Nasci no interior do mato
Chão batido, barro vermelho
Terra essa em que a lua guia nossos passos à noite
Lá pelas tantas a mãe pede para que a gente leve a capelinha
na casa do vizinho,
Conforme a ordem da lista de nomes fixada ao lado
Calçamos nossos chinelos cuja alça está presa com um pequeno
prego
No caminho, ouvimos sons diversos
De rãs a cigarras, que entoam canções
Lá no interior o tempo passa mais devagar
As janelas ficam abertas, e o aroma de café feito no fogão à
lenha se torna convidativo
A manteiga derrete na fatia de pão quente, recém saído do
forno
O leite, tirado da vaca de estimação, borbulha na caneca de
esmalte lascado
No inverno o pinhão salpica na chapa, enquanto o pai busca
mais sapê para alimentar o fogo e espantar o frio
Os cachorros e gatos unem-se como nunca antes, e se
aconchegam próximos ao fogo
Levantamos cedo, o assoalho de madeira range a cada passo
para avisar que alguém se aproxima
Olhamos pela janela da cozinha, lá fora a grama branca de
geada, camufla alguns marrecos que ainda não despertaram
No interior os vizinhos se cumprimentam, olham nos olhos,
apertam as mãos,
Querem saber como você está, como anda sua família e o
reumatismo de sua avó
Na terra em que eu nasci carros dividem a pista com
ciclistas e cavaleiros montados em seus cavalos bem cuidados
A rádio AM faz mais sucesso do que a FM
O shopping não resistiu, o teatro antigo virou o antigo
cinema
A locadora do bairro vence os filmes baixados pela internet
O rio une duas cidades, tornando-as gêmeas
A Maria-Fumaça ainda vive nos trilhos
Os passarinhos despertam-nos pela manhã, avisando-nos que
temos que ir trabalhar
Os cachorros, como bons amigos dos homens, são seus
protetores e alertam contra perigos
Na terra de onde venho, a polícia é nossa amiga, e nos
assiste
As crianças brincam de bola de gude nas ruas de areia e
pedra, e os pais as vigiam nas calçadas enquanto tomam chimarrão, passando a
cuia como num bom ritual sulista
Aqui na cidade vivemos como bichos aprisionados em nossas
gaiolas de cimento
Com medo de outros homens, com medo de barulhos, com medo do
escuro, com medo das sombras
Dormimos em camas box, camas grandes, camas cujos colchões
são como nuvens, mas os sonhos são pesadelos acompanhados pelas sirenes,
buzinas, som alto dos carros
Há pratos finos, requintados e sem gosto
Tornamo-nos robotizados
Sem tempo para uma conversa com amigos antigos, amigos que
no interior ficaram
Com medo de um “bom dia”, um aperto de mão mais apertado, um
perguntar “como você está?”
Um mundo diferente, um lugar distante da minha infância
E sigo calada, observando, com medo, trancafiada em minha jaula
de cimento e tinta branca
A noite chega, o dia volta, e tudo segue num ritmo
robotizado
A vida no interior é mais doce, mais justa, mais agradável... Sons da natureza, ar fresco, água bebida direto da fonte.
ResponderExcluirTudo é melhor e mais bonito. Nas cidades de "cimento" somos aprisionados, condicionados a viver uma vida lúdica, cercados por emoções negativas.
Feliz daquele que pode viver no interior, toma café colhido, comer pão assado no forno à lenha, e "prosear" à vontade com bons amigos.
Abraços do amiguinho camarada.
Olá Gasparzinho, lindo o seu discurso sobre a vida simples.Eu, ainda hoje, tenho o privilégio de encontrar quando, quero e posso um cantinho junto à natureza, dormir com o som dos grilos,à noite.
ExcluirTudo se torna mais amável. A "prosa " sempre é boa, e sem o barulhinho do telefone.Amo, meu lugar junto à natureza. Grande abraço, meu amigo!
Nossa, que prosa saudosa e bonita. E quanto de verdade há nas suas palavras. No interior sempre alcançamos o coração de alguma coisa. Lá podemos tocar o silêncio, não é mesmo? Saio mais leve do seu texto.
ResponderExcluirBeijos,
José Carlos, realmente no interior podemos, com certeza alcançar o céu...O silêncio se faz presente em nossa alma e podemos senti-lo.É muito prazeroso poder curtir a natureza. Grande abraço!.
ExcluirMe deu saudades do meu tempo de criança na fazenda...Gostei!
ResponderExcluirGrande abraço!
Shirley, que bom vê-la aqui. a saudade sempre existe quando temos algo para relembrar dos nossos bons tempos de criança. Fico feliz por ter gostado do texto. Grande abraço!
ExcluirAlegre-se a cada nova manhã pense que com um novo dia pode-se começar uma nova vida.
ResponderExcluirMas começar sem medo do que pode vir a acontecer,
viver um dia de cada vez e sempre olhando para frente, simplesmente começar.
Tente se basear no exemplo de um simples amanhecer, embora aconteça todas as manhãs,
são poucas as pessoas que podem testemunhar a beleza que é quando a noite
a noite termina e vem no horizonte o espetáculo do nascer do Sol.
Obrigada pelo carinho desejo um abençoado final de semana .
Beijos ,Evanir..
Eu nasci num lugar assim no coração saudades infinita.
Olá Evanir, que bom que o texto lhe trouxe ótimas lembranças, pois tudo muda em nossa alma quando a recordação é boa. Volte sempre! Grande abraço!
ExcluirNossa se um chinelo for preso com um prego é bem perigoso :D
ResponderExcluirUau, seis! Parabéns, eu tenho cinco! Uma morreu. Eu fico feliz de conhecer uma pessoa tão bondosa, parabéns pelo que faz pelos bichinhos. Tens toda razão, é triste mesmo!
Uma semana maravilhosa!
Olá! que bom receber você aqui. Volte sempre, pois este espaço também é seu. Tenha um lindo final de semana! Beijos!
ExcluirAh que saudade bateu à minha porta com tantas recordações em comum em que as estrelas eram e são os pirilampos( não sei se aí se diz assim...) em vez dos candeeiros, e a relva é o tapete em vez do cimento desumano. Nem medo, nem ruídos, nem a cegueira da ambição.
ResponderExcluirUm prazer enorme passear por aqui Marli e volte sempre que queira. É mesmo para isso que ele existe: com a simplicidade de quem gosta de partilhar coisas fáceis.
Muitos beijinhos
Me gusta mucho como escribes y como sabes relatar.
ResponderExcluirun abrazo
fus
Que grande texto,super bem elaborado!! Nem li tudo porque era muito grande mas vejo que escreveste com sentimento. Quero desejar que o mês de janeiro continue a ser fantástico e maravilhoso para ti!! Muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt
ResponderExcluirUma viagem no tempo que faz sonhar.
ResponderExcluirQue lindo Naco tens aqui!
Beijinhos
UM FINAL DE SEMANA
ResponderExcluirNA PAZ E NA LUZ DE JESUS.
VAMOS LUTAR POR UM MUNDO
MELHOR NEM QUE SEJA EU E VOCÊ.
QUERO QUE SAIBA VOCÊ FOI
E É IMPORTANTE DEMAIS PARA MIM.
CARINHOSAMENTE ,EVANIR.
Meu Deus! Que texto esplendido.... Você me fez voltar a minha
ResponderExcluirinfância no interior. Coisas simples é tão bom, não é mesmo?
Cheirinho de café, chinelo com prego, vizinhos na porta, rádio Am...
Ah viajei com esse texto... Fui pra longe.... Bem longe....
Abraços
Boa tarde,
ResponderExcluirAo ler o seu belo texto, bateu-me uma saudade d minha aldeia e dos meus vizinhos de grande humildade, pureza a sabedoria, hoje tenho como paisagem o cimento armado e a poluição.
Abraço
ag
Muito bom, Marli! Eu já tive a graça de viver no interior, e concordo com cada palavra sua! É como bem diz a música: muitas vezes, somos felizes e não sabemos. Que diferença das nossas cidades! Belo texto, boa semana.
ResponderExcluirOlá amigo, que bom que gostou da minha postagem.Penso que as pessoas que vivem ou viveram em alguma época no interior, sabem dar valor ao que têm , hoje. Obrigada! Bela semana para você também. Abraço!
ExcluirQuerida amiga
ResponderExcluirAs cidades como são hoje,
cercadas de prédios
e de pessoas parecidas com prédios,
na forma de ver o mundo,
e de senti-lo,
são para mm
os túmulos da vida.
Cada dia, um sonho.
É o que desejo
aos que ocupam o meu coração.
Bom dia, Aluisio, realmente estamos vivendo em uma selva feita apenas com pedras e cimento, tudo ao nosso redor é inflexível e gera dureza, dureza esta que se estende até a nossa alma. Obrigada pela visita e comentário.
ExcluirAbraço!
Esse calor humano perdeu-se. Hoje, só lembranças, para quem dele usufruiu. Bjs.
ResponderExcluirMarilene, que bom termos essas belas lembranças da vida simples que aprendemos a viver. Obrigada por sua visita e comentário. grande beijo!
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