizeram parte da infância de inúmeras gerações e, hoje soam como lendas para muitas crianças.
Fico a pensar, enquanto olho à minha volta, até que ponto tanta tecnologia faz bem às nossas crianças nos dias de hoje? Que adultos serão? Quão distantes serão de seus pais ou filhos?
Tudo em demasia faz mal, a tecnologia talvez seja o mal necessário no mundo capitalista, unindo pessoas de vários pontos do planeta.
Esses dias, conversando com alguns amigos, discutíamos justamente isso: saudosismo. Saudades daquele tempo em que o tempo passava mais devagar, quando aproveitávamos mais as conversas durante os almoços de domingo, aproveitávamos mais a companhia da nossa família, quando nos reuníamos nos finais de semana para assistirmos a filmes com pipoca feita na panela. 

Quando lemos histórias de décadas passadas e percebemos que tudo acontecia morosamente, alguns namoros eram por carta, amigos se correspondiam por cartões postais e muitas confidências eram escritas em agendas com direito a cadeados e chaves.
Hoje, o Facebook tornou-se esse diário, cartas e cartões postais ficaram para trás e, em seu lugar entrou o WhatsInstagram e outros veículos mais rápidos.
Não temos mais tempo de esperar a pipoca ficar pronta na panela, colocamos o pacote no microondas e enquanto esperamos os três minutos, lavamos a louça, tomamos banho, mandamos e-mail, respondemos Whats, atualizamos fotos e, quando percebemos, o microondas já está há dez minutos apitando para avisar que a pipoca está pronta.
Às vezes, sinto vontade de ir para um lugar como aquele que nos é mostrado em músicas, descritos em livros ou em algumas telenovelas... a natureza, uma pequena casa e nada mais, sem sinal de telefone, sem televisão, sem conexão com nenhum outro mundo que não seja o meu.
Acredito que é importante fazermos isso para nós mesmos, nos reencontrarmos, nos desconectarmos do mundo externo e reconectarmos nossa alma aos nossos pensamentos.
Não correr atrás de informações, ou tentar abraçarmos o mundo como se tivéssemos capacidade para tanto.
Inúmeras vezes já me deparei com tanto equipamento eletrônico, que eu não sabia qual era qual: TabletNotebookNetbook, computador de mesa, celular, Koobo, sentia-me perdida em meio a tantos caminhos que me levavam para onde eu quisesse, mesmo para dentro de mim mesma.
Hoje, o tempo voa, a vida passa num piscar de olhos, pelo simples fato de não aproveitarmos o que estamos fazendo no momento em que estamos fazendo.
As crianças de hoje conectam-se a jogos, conversas digitais, mas não aos seus pais.
Esses dias uma criança sendo entrevistada respondeu que tinha cerca de dois mil amigos, o que deixou o apresentador boquiaberto, é claro, que o apresentador entendeu do que se tratava, e que ela não tinha dois mil amigos, ela se referia ao Facebook, e ela tinha, sim, dois mil seguidores. Amigos? Pela idade dela, talvez, no máximos seis: seus pais e seus avós.
Esta distorção de amizade acontece há muito tempo, porém muito mais agora, com o Facebook. Quando você atinge um número “x” de “amigos”, não pode mais adicionar ninguém, ou você exclui ou você cria outra página, entretanto, na vida real, tudo é mais complicado, tudo é mais distante, tudo passa longe desse mundo azul ou amarelo.
Essa criança, ainda ingênua, pensa ter dois mil amigos, mas quando o apresentador perguntou se ele poderia ser amigo dela, rapidamente, ela disse:- sim! E deu um longo e demorado abraço nele, é possível perceber ali uma certa carência, e penso ter razão quando disse que, pela idade, talvez ela tivesse, no máximo, seis amigos.
Eu tive uma infância boa, não posso reclamar, conheci muitas brincadeiras feitas em casa mesmo, com o que tínhamos e a diversão era garantida no final do dia, com meus primos e irmãos.
Não sentia falta de um vídeo game, ou um celular de última geração. O nosso telefone era discado e fazia exatamente o mesmo serviço que um IPhone faz: comunicação.
As vizinhas iam às janelas perguntar como estávamos, ou sentávamos nas calçadas para tomar chimarrão. Hoje mandamos emotions.
As crianças saem menos, brincam menos nas ruas e os pais até preferem. Seja pela violência atual ou pelo simples fato deles serem ocupados demais para estarem com seus filhos.  
E a tendência é que o tempo continue a voar, a passar num piscar de olhos.
As tecnologias avançam, descartando cada vez mais brincadeiras caseiras.
A evolução é necessária, principalmente no mundo em que vivemos, mas até onde ela nos torna sadios? Até onde ela não causa danos à nossa saúde física e mental?
Até onde os pais estão preparados para enfrentá-la e saber como agir quando seu filho estiver envolvido em uma teia como o jogo da Baleia Azul, por exemplo?
Vejo discos de vinil e fitas cassetes voltando às prateleiras, penso comigo que não sou apenas eu que sinto saudades dos tempos antigos, que eram bons tempos...
             
Fotos: Google

12 comentários:

  1. Olá, querida Marli!

    Parabéns pela lucidez de seu texto, para além de mto bem escrito, como vai sendo hábito por aqui. Que EXCELENTE "NACO DE PROSA"!

    As crianças, atualmente, não têm de botar a cabeça pra funcionar, e nem o sabem fazer, pke nunca isso lhes foi ensinado. Agora, tudo está à distância de um clique e num pulinho a gente se coloca no país mais distante do nosso, ah, mas a virtualidade é tão plástica! Nada como o real, pke eu posso olhar teus olhos, ver tuas expressões faciais, te tocar, enfim, tête-à-tête.

    A criançada e os jovens de hoje, têm, na sua maioria, famílias destruturadas, sem instrução, educação, princípios básicos e regras, e portanto, tb elas não conseguem ir mais além, pke o mundinho deles é limitado ao uma telinha, a um pequeno retângulo ou a um quadradinho . Está tudo ali, incluindo pessoas, "amigos". Eles não tem horizontes, perspetivas, metas a atingir, pke eles atingem tudo naquela caixinha.
    Que tristeza!

    As redes sociais estão abusando de nós ou nós delas, não sei, mas isso vai ter reverso da medalha, ah, vai, vai!
    Tal como você, eu brinquei com bonecas e comi aquelas gostosuras que a avó ou a mãe faziam e não tinha celular, nem outras gerigonças que tais. Eu já estava na faculdade, 19 anos, qdo meus pais me deram o 1º celular, pouco diferente do k hoje tenho, pke eu não gosto de "coisas" sofisticadas, complicadas, preferindo falar pessoalmente do k telefonar ou enviar sms. Mandei desligar a internet no meu celular e o honmi (rs) lá da operadora me perguntou se eu era já idosa e eu lhe respondi que tinha 100 anos e que não sabia, nem queria usar net no celular, mas eu acho k o cérebro dele, que não funciona, até creditou. Me chega aquela que tenho no emprego e em casa no computador de secretária no meu escritório.

    Qto aos discos de vinil, ainda os usei, pke meus pais tinham mtos, mas depois, surgiram as cassetes e logo depois os CDs, todavia sempre dei valor ao disco em vinil, que há mto não vejo por aqui.

    Beijos, querida e uma boa semana, sem peias no olhar e com inteligência.



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  2. Oi, Marli, nota 10 para essa tua crônica! Não há duvida que a tecnologia, a Internet trouxe muita coisa boa, quem poderia escrever antigamente sem ter o rótulo reconhecido de escritor? Por que mais gente não poderia ser lido e que também teria ideias? Mas o que você se refere é o exagero, o vício enorme! Redes sociais não entro porque não quero me expor tanto. Só dois blogs, amiga! E me bastam. Encontro coisas em comum com meus amigos virtuais que gosto imensamente, que já estão beirando os reais, pois a comunicação é praticamente diária. Não acho ruim essa evolução, acho muito nocivo esse exagero. Trago saudades também daqueles brinquedos de criança, as poucas amigas, mas que na verdade também sumiram após o colégio, casaram, mudaram-se etc, etc. há sempre uma renovação. Diria de outra forma, que guardo recordações, não saudades, pois gosto do atual modelito que fiz pra mim: pouco whatsapp, sem rede social, amigos com coisas em comum.
    Gostei desse teu belo texto, falas numa verdade que temos de encarar. Hoje, a telinha está nos restaurantes, nos teatros, cinemas, paradas de ônibus, dentro dos ônibus, consultórios médicos, hospitais etc. Loucura!!!
    Grande beijo, amiga, gostei muito! Desculpe o tamanho... me perdi!

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  3. Marli esse assunto da sua crônica está sempre em pauta nas conversas que Taís e eu temos aqui em casa, com grande frequência. Tanto ela como eu pensamos nessa mesma direção do seu trabalho. O que tínhamos na infância e na adolescência para fazermos, estudarmos, divertirmo-nos. Tão diferente dos dias atuais. Nossas conversas terminam, quase sempre, com frase semelhante a esta: "Que bom que não tivemos toda essa tecnologia, naquele nosso tempo!".
    Um abraço.
    Pedro

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  4. Maravilhoso texto e aponta exatamente o que se passar hoje3 em dia... Uma pena tantas mudanças...Umas vieram para o bem, outras de jeito algum,... bjs, chica

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  5. Olá, reporta a actualidade que faz pensar, o texto é perfeito.
    Continuação de boa semana,
    AG

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  6. Bom dia

    Adorei o texto, precisamos refletir muito.
    Nossas crianças não brincam, perderam a essência.
    Os eletrônicos dominaram tomando o lugar dos brinquedos. E como dizem ai estamos na geração Nutella rs...
    Tempo tão bom que eu tb tive oportunidade de viver, brincar na rua, ter discos, ter fitas e principalmente ter amigos.

    bjokas =)

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  7. Boa tarde amiga!
    Linda mensagem com belas e sadias lembranças. Muitas dessas brinquei quando criança, minhas filhas nem todas e minhas netas a tecnologia influencia muito. O tempo passa, tudo muda.
    Com desejo de muita paz, para que seu fim de semana seja abençoado, deixo esse lindo pensamento de Roupa Nova “A vida tem sons, que pra gente ouvir precisa aprender a começar de novo. É como tocar o mesmo violão e nele compor uma nova canção”.
    Abraços da amiga Lourdes Duarte.

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  8. Amiga, minha visita hoje é para desejar-lhe uma noite de paz e um amanhecer para um início de semana com saúde e felicidade.
    Abraços

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  9. Todos temos uma réstia de saudade de tempos que passaram!
    bj

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  10. Marli, minha querida!

    Tudo bem? A blogosfera está um pouco paradinha, pke a Europa esteve de férias (rs) e posso mesmo dizer pra você que Portugal "parou" em Agosto. Ontem, por exemplo, fui a uma para farmácia comprar um creme para os pés, com alguma qualidade, pke minha pele é seca e o creme sem ser pegajoso tem de hidratar, convenientemente, só que não tinham nem um, pke em Agosto quase não enviaram produtos, pke as fábricas, os armazenistas, os distribuidores, enfim, todo o mundo esteve de férias. Evidente que todos têm direito a férias, mas que utilizem também os outros meses do ano.

    Aí, está chegando a Primavera, tempo de renascimento, e aqui o taciturno outono. Que tristeza! Detesto essa estação. Que me preencha a escrita!

    Beijinhos e dias felizes.

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  11. Eis algo que também me pergunto sempre, Marli: enquanto avançamos em tecnologia, será que não retrocedemos no saber viver? Lembro o pequeno Príncipe, que ao ouvir sobre a maravilha das pílulas que eliminavam a necessidade de água, possibilitando ao homem o ganho de uma hora por semana, respondeu: "Eu, se tivesse uma hora a mais, para gastar, iria caminhando, pé ante pé, as mãos nos bolsos, à procura de uma fonte.". :) Belo post, boa semana!

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  12. Perfeito, cara amiga Marli, tudo está muito diferente nos dias atuais em relação ao tempo da nossa criancice, adolescência e juventude. Não sei qual é a vossa idade, mas presumo que já passou dos quarenta, pois eu já passei por 65 janeiros e, por vezes fico em dúvida se fatos corriqueiros do passado, de fato aconteceram ou são produtos da imaginação, tal é a disparidade entre aquela época e agora. Tive experiências ricas, no mundo real, nos meus primeiros anos, vivenciando eventos semelhantes aos descritos aqui. Na minha família aconteceu um fato que ilustra bem o contraponta entre as épocas, pois, um primo daqui de Porto Alegre, começou relacionamento amoroso com uma menina de São Paulo por correspondência em 1980. Eles se escreviam quase todos os dias. Se conheceram em 1981, noivaram em 1982 e casaram em 1983. O casal têm dois filhos e vive feliz até hoje. Eis a história do meu primo Nelson Gomes. Velhos e bons tempos. né amiga!
    Um abração. Viva uma linda semana.

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