É de conhecimento público que o sertão nordestino sofre
todos os anos com estiagem e descaso dos políticos deste País.

Muitas regiões e cidades são esquecidas por completo pelo
poder público.
São tratadas como se não fizessem parte do mesmo país, como
se fossem um estorvo, um mau agouro.
Muitos documentários já foram feitos e exibidos, muitas
músicas, muitas crônicas e poemas.
Não há interesse, não há comprometimento, não há auxílio,
não há mão estendida para parte do nosso povo.
Como se eles tivessem cometido o pecado de terem nascido.
O homem sertanejo não quer esmola, não quer migrar para São
Paulo, ele quer ficar na sua terra, cuidar da sua família e tirar seu sustento.
Um mesmo país, mas tão diferente...!
Luiz Gonzaga foi um dos responsáveis por trazer, em forma de
canção, as mazelas do sertão. Além das suas músicas que alegram as festas
juninas e as danças típicas do nordeste, ele conta como é a vida do homem
sertanejo, suas dificuldades, e como ele tenta, a todo custo, trazer de volta
sua dignidade há tempos rachada junto ao solo do sertão.
Este capitalismo selvagem que faz das pessoas robôs sem
interesse nos problemas de seus semelhantes, principalmente quando esses
problemas estão no outro lado do País.
Este capitalismo que constrói estádios dignos de primeiro
mundo em Recife, e na cidade ao lado as crianças tomam água com barro
misturadas com açúcar.
E os irmãos sertanejos vão definhando e os que sobrevivem
mantém a esperança de que o próximo governante olhará para eles com respeito e
fará valer sua posição política.
Luiz Gonzaga é conhecido como o rei do baião, mas com sua
sanfona ele foi muito além das músicas festivas, trazendo à tona um pedaço do
Brasil que precisa ser olhado com respeito e com hombridade pelos políticos.
Vozes da Seca
Luiz Gonzaga
Seu doutô os nordestino têm muita gratidãoPelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos