25 de mar. de 2017

Olhe para o lado

Era um sábado de sol, o azul do céu cobria a cidade de Curitiba. Um dia propício para almoçar com amigos e compartilhar histórias e risadas.
O almoço em questão fora um pão francês cortado ao meio, com um suculento pedaço de carne. À mesa, uma tigela com diversas frutas à nossa disposição. Pronto, ali estava o nosso banquete.
O dia transcorria, escolhi uma pequena mesa, no canto. Sentei-me, e me preparava para degustar meu almoço, quando ele se aproximou, pedindo para sentar-se comigo. Com um aceno de cabeça, respondi positivamente, pois naquele exato momento mordia um pedaço do meu pão com carne.
Foi quando ele, chamando seu amigo, pediu que ele levasse algumas frutas e um pão com carne a um jovem rapaz que, do outro lado da rua, buscava algum alimento nas latas de lixo.
O senhor, gentilmente, levou pedaços de melancia até o rapaz. Ao voltar, ele sorriu e disse:
- Ele quase levou minha mão junto!
O homem que estava ali sentado ao meu lado, sorriu e seus olhos encheram-se de lágrimas.
Perguntei se estava tudo bem, ele disse:
- Está sim. Sou muito coração mole. Não posso ver pessoas com fome ou com frio. E saber que talvez, esses pedaços de melancia sejam o único alimento que ele tenha o dia todo, me traz desconforto.
Começava ali uma conversa que duraria 4 horas, com frases de otimismo, revelações do passado e volta às origens. Tanto dele quanto minha. 
Foto: Google


Ele me contou muitas histórias, não para se elevar a nível de santo, nada disso... tenho certeza de que Deus manda pessoas para nós, com as palavras e frases certas, quando estamos fragilizados. E foi o que aconteceu. Aquele senhor me contando seu passado pobre, as perdas que teve e que, mesmo assim, jamais perdera a fé. Que a ajuda deve sempre existir, seja material, seja em palavras, seja em abraços ou apenas em olhares compadecidos.
Quantas vezes apenas passamos pela vida sem deixar marcas positivas? Quantas vezes apenas levantamos e não agradecemos a Deus por mais um dia de vida? Quantas vezes observamos seres vivos nas ruas, com frio, com fome, mendigando por algo, qualquer coisa, e simplesmente passamos reto, com olhar de desdém?
Aquele senhor, com os olhos marejados, sentado ao meu lado, não precisava fazer coisas assim. Ajudar pessoas a quem ele não conhece e que, provável, jamais receberá um “muito obrigado”. Mas ele aprendeu que a vida é um ciclo. E o fazer o bem sem olhar a quem tem o seu retorno positivo, leve o tempo que levar, mas o retorno virá. Quantas vezes eu me doei a outra pessoa, nesses anos de vida? Quantas vezes deixei meus afazeres, ou pequenos prazeres para socorrer um amigo? Quantas vezes separei um pouco da minha comida e dei a outra pessoa? Quantos abraços de carinho, olhares de afeto ou sorrisos eu dei às pessoas?
E Deus coloca pessoas em nossa vida com suas histórias, com seus exemplos para abrir nossos olhos e ouvidos. E a sensação daquela conversa ainda perdura e, com certeza, algo se modificou dentro de mim.

8 comentários:

  1. Olá, querida Marli!

    Há corações que têm sempre sol dentro deles, não importa a época do ano.
    Seu magnífico texto é quase que uma lição de vida, pke eu comungo da máxima, que qto mais damos, mais temos.

    Acredito que uma conversa dessas ou uma atitude como a do homem que estava falando com você, tenha te dado uma visão diferente do mundo: afinal, ainda, há pessoas boas, deve você ter pensado, no meio desse mundo cão. Há ainda alguém k se interessa por seu semelhante. DEUS O RECOMPENSARÁ!

    Beijos e um feliz fim de semana, não esquecendo quem de nós precisa.

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  2. Um texto fantasticamente bem escrito! Amei. fazer bem e não olhar a quem.

    beijos
    bom fim de semana

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  3. Marli,amei ler o seu texto e como é bom saber que ainda encontramos pessoas caridosas.
    Doar amor e fazer caridade sempre!É o que o Mestre nos ensinou.
    bjs e um ótimo domingo.
    Carmen Lúcia.

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  4. Que lindo esse encontro e que bom achar pessoas boas assim, dar chance de conhecer...Tantas vezes, nem mesmo nos dignamos de olhá-las.... bjs, lindo fds! chica

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  5. Olá Mali.
    Gostei muitíssimo desta tua crônica, na qual se vê o espírito de solidariedade, o que já está ficando raro no nosso país. Parabéns.
    Um ótimo domingo.
    Abraços.
    Pedro

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  6. Boa tarde, colega Marli!
    Lindo texto, belo encontro. Deus, realmente é especial e coloca pessoas incríveis em nosso caminho. :)
    Ei, moça!
    Tem postagem novinha em "GAM Dolls (2)". Passe por lá e encante-se com mais uma restauração bem bacana que fiz.
    Ficarei feliz com tua visitinha e comentário, sempre tão gentis.
    Te espero por lá, ok?
    Uma linda nova semana e um abração pra você! :)

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  7. Deus abre o momento com as luzes de pessoas que nem conhecíamos bem, surpreende! beijão

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  8. Nem me dei conta que já não vinha aqui há algum tempo!
    Gosto sempre muito de ler as tuas crónicas: bem escritas e com muito conteúdo.
    Neste aspeto da doação, isto é, de ter um olhar no outro pronto para ajudar se estiver ao meu alcance, não há lugar a arrependimento. Quantas e quantas vezes deixei de lado tudo o que fosse do foro pessoal para dar lugar à necessidade do outro, sobretudo na área das crianças e juventude.
    Parabéns, Marli por este momento de leitura.
    BJ

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