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13 de dez. de 2020
Livro As parteiras e seu ofício de "aparar bebês"
30 de nov. de 2020
Escritora afro-brasileira saindo do anonimato
A curiosidade me deixou obstinada para saber mais sobre a história de duas mulheres que foram confundidas por muitos anos, a escritora gaúcha Maria Benedita Câmara (1853-1895), conhecida como Délia e a escritora Maria Firmina dos Reis (1822-1917), da cidade do Maranhão. Entre as duas escritoras há a grande obra “Úrsula, 1854”. Não há explicação para que a autora de “Úrsula”, que hoje é considerado o primeiro romance afro-brasileiro, uma obra pioneira da literatura antiescravagista do Brasil foi confundida com outra escritora, que era gaúcha. “Úrsula” foi publicada no período do Romantismo, e é apontada por uma visão marcante no que se refere ao discurso das minorias no século XIX, há a inovação de um discurso que rompe com a tradicional visão do negro revelada nos romances da época. Maria Firmina foi um exemplo de mulher que teve acesso à educação, mesmo sendo afro-brasileira, pode-se afirmar que a educação foi a forma encontrada para que a autora manifestasse sua visão crítica à sociedade em que vivia. Essa obra foi um ótimo instrumento para que a autora denunciasse as injustiças praticadas livremente em uma sociedade autoritária e patriarcal que, no Brasil, era percebida por alguns intelectuais e, sobretudo, pelas minorias mais afetadas, como o negro e a mulher, e mais pelo fato deste precursor ter partido de uma mulher afrodescendente, e foi o primeiro livro brasileiro a se posicionar contra a escravidão e a partir do ponto de vista de escravos – antes mesmo do famoso poema Navio negreiro, de Castro Alves (1869), e de A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães. Com o passar dos anos, tendo apenas um livro publicado, o nome de Firmina desapareceu, a causa do desconhecimento com certeza foram as denúncias e críticas. “O assunto de que tratava era insalubre demais, uma fala antiescravista em uma das províncias mais escravistas do Brasil. Não a levaram a sério localmente, não queriam ouvi-la falando. E ela não teve como levar seu texto para outros lugares.” Maria Firmina foi esquecida por décadas, sua obra só foi recuperada em 1962 pelo historiador paraibano Horácio de Almeida em um sebo no Rio de Janeiro – e, hoje, seu rosto verdadeiro continua desconhecido: nos registros oficiais da Câmara dos Vereadores de Guimarães está uma gravura com a face de uma mulher branca, retrato inspirado na imagem da escritora gaúcha, com quem Firmina foi confundida na época. O busto da escritora no Museu Histórico do Maranhão também a retrata “embranquecida”, de nariz fino e cabelos lisos, e Maria Firmina dos Reis era mulata, bastarda e não pertencia a uma família opulenta, e foi a primeira voz feminina que registrou a temática do negro com a publicação da obra Úrsula. Esta obra foi editada pela primeira vez em 1854 em São Luís do Maranhão, assinada pelo pseudônimo de “Uma Maranhense”, um recurso bastante utilizado no século XIX, principalmente entre as mulheres e por isso, ela enfrentou o esquecimento da sua obra. Interessante observar que a população de Guimarães sabia que o quadro não era de Maria Firmina, porém ninguém ousava retirá-lo da parede porque fora doado por uma pessoa de grande importância. A professora Régia Agostinho, visitou a cidade de Guimarães, em 2012 durante um trabalho de pesquisa para a sua tese de Doutorado sobre a escritora, e, em 2013 após concluir sua tese voltou à cidade e o quadro havia sido retirado, e como Maria Firmina não deixou nenhum retrato ou desenho de sua pessoa, o engano perdura. Ainda do nascimento até a publicação de Úrsula, em 1854, há várias lacunas, inclusive foram encontradas duas datas para a obra “Úrsula” 1854 e 1859. Um fato extremamente interessante quando Maria Firmina foi aprovada em concurso público, em 1847 para professora de primário, cargo que exerceu até se aposentar em 1881. No momento de receber o título, Maria Firmina se recusou a ser levada sentada em um tipo de madeira sobre o ombro de escravos, uma tradição na época. "Negro não é animal para se andar montado nele", teria dito, e foi a pé. Há muito a ser pesquisado sobre a história dessa escritora, sua obra com 244 páginas, que registra um emocionante romance afro-brasileiro. Ela morreu aos 92 anos, cega, pobre e sem a exaltação merecida.
16 de nov. de 2020
Lançamento Livro - Estrada Azul
28 de out. de 2020
Hoje
Hoje, eu
precisava apenas sair
Andar por
aí, sem rumo, sem direção
Olhando as
paisagens, o verde, o azul...
Sentindo o
vento emaranhando meus cabelos
A brisa
beijando meu rosto
O sol
esquentando meu corpo
Só por hoje,
eu gostaria de apenas caminhar
Sem dizer
bom dia ou olá!
Dar um meio
sorriso, colocar as mãos nos bolsos e andar
Ouvir Deus
conversando comigo,
Através do barulho das águas do rio
Do canto dos
pássaros, ou do som
Que o vento
produz no catavento
Hoje, eu precisava apenas sentir,
Apenas crer, apenas agradecer,
Sem
expectativas, sem esperas, sem tempo...
Andar até
meus pés, cansados, pedirem para voltar
Dar meia
volta, mesmo sem saber para onde voltar.
17 de out. de 2020
Aos Poetas
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Graças ao movimento Poético Nacional, que aconteceu no dia 20 de outubro de 1976, em São Paulo, na casa do brasileiro Paulo Menotti Del Picchia, que era jornalista, romancista, advogado e cronista, escolheu-se esta data para comemorar “O Dia Nacional do Poeta”, apesar de não haver uma lei que oficialize esta data a nível extraoficial, ela é comemorada no Brasil.
Ele foi um escritor brasileiro da primeira geração do Modernismo foi um dos mais combativos militantes da estética modernista.
Às vezes, há uma pequena confusão com as datas, pois alguns calendários trazem a data 14 de março como “O Dia do Poeta”, porém é o Dia Nacional da Poesia, que é uma homenagem ao poeta brasileiro do romantismo, Castro Alves, que nasceu em 14 de março de 1847.
Podemos verificar em diversas matérias, que falam sobre “O Dia do Poeta”, a data trocada e a homenagem feita ao poeta passa a ser para o “ Dia da Poesia” ou vice-versa, pois há semelhança no assunto, porém com datas distintas. Voltemos aos poetas.
Fenando Pessoa em seu poema: O Poeta é um Fingidor diz que,
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Eu gosto de afirmar que o poeta não é um fingidor, mas é um grande mágico, que garimpa as palavras adequadas, e vai com elas construindo versos com os quais nos dá um lindo e magnífico poema, além disso, ele tem o poder de com a sua magia mexer com a fome, a pobreza, os políticos, a educação, e até com a própria poesia, ele luta com as palavras que estão à sua disposição. O poeta também sente a solidão lhe congelar a alma quando nada lhe vem à mente para escrever seu poema, tem a poesia em seu âmago, porém não consegue apresentá-la, aí se sente no exílio, faz expatriação forçada, sente que a solidão lhe força uma retirada para que seus versos não incorporem a tristeza da solidão em seus ledores mais apaixonados pelos seus poemas.
Exemplos de alguns versos repletos de tristeza, do poema: “Solidão”.
Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta. (Vinicius de Moraes)
Como definir um poeta? O dicionário nos dá esta definição simplista:
Poeta é autor cuja obra é impregnada de poesia.
Sabemos que ser poeta é muito mais, apesar de que sua obra é impregnada de poesia, “ele é um ser que vê o que os outros não conseguem enxergar. É aquele que exterioriza sua alma, seus sentimentos, expondo sua sensibilidade. É aquele que toca os sentimentos alheios com sua poesia. É o ser sensível que consegue sentir os mínimos toques do Universo e transmitir os seus sentimentos”.
Sem explicações aqui, para o termo “Poeta” para as mulheres, nada melhor que a própria poeta com seus versos e magia nos explicar.
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta. Cecília Meireles
Somando com mais um exemplo da professora e poeta Lupe Cotrim, com uma estrofe de seu poema "O dúplice".
Ser poeta
é meu resíduo
de tristeza
ao não ser triste.
O motivo de possuirmos uma data para comemorar “O Dia do Poeta” é o escritor Paulo Menotti del Picchia como vimos acima, nada mais justo
que registrarmos um poema dele aqui.
Noite
“As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente”.
Machado de Assis dá uma bela definição de ser poeta:
“Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, estórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias, sucessos, sentimentos e pensamentos. Se definir é se limitar. Você é um eterno parênteses em aberto, enquanto sua eternidade durar”.
Parabéns a todos os poetas!
3 de out. de 2020
Momentos de inseguranças
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Ainda em época de pandemia parei para analisar
o que já passamos nesses meses de isolamento. Jamais esperava que fosse durar
tanto tempo, mesmo conhecendo um pouco da história das pandemias, que
aconteceram no passado, não tinha a mínima ideia de como seria essa, que
vivemos. De repente, me vi confinada, distante dos meus filhos, o que ainda está
sendo um desafio, porém, há pessoas em situações piores, há muitos que passaram
por demissões, outros estão com o emocional abalado, lutos profissionais, luto
por morte de pessoas, luto pela morte na família, a dor de não poder velar ou
ao menos dizer seu último adeus a quem morreu.
Porém, subitamente nos vem o pensamento: “Ah! Agora terei tempo”. Vou escrever
muito, vou ler os livros que estão à espera, vou fazer curso de inglês,
espanhol e aí, percebemos que a nossa aspiração e as ideias foram embora ou quem
sabe também se isolaram, e nos perguntamos: para quem vou escrever para quem
vou ler? Porque, infelizmente não aprendemos a viver com nós mesmos.
Aí vêm
todos os tipos de cobrança da nossa consciência e lembramo-nos de Drummond de
Andrade dizia: -“Amanhã eu recomeço”.
Sabemos que
tudo vai passar, mas também que vai ser difícil se estruturar, pois dentro disso
tudo, além da pandemia, há o momento caótico da política, saúde, educação e demais
áreas importantes a cada cidadão.
Ouvimos muito a pergunta: sairemos melhor
dessa Pandemia? Melhor não, mas com certeza, diferente, pois muita coisa mudou.
Quanto tempo perdemos em nossas vidas
esperando para sermos felizes apenas nos finais de semana, com certeza, você já
ouviu um colega de trabalho, um amigo, ou até um estranho na fila do mercado
dizendo, com o tom de resmungo, num final de domingo: “ah, amanhã já é
segunda-feira?” E quando lhe perguntam: O que você fez no final de semana?
-Ah! Aproveitei para dormir. Pois é, não é
este o assunto desta crônica, mas se formos refletir nós dormimos um terço de
nosso dia, o que dará no final dos setenta e cinco anos, por exemplo, teremos
dormido por vinte e cinco anos. E agora em época de pandemia ouvimos muito:
estou tendo insônia com muita frequência e vivo ansioso. Podemos dizer que há
um trauma coletivo, muitos não conseguem dormir.
Estamos sempre esperando um determinado tempo
para sermos felizes, o problema é que não pensamos que esse tempo pode não
chegar, é nítido, num ambiente de trabalho, o humor mudar conforme a semana
corre. Na sexta-feira, o clima de festa contagia a todos. Sorrisos,
brincadeiras, músicas e até colegas dançando na cozinha, enquanto esperam o
café ficar pronto. Porém, e se esta for a sua última sexta-feira, que poderá
sair livremente, ir à balada, ir à praia, viajar com a família ou amigos,
última sexta-feira que poderá sair de casa, pegar condução para ir ao trabalho,
sair para assistir a uma peça de teatro, comer livremente um cachorro-quente? E você sempre espera pelo próximo final de
semana, esquecendo que todos os dias devem ser vividos, sentidos ao máximo. E
se, na próxima sexta-feira, você se encontrar acamado, em um hospital, a
sexta-feira ainda será mágica? Devemos ter a consciência de que não somos
eternos aqui na Terra e que, de pronto, sem esperarmos, somos levados daqui
para o plano espiritual. E, nos é arrancado lar, família, posses e aquele café
que tomávamos na cozinha sexta-feira, passada. Não sei se é algo cultural, mas
o final de domingo e a segunda-feira sempre foram vistos como tediosos,
deixando as pessoas mais caladas, mais introspectivas e menos “felizes”. Interessante
que hoje, com a pandemia para muitas pessoas, todos os dias são sextas-feiras e
domingos. Cantemos, dancemos todos os dias. Celebremos algo que nos foi
emprestado e que será tomado de volta a qualquer momento: a vida terrena. Não
deixemos de sonhar e ansiar o futuro bom, mas vivamos a realidade do agora, que
para muitos, não existe mais. Glorifiquemos as horas, os instantes e todos os
dias, sejam segundas, terças ou sextas-feiras. Todos têm sua magia, pois ela
depende apenas de nós mesmos. Devemos reverenciar a vida a todo o momento, pois
Deus nos dá novas chances todos os dias.
“Acreditar
no impossível é uma forma de renovar a fé”.
5 de set. de 2020
Pequenos frascos, grande fragrâncias
Lembro-me de que era uma tarde fria de outono, dessas em que as árvores ganham tons amarelados, avermelhados, tons maravilhosos, quando as flores se desprendem delicadamente dos galhos, e caem de uma forma majestosa, sobre as calçadas.
Eu estava
sentada em um banco de madeira, pintado de branco o qual, contrastava com as
folhas caídas no chão.
Admirava as
pessoas nos pedalinhos indo e vindo pelo enorme lago do parque, quando um
senhor se sentou ao meu lado. Educadamente pediu licença, colocou seu chapéu no
braço do banco, cruzou as pernas e abriu um pequeno livro.
Confesso que
fiquei curiosa para saber o título do mesmo, mas a vergonha foi maior, não
consegui ir além de um leve consentimento de “pode sentar” com a cabeça.
Fiquei por
ali mais uns cinco minutos e decidi ir para casa, o frio estava começando a
congelar as pontas dos meus dedos.
No dia
seguinte, o sol me acordara cedo, como era sábado, queria aproveitar para fazer
algumas coisas que durante a semana não tivera tempo.
O parque
cortava caminho e diminuía passos, além das belezas naturais que sempre tiravam
o meu fôlego quando parava por alguns instantes para admirá-lo.
Na volta,
com algumas sacolas a mais, decidi me sentar um pouco, não havia calculado ao
certo o peso de cada uma, e estava cansada.
Alguns
minutos depois, enquanto meus olhos se entretinham com patos buscando comida
sobre a água, uma voz familiar me cumprimenta pedindo licença para se sentar.
Prontamente
trouxe as sacolas para perto do meu corpo, e o conhecido senhor sentou-se,
colocando seu chapéu sobre o banco, cruzando as pernas abriu o pequeno livro. O
mesmo de ontem.
Olhei de
canto de olho, percebi que a capa era branca e o livro era pequeno e fino,
pensei comigo: deve possuir umas dez
páginas.
Mas, minha
olhada de canto foi percebida, e sem tirar os olhos do livro o senhor me
perguntou: - Conhece o Pequeno Príncipe?
No momento
corei, ele havia percebido minha indiscrição. Senti-me tola por não ter
perguntado o nome e sim, esperado ele perceber minha curiosidade.
- Já ouvi
falar, sim senhor.
- Eu já li
esse livro 156ª vezes, ele continuou, e sempre que o leio, é uma nova surpresa
para mim. Amadurecemos, a visão muda sobre muitas coisas, inclusive sobre uma
obra tão rica como essa.
Analisei
rapidamente aquele pequeno livro que o senhor tinha entre as mãos. Sem exageros,
posso afirmar que as mãos dele eram quase maiores que o livro, que ele dizia
ter lido tantas vezes.
-
Desculpe-me, eu já ouvi falar, mas sempre pensei que fosse um livro infantil.
Lembro-me até dos desenhos que passavam sobre ele.
- Não, não,
engana-se. Esse livro é tão profundo que, após lê-lo, mesmo pela "157ª" vez, ele
causa mudanças em minha forma de analisar, agir e pensar.
- Percebo
pela sua fisionomia que não acredita em mim. Façamos o seguinte:- fique com o
livro, daqui a uma semana, encontre-me neste mesmo local e voltamos a
conversar.
No momento,
me neguei a aceitar tal proposta, aquele senhor emprestando seu livro, tão
precioso para ele. Mas ele insistiu, deixou-o sobre o banco e partiu.
Eu não sabia
seu nome e nem ele o meu. Peguei o livro, abri em uma página qualquer, muitas
marcações, palavras destacadas, pensei: - isso será interessante!
Desafio
aceito.
Fui para
casa, por incrível que pareça no caminho todo em pensava naquele pequeno livro,
sem entender ainda como ele transformaria minha vida, ou pensamentos, ou forma
de agir.
Arrumei as
compras. Olhei o relógio, eram três da tarde. Pelo tamanho do livro, calculei
que em meia hora já o teria lido e guardado na sacola para devolvê-lo, no
sábado seguinte.
Fiz um pouco
de chá, ajeitei-me na poltrona e lá fui eu para a primeira página, e a mágica foi acontecendo, página após
página, e 96 páginas depois, o livro chega ao fim. Olhei para os lados, a
sensação foi de ter saído das profundezas do oceano dentro de mim mesma.
Turbilhão de
sentimento, estrelas, rosa, planetas, esperança, amor, saudade, tudo misturado
dentro de mim querendo explodir. Eu precisava encontrar aquele senhor,
precisava lhe contar tudo isso, precisava mostrar ao mundo do que aquele
pequeno livro era capaz!
Eu não
queria que ele tivesse acabado eu queria mais folhas, mais palavras bonitas,
mais conselhos, mais verdades, eu queria mais do que o mundo oferecia naquelas
poucas folhas.
Foi preciso
um estranho se aproximar de mim, para eu conhecer algo tão precioso que estava
acessível o tempo todo e nunca fora percebido por mim, talvez por preconceito
ou ignorância.
A semana passou,
voltei ao parque, ao mesmo lugar para
entregar o livro ao senhor desconhecido.
E lá estava
ele, no mesmo banco, com o chapéu em suas mãos. Quando me aproximei ele sorriu.
- Não
precisa dizer nada, seus olhos mudaram desde a última vez em que eu a vi. Seu
rosto, seu semblante está iluminado. O livro funcionou para você.
- Funcionou?
- Eu sempre
ando com um exemplar desse livro em busca de pessoas que precisam dele. Percebi
que você era uma delas. Mas na primeira vez não teve coragem de se aproximar e,
eu respeitei seu espaço. Na segunda vez, percebendo que você estava observando
e tentando descobrir a capa, o nome, eu o aproximei de você. Esta é a magia do
Pequeno Príncipe, ele convida as pessoas para ler, e transformarem um pouco
suas vidas como ele fez comigo e com você.
Fiquei
admirada com aquelas palavras. Aquele senhor fazia uma corrente do bem,
emprestando o livro para pessoas que, sem perceberem, estavam anestesiadas na
vida. Sem a real e total perspectiva.
Estendi a
mão para devolver o livro, mas ele recusou e disse:
- Passe-o
para outra pessoa ou guarde-o para você. É seu.
Colocou o
chapéu, apertou minha mão, sorriu e seguiu seu caminho.
Até hoje não
sei o nome dele, mas ele sabe o bem que ele me fez ao me entregar aquele
pequeno e tão grandioso livro.
6 de ago. de 2020
Vida e Morte
Morte assunto difícil de ser abordado, mesmo sabendo que a qualquer minuto, hora, dia ou mês ela virá nos levar. Podemos fazer uma analogia com o nosso nascimento, quando ficamos por nove meses no útero de nossa mãe, que é um lugar quietinho, quentinho, literalmente, um ninho onde recebemos alimento na hora certa e cuidados necessários para a nossa sobrevivência futura.É o nosso mundo, o único que conhecemos, é repleto de boas e únicas experiências. Passado o tempo, o corpo da mamãe se prepara e nos ajuda a sairmos ou melhor somos expulsos, levados para fora sem ao menos sermos questionados sobre a nossa vontade em ali, permanecer, no aconchego do nosso único e conhecido mundo. De repente, nos vemos em um lugar barulhento, repleto de luz, dor pelas palmadas e o choro é o que nos resta.
Passado algum tempo nos sentimos acarinhados pelo papai e mamãe, que nos dá o seio e nos descortina aos poucos todas as surpresas que prepararam para nos receber. Claro, que estamos falando em uma família estruturada e um lar, então aquele mundo que foi só nosso, (útero),o qual pensávamos ser o único, onde tínhamos tudo acaba sendo esquecido, nem cogitamos para lá voltar.Semelhante, a morte nos leva sem nos questionar, ela ainda é tida como um tabu, muitos já foram vencidos, porém a "Morte", ainda traz grande mistério e medo. As crianças são poupadas em velórios, os pais as querem longe dos que morrem, nem conseguem dizer seu adeus, porém se elas fossem acostumadas aos velórios, entenderiam melhor o significado de "está junto de Jesus".14 de jul. de 2020
Proibiram-na de viver
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Hoje, a
tristeza veio me visitar, lembrei-me com muita saudade de uma amiga muito próxima,
da minha adolescência e juventude. Ela era muito bonita e vivia com muito
entusiasmo pela vida. Estudamos juntas até o curso superior aí, ela casou e
assim ficamos mais distantes, porém eu sempre estava bem informada sobre a vida
dela, assim como ela sobre a minha.
Ela era
professora em duas escolas, fazia os três períodos, dizia que logo diminuiria o
número de aulas, para aproveitar mais a vida em família, pois ela já tinha um
bebê, porém, nunca conseguiu diminuir o número de aulas, pois outro filho
nascera. O marido não dava conta de tudo sozinho, ela nunca reclamava, porém já
não vivia com entusiasmo de outrora. Certa vez, viajei para a cidade dela,
marcamos um café, foi maravilhoso, pudemos conversar muito e relembrar muitas
coisas, que vivemos juntas. Os filhos já estavam na faculdade, mas ela ainda
continuava a trabalhar nos três períodos, estava feliz, pois faltavam apenas
dois anos para sua aposentadoria, tinha mil planos. Ainda gostava de falar
sobre tudo. Disse-me ela, que os filhos eram maravilhosos, mas também gostavam
de chamar a sua atenção quando ela falava demais à mesa, riu muito, disse-me
ainda, que sentia vergonha quando pediam que ela não falasse sobre alguns
assuntos, como doenças, morte e outros assuntos, porque a eles não interessava.
Então ela riu e me disse:- Pior é que estes são os assuntos que me restam e
acabou rindo muito, talvez para não chorar. Perguntei a ela, qual foi a atitude
dela perante isso? Ela me respondeu que agora ela come junto com a família,
todo final de semana, o que ela mais gosta, mas fica calada ou fala apenas o
essencial. Meu peito parecia doer demais depois que ouvi a história da minha
amiga, ela precisava desabafar e o fez comigo, fiquei muito triste, pois ela
nem percebia o quanto estava sofrendo calada.
Houve a
despedida. Fui caminhando e analisando a situação, ela, uma mãe dedicada,
professora exemplar, esposa esforçada e que estava aos poucos se calando,
devido à proibição velada dos filhos. Uma mulher cheia de energia, nunca deixou
faltar nada a eles, ela que estava sempre de bom humor, sorria cheia de vida,
estava ficando quieta, comigo ela desabafou, porém parece que ela aceitava como
normal não poder falar o tanto que gostaria e participar mais da vida dos
filhos, das conversas, das risadas.
Os almoços
de domingo, com todos à mesa, não podiam faltar, pois era neste dia que as
conversas eram divertidas e todos participavam das notícias.
E, assim passou mais um tempo, quando recebi o telefonema de que a minha amiga havia falecido. Fiquei chocada, paralisada, lembrei-me da nossa conversa, dos planos, e ela nem chegou a se aposentar. Pensei: Será que a tristeza recolhida na alma, ajudou a minha amiga a ir embora, antes de realizar seus sonhos?
Cheguei
quase atrasada para o enterro, o caixão já estava sendo levado.
Chorei silenciosamente e pensei:
Conseguiram
calar a minha amiga para sempre.
Será que
eles têm noção disso?
25 de jun. de 2020
Bom coração
Lembro-me da
minha infância, com muita saudade, quando vivi momentos únicos e que trago comigo, até hoje. Deles tirei bons aprendizados
consequentemente, maturidade.
Os Natais
tinham outro sabor, literalmente, os doces, mais especificamente: o beijo
baiano, aquelas bolachas redondas, cobertas com chocolate e, que nenhuma
pessoa, que utilize prótese dentária, ousa morder.
Porém,
quando elas chegavam para nós, os três irmãos, filhos de um casal de
comerciantes, era a maior alegria, ao abrirmos o pacote, lembro que a pequena
sala, de chão de madeira, recendia o aroma vindo daquelas bolachas.
Meus irmãos,
e eu, aprendemos cedo o que era trabalho, o quanto era importante a
responsabilidade, e o que deveríamos esperar da vida.
Nada nos era dado gratuitamente, o que
tínhamos era com o árduo trabalho do meu pai e de minha mãe, mas um fato específico
é vívido em minhas melhores lembranças de um passado tão diferente, tão distante
da atual realidade juvenil, em nosso país.
Um par de
chinelos gasto pelo tempo de uso.
Suas tiras
eram vermelhas, se não fossem de borracha, diria a vocês que elas brilhavam, tamanho
cuidado e higiene que eu tinha com ele, o meu velho e único par de chinelos, o
qual ficava sempre do lado de fora da porta, pois como eu o utilizava para meus
afazeres externos, não era comum entrarmos em casa com o mesmo calçado, assim deixávamos
os calçados sujos, do lado de fora da porta.
A noite passou, noutro dia, minha mãe pediu
para eu levar o leite até o vizinho, eram duas garrafas, e a casa ficava a uns
dois quarteirões da minha.
Peguei as
garrafas, coloquei-as na cesta, cobri com um pano, e abri a porta.
Fui pronta
para calçar os chinelos, mas meus pés
encontraram
apenas o vazio, sabem aquela sensação desconfortável, como se um buraco no chão
se abrisse, e você fosse caindo sem conseguir se agarrar em nada?
Meus
chinelos sumiram. Exclamei em meus pensamentos, jamais aconteceu algo assim
aqui, por isso, confiávamos em todos, mas, sempre há uma primeira vez para
tudo.
E justo
comigo!
O que diria
aos meus pais? Como iria entregar as compras?
Não podia me
dar ao luxo de perder um calçado, não naquele momento, em épocas de vacas
magras, como costumeiramente dizíamos. Eu tinha responsabilidades, e precisava
entregar a encomenda.
Não
poderíamos perder mais uma venda, a única opção foi calçar os sapatos de ir à
missa, isso ou a galocha, que era utilizada para ajudar meu pai, na lida com os
animais no pasto.
Entrei em
casa sorrateiramente, pois não queria que os olhos da minha mãe fossem diretos
para as garrafas de leite, ainda em minhas mãos, calcei os sapatos e saí.
Indagou-me :-Em
um dia tão lindo, o que a aborrece?
Não conhecia
aquela senhora, não ia contar algo tão íntimo a ela.
E, se ela contasse à minha mãe?
Apenas abanei a cabeça e segui meu caminho.
Na volta,
ainda incrédula, pensava em como contar sobre o meu descuido. Quando olhei em
volta, vi um menino, deveria ter uns quatro aninhos.
Corria de um
lado para o outro, camiseta suja, com vários rasgos, um calção marrom escuros cabelos
rapados, ele sorria e corria era uma
risada tão gostosa, que por um momento eu esqueci o que havia acontecido.
Com certeza,
este menino não era dali, pois na época, meu bairro era pequeno, e conhecíamos
a todos.
Talvez algum
migrante que passava por ali, mas, ao olhar para baixo, e perceber o que havia
em seus pés, congelei.
Os meus
chinelos, agora já sujos de terra, em seus
pequenos pés
,na hora, meu sangue ferveu.
Ele era uma
criança, mas precisava saber que o que fez não estava certo.
Aproximei-me:-
Olá, menino, venha aqui!
Ele parou me
olhou, e chamou pela mãe.
Uma senhora
veio lá do fundo enxugando as mãos no velho avental:- pois não? Ela indagou.
- Senhora,
desculpe incomodar, mas os chinelos que o seu filho está usando são meus, e,
tenho certeza disso.
Ela não
sabia o que dizer. Pediu para o filho entrar.
Então,
aproximou-se da cerca, e disse:- Desculpe! Eu não agi certo.
Chegamos ontem, viemos de muito longe. Estávamos com fome, sede, cansados, caminhamos muitos quilômetros, outros conseguimos carona. Sei que a moça não tem nada com isso, mas só Deus sabe o quanto foi difícil para mim e meu filho chegarmos aqui com vida.
- Eu
entendo, mas pegar sem permissão não é o caminho – argumentei.
- Eu sei,
porém, o meu menino, esse que você viu correndo, nunca tinha visto um calçado
assim. Eu nunca pude dar a ele algo assim. O pouco que temos, mal dá para a
comida, e quando passamos em frente a sua casa, ele garrou (sic) os chinelos e
não quis mais largar. Eu juro por Deus, nosso Senhor, que eu ia hoje, lá falar
com vocês. Consegui por um milagre essa família aqui que abrigou, eu e meu
filho. Estou trabalhando agora, e vou pagar tintin por tintin pelo seu chinelo. Mas, por misericórdia, não
o tira do meu menino, não!
E, de
repente, lágrimas começaram a molhar o rosto daquela mulher.
Ali estava uma mãe, desesperada, que passara por muito sofrimento, com um filho pequeno e, sozinha no mundo. Só Deus sabia o que ela estava sentindo.
Retirei o
pequeno pano que cobria as garrafas de leite e, ofereci para secar-lhes as
lágrimas. Constrangida, ela agradeceu. Apenas pediu, encarecidamente para que
eu não contasse nada à patroa dela, senão ela perderia o emprego.
- Está tudo
bem, fique com o chinelo. Não o tirarei do seu filho.
Abaixei-me,
peguei a cesta, e continuei rumo a minha casa.
Quando uma
voz já conhecida me chamou. Olhei de canto de olho, era aquela senhora de
cabelos brancos e xale nas costas, que conversara comigo, há pouco.
Ela falava
baixo, não queria ser notada.
- Olá,
menina. Agora entendi o motivo de sua tristeza. Ouvi toda a história.
Abaixei a
cabeça.
- Não se
envergonhe, disse ela. Você só tinha esse par de chinelos?
- Essa
mulher com quem você acabou de conversar, nunca soube como é a maciez de um
chinelo como o seu, só tem calos e bolhas nos pés, mal escondidos por um sapato
velho e rasgado. Seu pequeno, o menino, que há pouco sorria e se divertia,
nunca teve o prazer de experimentar a leveza da borracha protegendo as solas
dos seus pequenos pés, da ardência do chão.
Essa casa é
minha, era de minha família, voltei morar aqui ontem mesmo, e recebi essa
senhora e seu filho porque preciso de ajuda, mas eu não conhecia a história
dela, ainda não tive tempo para conversar.
Vamos fazer
uma coisa? Venha comigo ao armazém da vila, vamos comprar roupas e sapatos para
essa mãe e seu filho! Ela estava tão empolgada, que eu não tive como negar.
Apenas
passei em casa e tranquilizei minha mãe. Entreguei o dinheiro do leite e segui
com a bondosa senhora.
Ela comprou
muitas roupas, voltamos, o sol estava se pondo.
- Gostou da
nossa tarde, menina?
- Muito! –
exclamei.
- Espere,
isso é para você.
Olhei para a
mão da senhora, uma caixa amarela se destacava.
- Tome,
abra!
Abri,
dentro, um par de chinelos.
Olhei para
ela, devolvendo a caixa, pois não podia aceitar.
- Você vai
aceitar. É o meu presente para você. Aprenda: quem ajuda, é ajudado.
A Lei Divina
é assim. Hoje, você sairá daqui com uma lição apreendida: a vida é um ciclo.
Ninguém que
dá amor recebe pedras você aceitou as desculpas daquela mãe, e deu o seu único
par de chinelos àquele menino. Devolvo os a você!
O porta-retratos
Foto do google Era quase uma da manhã, lembro-me que estava inquieta naquela madrugada, talvez pelo vento, que fazia o galho bater...

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